SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A agência de avaliação de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota de crédito da dívida do Brasil de “BB” para “BB-“, ou seja, está agora três degraus abaixo do grau de investimento (concedido a países que são considerados bons pagadores). O atraso nas reformas e as incertezas sobre a eleição presidenciável deste ano estão entre os principais fatores que pesaram na decisão da agência.

“O enfraquecimento da nossa avaliação sobre o Brasil reflete um progresso mais lento que o esperado e o fraco apoio da classe política do país para implementar uma legislação significativa para corrigir em tempo hábil a piora fiscal”, afirma a S&P. Ela cita como exemplo a aprovação da reforma da Previdência, que está parada no Congresso desde maio de 2017, quando estourou a crise da delação da JBS, envolvendo o presidente Michel Temer.

Para a agência, apesar das promessas de que as mudanças serão votadas neste ano, a série de adiamentos para colocar a proposta em vigor mostra que o governo tem um apoio político fraco no Congresso para resolver a questão fiscal. A discussão para abrandar a “regra de ouro” (que impede a União de emitir dívida em volume superior aos investimentos) também é um outro sinal, de acordo com a S&P, de que a classe política não está disposta a enfrentar os problemas fiscais.

A S&P destaca ainda que, como não há um apoio forte agora para essas medidas, isso diminui a perspectiva de que essas questões sejam enfrentadas após as eleições de outubro. “Esse apoio enfraquecido —de dentro e de fora— da coalizão do governo ressalta as dificuldades que as autoridades vão enfrentar na disputa e logo após a corrida eleitoral de 2018.” Segundo a agência, a população está desencantada com os escândalos políticos e a recessão, o que abre espaço para um “outsider” na disputa ou um candidato contra o “establishment”. Dependendo de quem for eleito, diz ela, isso pode significar maior dificuldade para a formação de uma aliança multipartidária, “fundamental para aprovar qualquer lei no Brasil”

. A S&P havia retirado o selo de bom pagador do país em setembro de 2015, quando a nota passou de “BBB”- para “BB+”. Em fevereiro do ano passado, desceu mais um degrau, para “BB”.

PERSPECTIVA

A perspectiva da nota, segundo a S&P, é estável —não há estimativa de um corte iminente. A agência diz que há menos de uma em cada três chances de ela aumentar ou diminuir a nota do Brasil no próximo ano. “A perspectiva estável reflete nossa visão do comparativamente sólido perfil externo do Brasil, e a flexibilidade e credibilidade de suas políticas monetárias e de câmbio ajudam a ancorar o rating “BB-” no próximo ano, equilibrando as fraquezas econômicas e fiscais e a incerteza sobre as eleições presidenciais de 2018.”