SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A sequência de dias com baixa umidade relativa do ar pela qual São Paulo passa não é nada incomum para essa época do ano. Já são 34 dias sem chuva na capital paulista, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), da prefeitura.

Nesta segunda (16), os níveis de umidade chegaram a 18%, o que configura estado de alerta segundo a OMS. Nesta terça (17) não deve ser muito diferente, com os níveis de umidade caindo sobretudo no período da tarde. A secura deve continuar pelas próximas semanas.

O inverno atual está semelhante ao de 2017. “A última chuva foi em 13 de junho, mesmo dia do ano passado, quando tivemos uma sequência de 50 dias sem chuva —até 2 de agosto. Não se vê expectativa de mudança”, afirma Adilson Nazário, técnico em meteorologia do CGE.

Segundo Elton Almeida, meteorologista do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do Ministério da Ciência), não há nada de anormal. “Não tem nada interferindo de forma significativa. São valores baixos [de umidade], preocupantes em termos de saúde pública, mas é esperado para o período.”

Ernesto Alvin, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia, do Ministério da Agricultura), explica que as nuvens não chegam a São Paulo por causa de um sistema de alta pressão atmosférica, que bloqueia as frentes frias.

“[A frente fria] chega até o Rio Grande do Sul e sai para o oceano. Então você tem dias de baixa umidade, com céu claro e bastante amplitude térmica, quando a temperatura aumenta bastante durante o dia e cai bastante durante a noite. É normal em áreas tropicais”, conta Alvin.

Na segunda, segundo o CGE, a mínima foi de 12°C e a máxima de 29ºC, uma variação de 17°C que ilustra a amplitude da época.

Alvin chama atenção para o aumento do risco de queimadas, e dos níveis de poluição no período. “Quem tem mais sensibilidade tem que tomar cuidados.”

EL NIÑO VEM AÍ

Nazário, do CGE, afirma que tem aumentado a expectativa da ocorrência do fenômeno El Niño no verão, do final deste ano até março. Com ele, deve haver chuvas de maior intensidade nas regiões Sul e Sudeste, o que tende a favorecer o abastecimento de reservatórios de água.

POR QUE É RUIM?

Baixos níveis de umidade relativa do ar são especialmente preocupantes em grandes centros urbanos como São Paulo. Aliada à poluição, a secura torna mais críticas doenças respiratórias como asma, sinusite e alergias, e facilita também a disseminação de doenças do tipo.

É comum também que as mucosas fiquem secas, podendo ocorrer sangramentos no nariz e lábios ressecados e irritação dos olhos. “A mucosa mais seca não reage tanto aos micro-organismos”, explica a meteorologista do Inmet.

QUAIS OS CUIDADOS NECESSÁRIOS?

É preciso atenção à hidratação, mais do que o comum. O consumo de água deve ser à vontade. Melhor ainda se aliado à ingestão de bebidas que repõem sais minerais, como água de coco e sucos de frutas que contêm bastante água, como melancia, melão e pera.

Em casa, recomenda-se manter o ambiente úmido, com toalhas molhadas, recipientes com água ou umidificadores.

Quem estiver sentindo incômodo, como narinas ressecadas, pode recorrer a procedimentos de inalação.

Outra opção é o uso de máscaras cirúrgicas descartáveis, à venda em farmácias e comum nesta situação em metrópoles orientais.

“Na China já avisam a população para usar a máscara [quando se chega a baixos níveis de umidade]”, diz Balbino. “Ela impede que o poluente chegue às vias aéreas e retém a umidade do ar dentro dela.”

É importante ainda manter crianças hidratadas e evitar aglomerações. 

POSSO FAZER ATIVIDADES FÍSICAS?

Seja no chamado estado de alerta (12% a 20%) como no estado de atenção (20% a 30%), a recomendação é de que se evite exercícios físicos ou trabalhos que exijam esforço físico no período do final da manhã até o final da tarde (entre 10h e 18h).

FREQUENTAR PARQUES AJUDA?

Quem procura parques para obter um ar de melhor qualidade nestas condições comete um equívoco. Ainda que a concentração de árvores em um ambiente como esse ofereça mais umidade, o fato de ela ser uma “ilha” em meio à poluição traz consequências indesejadas, como grande concentração de ozônio, o que vai irritar ainda mais as mucosas.

Fazer atividades físicas em parques, sendo assim, não é uma solução para dias de baixa umidade. O mesmo vale para ambientes com ar condicionado, como academias, que deixam o ar ressecado e frio.

O ideal mesmo é evitar essa faixa de horário em que o ar está pior. Pode-se recorrer a lavar o nariz com soro fisiológico antes e depois dos exercícios para controlar o ressecamento nasal.

TENDÊNCIA PARA OS PRÓXIMOS DIAS

A qualidade do ar melhora gradativamente em São Paulo nesta semana, mas ainda inspira cuidados. Um sistema de alta pressão que atua sobre quase todo o país nesta semana impede a formação de nuvens —por isso o céu limpo— e só deve chover nos próximos dias no Norte, no Rio Grande do Sul e em parte de Santa Catarina.

Com o sol predominante durante os dias e a baixa umidade, a queda de temperatura à noite é brusca, podendo haver variação de mais de 10°C, para menos assim que ele se põe.

Nesta terça (17), a madrugada e a manhã devem ter bons índices de umidade, em torno de 50%. A tarde, porém, terá níveis parecidos com o desta segunda, ao redor de 20%.

Na quarta (18) à tarde há uma ligeira melhora, a 30%, com a boa notícia de que a manhã deve ter uma névoa úmida, com até 95% de umidade, o que fará a dispersão dos poluentes. A quinta (19) não tem névoa, mas a umidade vai de 70% no início do dia a até 30% à tarde. 

Os níveis ficam melhores na sexta, com variação prevista de entre 55% e 90%, segundo o Inmet.

Não é demais lembrar, todo cuidado com áreas de vegetação é pouco, já que o fogo se espalha muito rápido quando a vegetação está muito seca.