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A empresa BRF antecipou em dois meses o término do lay-off anunciado em maio para a planta de Carambeí, na região do Campos Gerais do Paraná, a 135 quilômetros de Curitiba. Com isso, a BRF afirma que já deu início a incubação dos ovos – primeira etapa do processo de criação das aves, principal produto de exportação da planta. Nesta semana, a empresa iniciou o envio dos primeiros lotes de pintinhos ao campo. De acordo com a BRF, cerca de 24 produtores integrados estão recebendo aproximadamente 1 milhão de aves, que estarão com o peso adequado para o abate em 28 dias.

A atividade industrial de Carambeí retornará em 2 de setembro com retomada de duas linhas de frango da planta. A terceira linha de produção deve voltar a operar em outubro, completando o pleno funcionamento da unidade. “Esse período foi importante para normalizar os estoques da companhia e otimizar a gestão da oferta para assegurar o equilíbrio do nosso sistema produtivo”, afirmou via assessoria Rubens Modena, diretor regional do Paraná da BRF, sobre o período de lay-off.

De acordo com a empresa, durante este período, cerca de 1 mil funcionários que atuam na unidade receberam capacitação em parceria com a Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (ACIPG). Na grade do curso, foram abordados temas como Boa Práticas de Fabricação, Segurança Alimentar, Liderança, Compliance, Gestão Ambiental, Finanças Pessoais, entre outros.

A empresa afirma que é importante ressaltar “uma boa avaliação dos colaboradores para com o curso de capacitação e os mesmos estão retornando as atividades bastante motivados e com maiores conhecimentos”.

“Surpresa positiva”, diz sindicato

De acordo com o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de Carambeí e Região, Wagner do Nascimento Rodrigues, a empresa cumpriu o acordo fechado em maio integralmente. “Para nós foi uma surpresa positiva. Foram três meses de lay-off, menos que o previsto, e alguns (funcionários) ficaram só dois meses, o restante volta no fim de agosto. Alguns só anteciparam férias. Então, a empresa já vai começar a incubação de frango e tudo indica que volta a produção total em setembro”, aponta o sindicalista.

Rodrigues afirma que não houve prejuízo aos cerca de 1 mil funcionários. “Não teve prejuízo aos trabalhadores porque houve negociação durante o processo, com participação do Ministério Público, e tudo que foi definido na negociação foi atendido”, afirma.

Sobre os motivos da paralisação das atividades da fábrica, Rodrigues afirma que a informação que chegou aos trabalhadores foi de que ocorreu em razão da nova postura do governo federal em relação à polícia externa. “Para nós o que chegou foi que havia estoques elevados e falta de certezas sobre exportações ao mercado de países árabes muçulmanos, por causa da aproximação recente do governo brasileiro do Estado de israel e consequente afastamento de parte do mercado muçulmano. Como a planta (Carambeí) é muito dependente do mercado muçulmano, perincipalmente agora no Ramadã, muitos os pedidos não foram feitos e sobrou estoque”, avalia. 

Excesso de estoque

Em maio, a direção da BRF, uma das maiores empresas brasileiras de alimentos, comunicou aos funcionários da planta de Carambeí, que pretendia suspender a produção por 60 dias, a partir de junho. A empresa justificou excesso de estoques e baixa demanda. A suspensão da produção poderia chegar a até cinco meses, período máximo previsto em lei para que os funcionários permaneçam em regime de Lay Off (que é suspensão temporária do contrato de trabalho). O retorno, porém, foi antecipado. No período, os funcionários receberam uma bolsa qualificação pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador.

O sindicato dos funcionários acredita que o excesso de estoque alegado pela empresa ocorreu em razão de uma mudança de comportamento no mercado de países de maioria muçulmana, principal importador de frangos da planta. Em Carambeí, 90% da produção era vendida para países de maioria da população muçulmana. A empresa, inclusive, realiza o chamado “abate Halal”, que segue preceitos muçulmanos. Havia expectativa de que após o Ramadã, em maio, como em todos os anos, as exportações para países árabes aumentassem, o que não teria ocorrido. Em 2019, o Ramadã foi de 6 de maio a 4 de junho.

“A unidade de Carambeí, no Paraná, como a de Francisco Beltrão e Dois Vizinhos, tem uma peculiaridade que é o abate Halal. É uma exigência para a as empresas do setor frigorífico que exportam para países de maioria muçulmana. A linha de produção tem que ser em direção a Meca, quem faz a sangria tem que ser de uma religião monoteísta O que nos causa preocupação e não acreditamos que seja uma coincidência, é que desde o momento que houve uma mudança no governo federal houve uma aproximação também com Israel, em um primeiro momento falando em mudança de Embaixada (de Tel Aviv) para Jerusalém, e em um segundo momento abrindo um escritório em Jerusalém, terra sagrada para três grandes religiões, isso causou um mal estar na comunidade muçulmana”, deduziu na época o secretário do sindicato dos trabalhadores, Wagner Rodrigues. 

A planta de Carambeí conta com 1,5 mil funcionários. Desses, 1,2 mil foram dispensados em junho. Em setembro, todos devem retornar às atividades.