SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em reação ao desparecimento do jornalista Jamal Khashoggi, o secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin e ministros da França, da Holanda e do Reino Unido cancelaram a ida a cúpula saudita conhecida como "Davos do deserto", que está programada para o fim do mês

São Paulo, Washington e Istambul"‚O presidente americano Donald Trump afirmou nesta quinta-feira (18) que "certamente parece" que o jornalista saudita Jamal Khashoggi, desaparecido desde 2 de outubro, está morto.

Ele disse ainda que a Arábia Saudita terá que sofrer consequências "severas" caso a morte seja confirmada.

Trump tem sido criticado por não condenar o desaparecimento do jornalista de forma incisiva e por manter uma postura benevolente em relação aos aliados árabes.

Mais cedo, o republicano já tinha afirmado a a repórteres do jornal The New York Times ter confiança nos relatórios de inteligência, que sugerem a participação de autoridades sauditas no assassinato. "A não ser que o milagre de todos os milagres aconteça, eu diria que ele está morto", disse ele na Casa Branca.

O republicano também reconheceu, segundo o jornal, que as alegações de que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (MBS), ordenou o assassinato de Khashoggi colocariam em xeque a aliança entre Washington e Riad.

A fala de Trump aconteceu após ele se encontrar com o secretário de Estado, Mie Pompeo, que acabou de voltar de viagem a Riad, onde se reuniu com MBS e com o rei Salman exatamente para tratar do assunto.

A Turquia acusa Riad pelo crimes, mas as autoridades sauditas negam. Khashoggi desapareceu no dia 2 depois de entrar no consulado saudita em Istambul, na Turquia, onde foi retirar documentos para poder se casar.

Relatos da mídia turca com base em gravações de áudio indicam que o jornalista foi torturado, morto e esquartejado no edifício–e a suspeita é de que o príncipe herdeiro tenha sido o mandante.

Ainda nesta quinta-feira, investigadores turcos fizeram novas buscas no consulado e na residência do cônsul-geral –drones foram usados para vasculhar o telhado e a garagem do local, mas nenhum detalhe foi divulgado.

Já Pompeo sugeriu que os EUA devem dar mais tempo aos sauditas para que investigação dê resultados. "É importante lembrar também que temos uma longa parceria estratégica com o reino da Arábia Saudita, desde 1932", afirmou.

Após conversar com o príncipe saudita MBS, na segunda-feira (15), Trump sugeriu que "matadores de aluguel" poderiam ter matado o jornalista. Depois, questionou a imprensa por estar culpando antecipadamente o regime saudita pelo ocorrido.

Também nesta quinta, o New York Times e o The Washington Post revelaram que a Arábia Saudita transferiu na última terça (16) para contas do governo dos EUA US$ 100 milhões (R$ 369 milhões), no mesmo dia que Pompeo desembarcou no reino árabe.

O dinheiro havia sido prometido por Riad ao governo Trump como contribuição aos esforços americanos de estabilizar áreas da Síria liberadas do Estado Islâmico.

A transferência é uma vitória para Trump, que sempre reclama de quanto o país gasta no exterior e exige de aliados contribuições. Mas o timing da transferência levantou questionamentos mesmo de burocratas cujos programas vão se beneficiar dos fundos, segundo o Times.

"Esse timing não é coincidência", disse ao Times uma fonte envolvida nas políticas para a Síria.

Brett McGurk, enviado do Departamento de Estado para a coalizão que luta contra o Estado Islâmico, negou que a transferência de fundos esteja ligada ao caso, dizendo que o dinheiro havia sido prometido em agosto.

"Essa transferência específica de fundos estava em processo há muito tempo e não tem nada a ver com outros eventos ou com a visita do secretário", afirmou, segundo o Times.

Uma monarquia rica em petróleo, a Arábia Saudita sempre confiou em sua generosidade financeira para persuadir parceiros a darem apoio a seus objetivos de política externa. Segundo o Post, diplomatas ocidentais suspeitam de que o reino também compensará a Turquia por sua disposição em lançar uma investigação conjunta sobre o desaparecimento de Khashoggi -como um perdão de dívidas.

"Em toda probabilidade, os sauditas querem que Trump saiba que essa cooperação em acobertar o caso Khashoggi é importante para o monarca saudita", disse Joshua Landis, da University de Oklahoma, ao Post. "Muitas das suas promessas financeiras aos EUA seriam contingenciadas por essa cooperação."