Valquir Aureliano – Sargento Tânia Guerreiro (PSL): “Eu já nasci querendo ser policial”

A sargento Tânia Guerreiro (PSL) sabia desde muito cedo o que queria para sua vida: entrar na Polícia Militar. Nascida na pequena cidade de Sapopema (Norte Pioneiro), descobriu logo após se formar no antigo colegial em Ibaiti que haveria um concurso para a PM em Curitiba. Não pensou duas vezes, e mesmo contrariando a vontade da família, veio direto para a Capital paranaense para prestar o concurso.

Graças a isso, participou do 1º Pelotão de Polícia Feminina da Academia Policial Militar do Guatupê (APMG), em 1979, fazendo uma longa carreira de 35 anos na corporação. Foi lá que ela começou a atuar inicialmente na repressão à violência contra menores, em especial contra a pedofilia. Percebendo que a melhor política era a prevenção, começou a realizar palestras e treinamentos para multiplicar os esforços contra esse crime, transformando essa luta em uma missão de vida.

Especializou-se em Metodologia para o Enfrentamento à Violência Contra Crianças e Adolescentes, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Há 30 anos é palestrante no combate à pedofilia e é autora de quatro manuais sobre como prevenir o abuso sexual, dirigidos aos pais, aos professores, aos policiais e às crianças e adolescentes, para que não se tornem vítimas.

“Sou a única policial militar do Brasil especializada em combate e prevenção à pedofilia, com palestras no Brasil e exterior. Trabalhei na Interpol no Canadá e na Hungria, como convidada em eventos sobre pedofilia, e no Movimento Nacional em Defesa da Criança Desaparecida e Vitimizada”, relata Tânia Guerreiro. Ela se define como “mãe, cristã, educadora e pedagoga”.

Com o tempo, ela chegou à conclusão de que só esse trabalho não bastava, e que para ampliar o foco de atuação e os resultados, era preciso ir além, influindo em políticas públicas que pudessem atingir um público maior. Foi daí que resolveu entrar na política institucional, concorrendo a vereadora de Curitiba pela primeira vez em 2012, pelo PSC, quando fez 3.636 votos e ficou na segunda suplência. Em 2018, tentou novamente a sorte, desta vez concorrendo a deputada estadual pelo PRTB, quando fez 13 mil votos e ficou na primeira suplência. No ano passado, já no PSL, conseguiu finalmente se eleger vereadora da Capital, com 4.422 votos.

Agora eleita, ela explica em entrevista ao Bem Paraná, como pretende usar o cargo para ampliar esse trabalho, ajudando a incluir a pedofilia como um crime previsto no Código Penal – hoje a tipificação é de estupro de vulnerável. E a estabelecer políticas públicas duradouras de capacitação de profissionais para a proteção das crianças e jovens em situação vulnerável.

Bem Paraná – Onde a senhora nasceu?
Sargento Tânia Guerreiro – Nasci em Sapopema.

BP – E quando veio para Curitiba?
Tânia Guerreiro – Vim para Curiiba em 1979. Já vim para entrar na Polícia Militar.

Missão
Virei policial contra a vontade da família

Bem Paraná – E qual foi a reação da sua família quando decidiu entrar na PM?
Sargento Tânia Guerreiro – Eu já nasci querendo ser policial. Quando era bem pequena andava com um estilingue. A minha família é libanesa. Niinguém gostou (ser PM). Vim contra a vontade deles. Me formei em pedagogia depois de me separar e criar os filhos. Na minha família não tinha divórcio. Fiz parte do primeiro Pelotão de Policiais Femininas do Paraná. Já havia tido antes um pelotão de polícia feminina, mas era de sargentos e foi no Colégio da PM. Tivemos bastante dificuldades em ser aceitas. Mas nunca desisti de nada na minha vida.

BP– Quando a senhora resolveu entrar na política?
Tânia Guerreiro – Depois que eu comecei a ver que não haviam políticas públicas de combate à pedofilia. No combate à pedofilia, trabalhávamos, trabalhávamos e o resultado era quase insignificante. Eu não estava sozinha na Polícia Militar do Paraná, mas no Brasil. Dava resultado se eu fizesse a prevenção. Comecei na repressão, na inteligência da polícia. Trabalhando com palestras. Fui percebendo que não existiam profissionais nessa área. Até existia, mas eram profissionais que falavam bonito, mas não traziam a realidade da pedofilia. A pedofilia, a meu ver é o pior crime que um adulto pode cometer.

BP – A senhora já tinha sido candidata antes?
Tânia Guerreiro – Tentei em 2012 para vereadora, depois tentei novamente. Em 2018 saí para deputada estadual e fiquei na suplência.

Prevenção
‘Educação sexual nas escolas é de extrema importância’

Bem Paraná – E qual a principal bandeira do seu mandato?
Sargento Tânia Guerreiro – É a principal bandeira da minha vida. O combate à pedofilia e o militarismo fazem parte da minha vida. São minha segunda pele. Resolvi entrar na política para lutar por punições mais rigorosas para os pedófilos. Tenho muitas ideias boas de proteção à criança. Capacitação de profissionais. Trabalho em todo o Brasil.

BP – Mas o que um vereador pode fazer em relação à legislação sobre esse tema, que é federal?
Tânia Guerreiro – As mais altas torres se iniciam no solo. Eu se que pouco posso fazer em relação à penas. Mas se não começar por aqui, pela minha cidade, que é referência em urbanismo, em transporte… A capital da Lava Jato. Porque não pode ser também referência no combate à pedofilia. Estou desde 2000 colhendo assinaturas para a tipificação do crime de pedofilia no Código Penal.

BP – A legislação atual já não prevê o crime de pedofilia?
Sargento Tânia Guerreiro – O artigo 217 A fala em estupro de vulnerável, com pena de 8 a 10 anos de prisão, o que na minha opinião é irrisório. Também tem no Estatuto da Criança e do Adolescente o artigo 213, para quem fizer e divulgar imagens de crianças, com pena de 2 a 4 anos. O que acontece hoje é que é muito raro um pedófilo pegar a pena máxima. Porque ele tem bons antecedentes, não é bandido, tem endereço fixo. Logo sai por bom comportamento.

BP – Uma das polêmicas que tem sido objeto de discussão nos legislativos do País é o chamado projeto “Escola sem partido”, que pretende restringir a educação sexual nas escolas. Mas os especialistas afirmam que ela é fundamental justamente, por, entre outros motivos, para o combate à pedofilia. O que a senhora acha disso?
Tânia Guerreiro – Educação sexual nas escolas é de extrema importância. Desde que seja feito de acordo com a faixa etária e com linguagem simples. É lógico que não se vai mostrar um relação sexual entre homem e mulher. Mas a escola tem que ter uma contribuição para isso. Existe um manual de como identificar situações de risco. De como identificar os órgãos sexuais, e saber que ninguém pode tocá-los, e nem fazer com que a criança toque os órgãos sexuais de outra pessoa. Isso é prevenção.

BP – Qual a postura que a senhora pretende ter em relação à gestão Greca. Base de apoio, oposição ou independente?
Tânia Guerreiro – Nós não viemos para brigar com ninguém. Desde que eles não façam nada em desfavor das famílias. Nós já fizemos algumas reuniões sobre isso. E vamos fazer o que tem que ser feito. Não vamos fazer nada para agradar ninguém.