SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O confronto entre policiais civis de São Paulo e de Minas Gerais que deixou um morto e dois feridos em Juiz de Fora (MG) pode ter ocorrido quando os agentes paulistas descobriram que estavam recebendo notas falsas em um negócio ilegal que envolvia cerca de R$ 14 milhões.

A avaliação está em documento da Justiça mineira produzido em audiência realizada no domingo (21). Na ocasião, foi convertido para prisão preventiva o flagrante de quatro policiais civis paulistas e de dois empresários envolvidos diretamente no caso.

O confronto, ainda com motivos não esclarecidos, ocorreu na tarde da última sexta-feira (19) em um prédio anexo a um hospital. Durante a ação, um policial mineiro de 39 anos foi morto, e dois empresários foram baleados.

Segundo investigações preliminares, os policiais civis de São Paulo estariam na cidade para realizar uma “escolta vip” para um doleiro.

Cada policial, segundo apuração, receberia R$ 1.500 para fazer esse trabalho. De folga, os agentes podem realizar serviços particulares. No entanto, de acordo com a Justiça mineira, há indícios de que os policiais tinham conhecimento da ilegalidade da transação feita entre os empresários.

Ainda que não soubessem, diz o documento, era dever deles, como agentes públicos, ter ciência de todos os fatos com os quais estavam se envolvendo. Eles podem ser indiciados por homicídio, tentativa de homicídio, lavagem de dinheiro, estelionato, prevaricação, sonegação fiscal e organização criminosa, a depender da conclusão das investigações.

Após a troca de tiros, foram apreendidas as malas com o dinheiro que seria negociado.

Alvo da escolta, o doleiro Flávio de Souza Guimarães saiu de São Paulo em direção a Minas em um avião particular para realizar um “negócio milionário”. No voo, estava acompanhado de um delegado da polícia de SP e dos empresários Roberto Uyvare Júnior e Jerônimo da Silva Leal Júnior.

Uyvare Júnior, segundo a Justiça mineira, possui empresas na França, na Espanha e no Brasil, “não se sabendo ainda o ramo”. Já Leal Júnior seria dono de uma empresa de segurança em São Paulo.

Leal Júnior é irmão de um investigador, um dos quatro policiais presos após o confronto. Ainda segundo a Justiça mineira, esse investigador foi de carro a Minas na companhia de outros sete policiais, entre eles os delegados Bruno Martins Magalhães Alves e Rodrigo Castro Salgado da Costa, para, “ao que parece”, essa escolta VIP ao doleiro.

Os policiais de São Paulo, segundo a Justiça, estariam “fortemente armados”, com pistolas 380, .40 e 45, além de rádios comunicadores e coletes a prova de balas. Eles usaram dois carros alugados e se hospedaram, na madrugada de sexta-feira, em um hotel próximo ao hospital.

No lobby do hotel, segundo indica a investigação, o doleiro Flávio, o empresário Uyvare Júnior e um terceiro homem (identificado até agora apenas como Mário) passaram a negociar com o doleiro Antônio Vilela, esse oriundo de uma outra cidade do interior mineiro e que estava acompanhado de um homem ainda não identificado.

Em seguida, parte dos policiais civis paulistas seguiu para o estacionamento do hospital, onde trocou tiros com policiais civis mineiros que faziam a escolta de Vilela, que também saiu ferido.

“Ao que se presume, o chamado de ‘desacerto’ [entre as partes] ocorreu depois que os ‘negociantes’ de São Paulo detectaram a falsidade [das notas em reais], reforçando o argumento de que precisavam mesmo de segurança e proteção”, diz a Justiça mineira.

No momento do confronto, segundo a investigação, quatro policiais já estavam no caminho de volta a São Paulo e, dessa forma, não teriam participado da troca de tiros, apenas da escolta inicial. Em razão disso, suas prisões não foram decretadas.

Ferido com um tiro no pé, o doleiro Vilela teve alta do hospital na noite de domingo e está preso no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional de Juiz de Fora. Já o empresário paulista Jerônimo da Silva Leal Júnior, ferido no abdômen, foi levado a um hospital da região, onde está internado em estado grave. Ele é apontado como o autor dos disparos que mataram o investigador mineiro.

Segundo nota da Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP, delegados da capital e da Corregedoria estão em Juiz de Fora para apurar as circunstâncias do caso e verificar o que os agentes faziam na cidade fora do horário de trabalho. “Comprovados desvios de conduta, os policiais envolvidos responderão administrativa e criminalmente, de acordo com os atos praticado por cada um”, diz, em nota, a pasta do governo Márcio França (PSB), candidato à reeleição.