Arquivo pessoal/Luiz Culik – Culik no Museu do Pinball

Luiz Culik, 57 anos, teve uma carreira curta no futebol profissional. Os poucos anos defendendo a meta do Athletico Paranaense, porém, são cheios de histórias curiosas.

A própria estreia profissional foi atípica, logo de cara num Atletiba, na época que o clássico ainda tinha o poder de parar Curitiba.

E o fim da carreira também foi polêmico.

Com 24 anos, Culik decidiu pendurar as luvas. Em entrevista para o Bem Paraná, ele explicou os motivos e citou a expressão “trairagem”. “A torcida do Athletico me adorava, mas o destino quis que eu partisse para outras coisa. E não me arrependo nem um pouquinho”, conta.

Depois do futebol, o goleiro virou representante comercial de frigoríficos. E hoje tem a própria empresa. Virou um negócio de sucesso. Além do êxito nos negócios, Culik é referência nacional no seu hobby: o pinball.

Hoje morando em Itu (SP), o paranaense colecionou tantas máquinas de fliperama que acabou montando o Museu do Pinball.

Bem Paraná — Qual foi seu primeiro contato futebol?
Culik — Sempre joguei nos campinhos de vila, até os 13 anos. Aí fui para escolinha do Coritiba, na Base Aérea, com o professor Miro, ali por 1977, 78. Apesar de ser atleticano, esse foi meu primeiro clube, por ser próximo da minha casa. Eu nasci ali no Bacacheri. E a escolinha do Coritiba treinava na Base Aérea. Eu ia a pé, não tinha dinheiro para ônibus.

BP — Como foi o período de categorias de base?
Culik — Depois que estourei a idade do dente de leite, o infanto-juvenil do Coritiba treinava no Capão da Imbuia e minha família não tinha condições para isso. Já comecei a trabalhar para ajudar a família. Então infelizmente não tive categoria de base.

PERFIL
Nome: Luiz Culik
Posição: goleiro
Nascimento: 2 de dezembro de 1963
Naturalidade: Colombo (PR)
Clubes profissionais: Athletico e Iguaçu-PR
Clubes amadores: Santa Cândida, Trieste, Santa Quitéria e Nova Orleans

BP — Como chegou ao Athletico?
Culik — Quando completei 18 anos, fui pro Exército. Comecei a jogar no Santa Cândida Futebol Clube, no bairro Santa Cândida. O Hamilton Sebastião Simioni, dono dos Materiais Santa Cândida e presidente do Trieste, me levou para ser goleiro do Trieste. Joguei em 83 nos juniores e em 83 mesmo subi para o time de cima. O Alfredo Gottardi* era o treinador. Na final de 83, fiquei na reserva do Santo, que era o goleiro titular do Trieste. Em 84 e 85, fiquei no Trieste. Fomos bicampeões do amador e da Taça Paraná. Em 86, fui para o Athletico, direto para o profissional. Fui indicado pelo Alfredo Gottardi*. Os goleiros do Athletico eram o Marolla e o Joceli.
*Filho do lendário Caju, Alfredo Gottardi Jr foi zagueiro do Athletico de 1963 a 1979

BP — Quais foram seus melhores momentos no Athletico?
Culik — Em 86, aconteceu minha estreia. E foi num Atletiba. Foi numa situação bastante delicada. Estava há dois meses no clube. A torcida nem me conhecia. Nunca tinham me visto em base. Só sabiam que eu era do Trieste. E joguei no Atletiba que acabou 1 a 1. No Paranaense, o Athletico não foi muito bem. E para o Brasileiro montou um belo time. E trouxe mais um goleiro, que é o Roberto Costa. Então ficou Marolla jogando, Roberto Costa no banco e eu era o terceiro. Em 87, o Marolla foi emprestado. E o Roberto assumiu e eu fiquei no banco. E foi em 87 que tive meus melhores momentos no Athletico. A gente foi campeão do torneio início.
A gente tinha uma garotada muito boa que subiu, Adilson Baptista, Pedrinho, Odemilson, Vilson, Luis Carlos Oliveira, Cambé, Marcio Fernandes, Marcão, Gerson… A base do time de 87, os mais velhos, eram o Roberto Costa, o Carlinhos Sabiá, o Manguinha e o Roberto Cavalo. O resto era molecada. O time era praticamente da casa. Foi minha melhor época. Eu estava muito bem, treinando forte, mas infelizmente faltaram oportunidades para ter uma sequência de jogos. Era meu sonho até então.

BP — Você encerrou a carreira cedo, em 1988. O que houve?
Culik — Foi em 1987, no hexagonal decisivo. O titular era o Roberto (Costa). Ele não vinha muito bem. Tínhamos jogo decisivo em Cascavel. Chegamos no hotel. A preleção era lá. O jogo era às 9h da noite. Quando foi 3 da tarde, o Beto, que era preparador físico, me chamou no quarto dele e me falou: “Voce está bem?” Eu disse: “tô ótimo”. “Então você vai jogar hoje, mas não comenta com o Roberto, que o Geraldino vai falar na preleção. Fica na tua, se prepara, se prepara mentalmente. E isso não foi anunciado”. Só que nesse ínterim alguém já tinha comunicado a imprensa e comunicado que o Roberto não ia jogar. Quando eu cheguei no quarto, o Roberto perguntou: “Onde você foi?”. “Fui ali no quarto do Beto”. E o Roberto disse: “Eu já tô sabendo. Minha esposa ligou de Curitiba e já saiu na imprensa que você vai jogar. Pô, os caras estão de sacanagem comigo. Se me falassem antes, eu nem viria”. A gente tinha amizade muito grande. Ele falou: “Você joga pra caramba. Não esquenta a cabeça. Você tá bem treinado. Vai lá e joga. Não fala mais nada. Não tenho nada contra você. Sei que isso não partiu de você. Isso partiu da diretoria. Vou ver o que aconteceu”. Fomos pra preleção, o Roberto levantou e começou a xingar o Geraldino (Damasceno), que era o técnico. E foi uma meia hora de discussão. O Renato Sá, que era o capitão, levantou e falou: “Para! Vai jogar o Culik ou Roberto? Cacete! Você é o treinador! Fala quem vai jogar e acabou! Não tem esse negócio!”. Aí vem o Geraldino e fala assim: “Roberto, você acha que ia fazer isso com você? Vai jogar você”. Ali foi uma das maiores decepções da minha vida pessoal, ali praticamente encerrou minha carreira. Vi que o futebol, esse tipo de coisa, não serviria para mim. Nem sentei no banco, sentei na grama, ao lado, junto com o Adilson Baptista, que também estava meio chateado. Fiquei muito chateado e comecei a ver que o futebol tinha muita sacanagem. Em 88, acabei sendo emprestado para o Iguaçu, de União da Vitória. Aí não recebi (salários) e voltei. Aí não renovaram comigo e encerrei minha carreira. Voltei a trabalhar e não me arrependo nem um pouquinho disso até hoje. Me sinto feliz. Tenho vários amigos no futebol. Jogo no time do Macaris. Não tenho inimizade com ninguém.

BP — Como foi estrear em um Atletiba?
Culik — A gente ia jogar contra o Toledo. E disseram: “O Marola tá com dois amarelos e vai tomar o terceiro, para você estrear contra o Matsubara aqui na Baixada”. Só que o Marola não tomou o amarelo contra o Toledo. Aí ele jogou contra Matsubara e fomos para Londrina, no VGD. E o Marola discutiu com o centroavante do Londrina e levou amarelo. E ficou fora do Atletiba. Viajamos quinta-feira à noite de Londrina. Chegamos em Curitiba sexta. O Athletico tentou contratar um goleiro às pressas, porque acho que não tinham confiança mim. O Hélio Alves era o diretor de futebol. Não conseguiram. Domingo tive que estrear. E o Nicanor (de Carvalho, técnico) nem falou comigo, nem tapinha nas costas, nada. Nem uma palavra.
O único que falou comigo era o Bugrão, preparador de goleiros. Uma pessoa fantástica. Ele disse: “Fica tranquilo, você tá bem treinado. Não se preocupa. Vamos lá, fé no seu taco, que você joga muito”. No fim, joguei muito bem. Jogamos em dez praticamente desde os 25 minutos do primeiro tempo, por causa de uma expulsão. Na segunda-feira, cheguei no clube e estava o Hélio Alves ao lado do Marolla e ele falou: “Olha o que você arrumou! Não dá bobeira agora, Marola, se não você perde a posição”.

BP — Qual a maior lição que o futebol te ensinou?
Culik — Tinha muita amizade e muita trairagem. Sempre fui pessoa que busquei ser o mais digno possível. Me afastei do futebol em função disso. Eu não aceitava algumas coisas. A lição que ficou você tem que acreditar bastante naquilo que você é. Isso me deu muita força para seguir na minha carreira profissional que estou hoje.

BP — Como começou com o pinball?
Culik — É um hobby. Não é algo com fins lucrativos. É uma coleção pessoal de máquinas de fliperama e pinball, que eu curtia nos anos 70 e 80. Por ser uma coleção antiga, o pessoal chamou de museu. O nome pegou. E hoje muitos vem aqui visitar minha coleção, tomar aquela cervejinha, brincar, passar um sábado.