Nos últimos oito anos, 849 leitos de internação da rede pública — aqueles destinados a quem precisa permanecer num hospital por mais de 24 horas — deixaram de atender pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Curitiba. Em maio de 2010, a Capital contava com 3.594 leitos para uso exclusivo do SUS, número que caiu para 2.745 em 2018, uma redução de 23,62%. 
O levantamento, feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) a partir de dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) do Ministério da Saúde, revela ainda que Curitiba foi, em termos percentuais, a segunda capital brasileira com maior redução na oferta de leitos, atrás apenas do Rio de Janeiro (-30,67%). Em números absolutos, fica com a terceira colocação, atrás ainda da capital carioca, que desativou 4.095 leitos, e de Fortaleza (CE), que perdeu 904.
As especialidades com a maior quantidade de leitos fechados, em Curitiba, são  pediátrico (906 leitos desativados, com redução de 26,68%) e obstetricia (fechamento de 471 leitos, com queda de 16,74% no total de leitos para a especialidade).
Com relação ao total de leitos de internação na cidade (tanto públicos como privados), a redução verificada foi de 12,78% em Curitiba, uma vez que os leitos “não SUS” (redes suplementar e privada) tiveram aumento, passando de 2.658 em 2010 para 2.708 em 2018. Assim, a Capital conta atualmente com um total de 5.453 leitos de internação, ao passo que oito anos atrás eram 3.594.
Paraná
Quando considerado o Paraná como um todo, verifica-se que nos oito anos em análise houve uma queda de 7,75% no número de leitos de internação da rede pública, que passaram de 20.903 para 19.282, com o saldo de 1.621 leitos fechados. Os leitos “não SUS” também tiveram queda: em 2010 eram 8.033, hoje são 7.968.
Assim, o total de leitos de internação no Estado (SUS e “não SUS”) teve uma redução de 5,83% em oito anos. Em 2010 eram 28.936, número que caiu para 27.250 em 2018. Nesse mesmo período, a população paranaense aumentou em 9,14% (de 10,4 milhões de habitantes para 11,4 milhões, segundo o IBGE).

Diminuição ‘não tem impacto grande’, diz Secretaria de Saúde
De acordo com Irvando Carula, superintendente de gestão de sistemas de saúde da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), a diminuição no número de leitos de internação na rede pública não tem um impacto grande para o Paraná, uma vez que a maioria dos leitos desativados eram pouco qualificados, de baixa complexidade, e referentes a especialidades como pediatria e psiquiatria.
“Como está a pirâmide populacional no Paraná? O número de crianças está diminuindo e o de idosos, aumentando. Então se diminuiu nesses anos todos o número de pais, o número de nascidos vivos e evidentemente que os hospitais diminuíram o número de leitos”, aponta Carula. “Quanto aos leitos psiquiátricos, devem ser compensados com leitos de CAPS e isso está acontecendo gradativamente. Então não tem um impacto grande (para o sistema público de saúde)”.
Ainda segundo Carula, nos próximos anos deverão ser inaugurados novos hospitais no Paraná, o que deverá fazer aumentar o número de leitos. As principais obras ocorrem nos municípios de Toledo, Paranavaí, Ivaiporã e Guarapuava. “São os quatro mais importantes, que certamente irão compensar esses leitos desativados”.

CRM aponta desperdício de recursos e dificuldade de acesso ao Sistema 
O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), por sua vez, aponta que a pesquisa do CFM vem a ratificar outros levantamentos recentes, que apontavam o encolhimento da rede prestadora de serviços de saúde privada, seja com ou sem fins lucrativos (hospitais filantrópicos, no caso). 
“Em reforço aos números expostos pelo Conselho Federal de Medicina, temos a observar que, no período de oito anos, o número de hospitais privados no Paraná caiu de 413 para 342, num cenário em que determinou o fechamento de grande número de pequenos serviços de centros menores”, aponta o presidente do CRM-PR, o pediatra Wilmar Mendonça Guimarães.
Ainda segundo o CRM-PR, “é inconcebível que recursos sejam usados em desperdício em detrimento da área de saúde, o que impacta nas dificuldades de acesso à assistência assegurada constitucionalmente. A leitura está explícita na formação de filas no SUS para cirurgias eletivas, ou na disputa de vagas em UTIs. Não adianta abrir novos serviços se não há como manter os que existem em condições de qualidade e segurança à população.”