Curitiba pode ter nas eleições municipais de novembro um número recorde de concorrentes à prefeitura da cidade neste século, caso se confirmem as pré-candidaturas já colocadas a pouco mais de três meses do primeiro turno. Até agora, 19 nomes já foram anunciados pelos partidos como potenciais aspirantes à cadeira de prefeito, sendo dois deles da mesma legenda: o ex-prefeito Gustavo Fruet e o deputado estadual Goura, ambos do PDT, que podem acabar formando uma “chapa pura” unindo as duas pré-candidaturas. Caso os demais pré-candidatos sejam confirmados nas convenções que devem ser realizadas entre 31 de agosto e 16 de setembro como prevê o novo calendário eleitoral, a Capital paranaense teria 18 candidatos no primeiro turno, número que representa o dobro dos nove concorrentes de 2016, e cinco a mais dos 13 registrados em 2004, até então o maior desde o início dos anos 2000.

Essa proliferação de candidaturas tende a levar a disputa para o segundo turno, já que além da pulverização natural dos votos, a lista inclui nomes competitivos eleitoralmente, encabeçada pelo atual prefeito, Rafael Greca (DEM); o deputado federal e ex-secretário de Estado Justiça, Família e Trabalho, Ney Leprevost (PSD) – que em 2016 disputou o segundo turno com Greca;

dois ex-prefeitos (Fruet e o deputado federal Luciano Ducci, do PSB). A relação tem ainda o deputado estadual e recordista de votos para a Assembleia Legislativa em 2018, Fernando Francischini (PSL) e o deputado federal e ex-prefeito de Pinhais (região metropolitana de Curitiba), Luizão Goulart (Repub).

A concorrência é aumentada também por outros três pré-candidatos de partidos tradicionais: o ex-deputado federal João Arruda (MDB), que em 2018 disputou o governo do Estado; o professor de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Opuszka, do PT – sigla que mesmo desgastada tem um eleitorado fiel; e a deputada federal Christiane Yared, do PL.

Dois turnos – “Correndo por fora”, surgem ainda nove pré-candidatos de siglas menores ou não tão competitivas, mas que somadas podem arrebanhar um número significativo de eleitores descontentes com as legendas mais tradicionais e reforçar a possibilidade de uma disputa em dois turnos. Entre eles estão o oftalmologista João Guilherme, que em 2016 foi candidato a vice na chapa de Leprevost pelo PSC e agora surge “na cabeça” pelo partido Novo; e Carol Arns, filha do senador Flávio Arns, pelo Podemos.

Pela esquerda, ontem, o PSOL anunciou o lançamento de uma chapa com a psicanalista Letícia Lanz, de pré-candidata à prefeita, e a advogada Giana De Marco como vice.

Completam a lista o historiador e ambientalista Renato Mocellin (PV), Camila Lannes (PCdoB), Thiago Chamulera (Patriota); Edson Lau (PSDB); o ex-candidato ao Senado, Zé Boni (PTC); e Fabiano dos Santos (PMB). 


NÚMERO

13 candidatos disputaram a prefeitura de Curitiba em 2004, maior número desde o ano 2000. 


ANÁLISE

‘Segundo turno depende de Ratinho Jr’

Para o cientista político Murilo Hidalgo, da Paraná Pesquisas, a realização ou não de dois turnos na disputa pela prefeitura de Curitiba dependerá fundamentalmente do PSD – partido do governador Ratinho Júnior. Caso a legenda confirme a pré-candidatura do deputado federal Ney Leprevost, as chances de um segundo turno aumentam significativamente. “Vai depender do Ratinho Jr. Se o Ney for candidato há uma chance maior. Só vamos saber aos 47 do segundo tempo”, prevê ele.

Até agora, o governador tem sinalizado que ficará neutro no primeiro turno, e o PSD reafirmado a intenção de lançar Leprevost na disputa. A filiação do vice-prefeito Eduardo Pimentel ao partido, porém, levantou a possibilidade da sigla abrir mão da cabeça de chapa para apoiar a reeleição de Greca, o que o grupo de Leprevost descarta. “O Ney diz que é candidato. Tem gente no partido dizendo que não é. Vamos ver qual é a verdade”, pondera o cientista. 

A decisão de Ratinho Jr, explica, não é fácil. Caso o PSD lance candidato e Greca vença, pode se tornar um potencial adversário do governador nas eleições estaduais de 2022. Mas se o partido de Ratinho Jr não tiver concorrente e Greca vencer no primeiro turno, automaticamente também se tornaria um pré-candidato natural ao Palácio Iguaçu.

Na avaliação de Hidalgo, a Capital tem hoje “6 ou 7” principais candidatos. Mas o lançamento de um número grande de candidatos de partidos menores também pode pesar. Essa proliferação é estimulada pelo fato de que as eleições municipais deste ano serão a primeira com proibição de coligações para candidatos a vereador. Siglas que não tiverem candidatos próprios à prefeitura terão dificuldades de conquistar cadeiras na Câmara.

Em relação à pandemia, Hidalgo aponta que, a princípio, ela favorece os atuais prefeitos, que ganham visibilidade. “Antes pesava muito o apoio da máquina. Isso acabou. Vai ficar muito difícil, principalmente para os vereadores. O corpo a corpo acabou. Candidatos a prefeito tem rádio e TV”, lembra.