RAFAEL GREGORIO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Encerrada no domingo (20), a 14ª Virada Cultural equilibrou saldo positivo no centro de São Paulo e baixa atratividade nos bairros.

A prefeitura estima que 3 milhões de pessoas participaram do evento em 2018 -2 milhões compareceram a atrações na região central.

Embora tenha havido casos de vandalismo -um carro policial, dois prédios da Polícia Civil e a fonte da praça Júlio de Mesquita foram pichados na madrugada de domingo-, a Polícia Militar não registrou mortes ou lesões corporais.

Foram realizados 480 atendimentos locais e 20 remoções para hospitais, a maioria de pessoas com pressão baixa.

Chama a atenção a relativa retomada do centro.

Na edição do ano passado, a primeira sob a batuta do então prefeito João Doria (PSDB) e de André Sturm, secretário de Cultura, o evento ficou marcado pelo esvaziamento do centro. Neste ano, o secretário reforçou a programação na região.

Se o público ali não chegou aos patamares de até 2016, quando o centro concentrava a Virada e atraía de 3 milhões a 4 milhões de pessoas, os níveis foram superiores aos de 2017, quando o evento todo teve público de 1,6 milhão.

Nomes como Rouge, Nação Zumbi, Caetano Veloso, Valeska Popozuda e Gretchen atraíram públicos fortes.

Marcelo D2 juntou cerca de 50 mil pessoas na avenida São João, segundo policiais militares e bombeiros no local.

No centro, também fizeram sucesso atrações não musicais, como o parque de diversões no Vale do Anhangabaú, os cinemas no vão livre do Masp e na rua 15 de Novembro e as festas.

“Como não tínhamos experiência, houve uma limitação na instalação dos brinquedos, e o parque de diversões acabou sendo reduzido”, disse Sturm à imprensa logo após o encerramento do evento.

O secretário prometeu aumentar o parque no ano que vem, “para que mais pessoas possam brincar”.

Em termos de infraestrutura, a região não teve registros de derrapadas como as de 2017, quando foram muitos os pontos sem equipamentos de som adequados, ou mesmo sem equipamento algum.

Não se repetiram críticas de artistas e público a vazamentos de som de um show em outro -a proximidade entre os palcos foi revista, assim como a altura das coxias.

Houve palcos que, muito procurados, registraram tumultos -caso das apresentações de Marcelo D2 e do cortejo com Caetano.

Por outro lado, outros ficaram esvaziados. Um dos estandartes do soul brasileiro, Tony Tornado cantou para menos de cem pessoas na alameda Barão de Limeira.

Esses episódios mostram que embora a escalação tenha melhorado, a distribuição de nomes, horários e locais pode ser mais bem pensada e divulgada.

Programação e divulgação também foram fatores relevantes para o irregular desempenho dos cinco polos regionais, marcas registradas da Virada Cultural sob Sturm.

Os shows de samba no estacionamento da Arena Corinthians, em Itaquera, tiveram público decepcionante.

“Infelizmente não deu certo o palco no Itaquerão”, admitiu Sturm, dizendo não saber a razão da baixa procura, apesar da “programação excelente e do metrô na porta”.

“Foi nossa maior frustração. Centros culturais fizeram mais público do que o palco oficial da zona leste. Pedimos até para os artistas que fizessem relatórios sobre seus shows, se quisessem, e vamos avaliar o que fazer em posse de mais informações”, concluiu o secretário.

Chácara do Jockey, Parque da Juventude e praça do Campo Limpo tiveram públicos entre regular e bom, talvez por serem locais com relação aos quais a população já desenvolveu conexão e familiaridade.

No primeiro, Karol Conká e The Slackers fizeram shows memoráveis, e as festas de música eletrônica funcionaram bem. Na zona norte, Veja Luz e Black Alien e a cantora Liniker fizeram apresentações militantes e elogiadas, como também o foram os shows de Emicida e Diogo Nogueira no Campo Limpo.

As Casas de Cultura levaram a Virada a regiões mais distantes do centro. Neste ano, participaram as instalações no Butantã, Ipiranga, Itaim Paulista, Brasilândia, Tremembé e Itaquera. A programação contemplou atividades de música, circo, teatro, literatura e dança, entre outros.

“O secretário [André Sturm] quis fazer a Virada descentralizada. Isso é bom, porque incentiva as pessoas a conhecerem os aparelhos públicos de cultura”, disse Diego de Souza, coordenador da casa Chico Science, no Ipiranga.

O que Souza diz corrobora os argumentos da prefeitura ao defender a pulverização.

Em junho de 2017, segundo dados da Secretaria de Cultura, o público 20% aumentou no Theatro Municipal, 49,7% no teatro Martins Penna, 73% no Centro Cultural Grajaú e 153% no teatro Alfredo Mesquita, na comparação com os números de maio, pré-Virada.