Temos que reconhecer que a posição da mulher mudou drasticamente na sociedade e ela deixou de ser apenas mãe e dona de casa para se transformar em líder, executiva e dona de direitos jamais sonhados. A sociedade evoluiu e nos permitiu evoluir também, não só em conhecimento, mas também em condições profissionais similares. Digo similares, porque não estamos em condições iguais ainda. Um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas é o de alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas do mundo. De acordo com a ONU, o Brasil só terá igualdade de gênero daqui a 93 anos, ou seja, no ano de 2111. Não estarei mais aqui para ver isso se concretizar, mas trabalho fortemente para que isso aconteça! Em relação à igualdade de gênero, gostaria de separar duas situações bem específicas: a desigualdade salarial e as atividades com predominância masculina.

Em relação à desigualdade salarial, o assunto fica um pouco mais fácil de ser resolvido. Basta, nesse caso, um trabalho de conscientização das empresas e uma postura mais firme das mulheres em não aceitar propostas que sejam menores do que as que são feitas aos seus colegas homens. É trabalhoso, exige coragem, mas só assim conseguiremos quebrar essa regra. Temos que ter disposição para o embate e bons argumentos para defender nosso ponto de vista. Vale lembrar que as mulheres já ultrapassaram os homens no que tange a escolaridade. Hoje, temos muito mais mulheres com Ensino Superior completo e especializações trabalhando do que homens. Mesmo assim, a maioria das mulheres ainda recebe salários inferiores aos dos seus colegas homens que ocupam o mesmo cargo.

Pior do que isso é ter muito claro o preconceito em relação ao exercício de atividades que, até pouco tempo, eram 100% atividades masculinas. Fico muito orgulhosa quando vejo uma mulher exercendo atividades que não eram autorizadas para elas até pouco tempo atrás. Quando entro em um ônibus ou pego um voo e me vejo sendo conduzida por uma mulher, fico cheia de orgulho! Tenho vontade de sair tirando selfie com elas para deixar registrado para outras mulheres que não temos mais essa limitação.

Na minha área de atuação profissional também já existe esse movimento. Trabalho há alguns anos no setor portuário brasileiro. Quando ingressei nesse setor, éramos um grupo de 12 gestores, sendo apenas duas mulheres que exerciam atividades de suporte – RH e Jurídico –. Isso sempre me incomodou muito, mas não via a possibilidade de fazer diferente. Sempre tive a convicção de que não basta ficarmos incomodadas, temos que fazer alguma coisa! Acabei trocando de emprego e, por afinidade de ideias, comecei a trabalhar sob a liderança de um executivo que comprou a minha luta. Nessa época, pudemos desenvolver um projeto de capacitação e inclusão de mulheres em atividades operacionais portuárias, o que não existia até então no Brasil.

Saímos de 0% de mulheres em atividades operacionais para o incrível número de 20% de mulheres trabalhando em um terminal portuário. Batemos o recorde brasileiro de igualdade de gênero, em percentual de mulheres, trabalhando como colaboradoras de um terminal portuário. Passamos de mulheres que exerciam atividades administrativas ou de suporte, para mulheres que ajudavam a movimentar a economia do Brasil. O empoderamento foi natural, porque não separamos vagas para mulheres, mas sim as encorajamos a disputar as mesmas vagas que anteriormente eram preenchidas somente por homens, por falta de concorrência. Só recebíamos currículos masculinos.

Hoje, precisamos de pessoas que estimulem esse tipo de igualdade no Brasil! Pessoas que encorajem suas esposas, filhas, irmãs, amigas e familiares a enviarem seus currículos e se qualificarem para o que gostam e querem fazer. Não há limites de funções! Precisamos de empresas que abram vagas com salários definidos, que sejam para a função e não para o gênero. Precisamos de coragem, mulherada! Coragem para participar dos processos seletivos sem nos sentirmos menores do que qualquer outra pessoa.

Por fim, precisamos de mais mulheres encorajando outras mulheres a irem além, a quebrarem regras, tabus ou qualquer outra coisa que possa nos limitar a sermos o que quisermos ser. Eu faço a minha parte e você?

Gláucia Braga Mercher Coutinho é advogada e articuladora de empreendedorismo feminino