E se você acorda mais cedo para fazer a tapioca e percebe que o pé já aponta fora da cobertinha infantil, é isso mesmo. As crianças crescem. E se prepara o lanche, que já não pode ser levado na lancheira porque “Quem ainda leva lancheira, mãe?” e percebe-se inútil quando oferece ajuda na lição de matemática que no fundo não sabe fazer. Crescem. 

E quando doem as costas porque dormiu mais do que as oito horas de sempre e se dormiu menos, o humor dá sinais de cansaço, é isso mesmo. A gente envelhece. E se afasta a embalagem do biscoito para focar as letrinhas pequenas e percebe que é inútil ouvir a explicação dos tipos de slime, que seu filho oferece dar, porque no fundo não quer saber. Envelhece. 

E na hora de ouvir um argumento que surpreende tamanha a sofisticação, crescem. Quando se ouve de relance uma conversa cuidadosa com os amigos ao telefone, quando se lê um texto elaborado da escola, quando se empresta uma roupa que fica melhor nelas do que em você. Pronto, crescem. Quando se vê de longe dançar em uma festa e se enxerga ali o poder e a beleza das infinitas possibilidades. Não tem mais volta. Crescem

E se os argumentos – ainda que contrários – comovem, envelhece. Quando conversar com uma amiga cuidadosa ao telefone faz o dia, quando a leitura ajuda a elaborar, quando as roupas começam a perder a importância. Pronto, envelhece. Quando se enxerga dançando diante das impossibilidades, quando se vê beleza nos começos, nos meios e até nos fins. Não tem mais volta. Envelhece.

Enquanto a gente envelhece, as crianças crescem.
Quem bom!