Enquanto aguardamos a vacina para a Covid-19, esperamos também uma solução para a infodemia, termo definido pela OMS como um “dilúvio de informações – precisas ou não – que dificultam o acesso à fontes e orientações confiáveis”. A expressão faz referência ao excesso de conteúdo associado a um assunto específico, como é o caso da pandemia. Neste pacote fica fácil incluir desinformação, manipulação de fatos e intenções duvidosas. Este não é um fenômeno exclusivo desta pandemia. O problema é antigo, mas desta vez a conectividade foi capaz de aumentar a velocidade de propagação.

Para se ter uma ideia deste cenário, em números, compartilho alguns dados publicados pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em um informativo no início de maio de 2020:

Em 30 dias, 361 milhões de vídeos foram carregados no YouTube com tags ligadas a “COVID-19” e “COVID 19”; Desde o início da pandemia, 19.200 artigos foram publicados no Google Scholar; Em março, cerca de 550 milhões de tuítes continham os termos coronavirus, corona virus, covid19, covid-19, covid_19 ou pandemic [pandemia].

Conclusão fácil de chegar: as pessoas estão submersas em vídeos, lives, tuites, posts e artigos. São bilhões de indivíduos consumindo e sendo consumidos pelo excesso de conteúdo. É preciso ter cuidado, é neste espaço que a desinformação cresce em um ritmo acelerado.

Definida como toda informação falsa criada para parecer genuína, com o intuito de causar dano, descrença e polarização, a desinformação é uma fraude que o professor Eugênio Bucci, da Escola de Comunicação da USP, bem resume: “Nós estamos diante de uma usina de produção de notícias fraudulentas, que são forjadas com aparência de ser jornalística confiável, mas não são. A expressão fake news designa uma notícia fabricada com má intenção, que se vale do aspecto de uma notícia jornalística com o propósito de enganar o público. É muito diferente, portanto, de um erro jornalístico, coisas que acontecem todo dia. Uma boa redação jornalística quando comete um erro, ela procura se corrigir.”

A infodemia também encontra espaço fértil com as tecnologias que automatizam buscas. São ferramentas que interpretam padrões de comportamento de usuários, turbinando a comunicação na internet, tudo isso feito por meio da inteligência digital e robôs. Com as pessoas cada vez mais conectadas, os algoritmos estão com suas bolhas afiadas, já que seu papel é entender o comportamento e o consumo de conteúdos de cada usuário da rede, para então oferecer sempre coisas do seu interesse, criando, assim, as famosas bolhas. Se isso estiver aliado a inteligência artificial como a dos robôs que hoje têm seus próprios perfis em redes sociais e são programados para compreender o padrão do algoritmo, temos então um alto poder de distribuição.

Entender esse cenário nos traz um senso maior de responsabilidade. E o que podemos fazer em meio a isso? Bem, primeiro é importante tentar romper a bolha. Ela é confortável, mas nos deixa limitados, menos criativo e suscetível a ver apenas o que a ferramenta detectou do seu perfil. Isso pode ser feito buscando novos termos e assuntos não habituais e neutros, como decoração, paisagismos ou moda, nas páginas de pesquisa e redes sociais.

Além disso, sempre que possível, precisamos denunciar conteúdos falsos. Todas as redes sociais têm esse recurso e é possível achar um tutorial de como fazer a denúncia no Google. A infodemia deste momento tem relação com a COVID-19. Quando temos um grande tema específico em discussão, um meio seguro para se manter informado e combater este problema é a leitura de veículos oficiais, como portais de notícias e sites institucionais, como é o caso da OPAS, da OMS. Leitura diversificada e senso crítico sobre temas e sobre nossas crenças e ideologias ajudam muito neste contexto. Uma forte característica das notícias falsas é seu teor ideológico, incitando muitas vezes emoções como raiva, razão extrema e um senso de necessidade do compartilhamento. E é possível que algumas informações reais também tragam esses sentimentos em um mundo tão polarizado, por isso, além da leitura crítica, desenvolver o hábito de checar informações antes de repassar é essencial no combate a infodemia.

Precisamos ter consciência que hoje todos somos produtores de conteúdo. Nossas postagens, fotos e textos traduzem ao mundo o que somos e é preciso estar atento para não exagerar na quantidade e para que todo conteúdo tenha qualidade e relevância. É importante lembrar que em breve teremos eleições e que esse dilúvio de informações seguirá presente em nossas redes e vidas. Por isso, voltando a pergunta que abre este texto, podemos afirmar que ainda não temos a cura, mas enquanto buscamos soluções precisamos desenvolver e incentivar o pensamento e a leitura crítica de tudo que nos cerca.

Elinéia Denis Ávila é gestora de Marketing e Comunicação na Província Marista Centro-Sul. Profissional de Marketing e Comunicação, com foco em experiência, comportamento e tendências de consumo