RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Casas sem computadores. WhatsApp sem conversas. Um investigado vestindo roupa social às 6h com um diploma devidamente separado.

Foram indícios como esses que levaram o juiz federal Abel Gomes, relator da Operação Furna da Onça no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) a converter na segunda (12) de temporária para preventiva a prisão de dez investigados, entre eles seis deputados estaduais do Rio.

Gomes concordou com a análise da Polícia Federal e da Procuradoria Regional da República de que o cenário encontrado por agentes no momentos das prisões dos investigados indica um vazamento da operação.

A decisão atinge André Corrêa (DEM), Neskau (PTB), Luiz Martins (PDT), Chiquinho da Mangueira (PSC) e Marcos Abrahão (Avante), todos reeleitos este ano, além de Coronel Jairo (Solidariedade), que não conseguiu renovar seu mandato.

Jairo, por exemplo, tinha um computador em casa com todos os arquivos e histórico de navegação apagados, segundo a PF. Ele a filha também saíram de todos os grupos do WhatsApp de que faziam parte.

O coronel não estava em casa quando a PF chegou. Ele havia sido internado, horas antes de a operação ser deflagrada, em um hospital privado, onde está sob custódia.

Na casa de Marcus Vinicius “Neskau” não foi encontrado nenhum computador. O mesmo ocorreu em seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e em sua casa em Petrópolis.

“Não é crível, na realidade de hoje, que em nenhum desses endereços tenha sido possível encontrar qualquer espécie de referência documental em aparelhos de informática de alguém que trabalha como deputado”, escreveu Gomes.

O ex-secretário de Governo Affonso Monnerat, exonerado da gestão Luiz Fernando Pezão (MDB) após sua prisão, recebeu a equipe de agentes da PF “vestido socialmente e com seu diploma de formação acadêmica em envelope devidamente separado”, descreveu o magistrado. Ele também teve a prisão temporária convertida em preventiva.

“Em sua residência não foram localizados computadores ou documentos, sendo também constatado a partir de acesso ao seu aparelho celular que conversas de aplicativo (WhatsApp) teriam sido apagadas, restando pouquíssimos diálogos”, afirma o juiz.

Outros investigados tiveram a prisão preventiva decretada em razão da alta quantia de dinheiro vivo encontrado em suas casas. Também foi levado em conta relatório da Receita Federal que aponta recente movimentação de recursos sem comprovação de origem.

Gomes também determinou a prisão preventiva dos irmãos Fábio e Andreia Nascimento, assessores de Paulo Melo (MDB), preso há um ano na Operação Cadeia Velha, em razão de documentos apreendidos na residências deles.

Segundo a decisão de Gomes, manuscritos orientavam para a destruição de registros de conversas, e-mails, fotos em redes sociais, entre outras potenciais provas.

O magistrado também converteu em preventiva as prisões do vereador Daniel Martins (PDT) -enteado de Luiz Martins- e outros dois assessores. Nove investigados, além do deputado Marcelo Simão (PP), detidos na quinta, foram soltos após o fim do prazo da prisão temporária.

Gomes tomou a decisão individualmente. Ele vai submeter seu voto à 1ª Seção Especializada do TRF-2 até esta quarta-feira (14).

A Alerj foi comunicada sobre a decisão, mas foi mantido o entendimento de que a Casa não tem poder para reverter as prisões dos deputados.

A nova investigação sobre a Alerj tem como base a delação premiada do economista Carlos Miranda, que é tido como uma espécie de gerente da propina arrecadada pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB). O delator afirmou que um grupo de políticos recebia dinheiro de Cabral em troca de apoio no Legislativo.

Os deputados estaduais envolvidos vêm negando as acusações. Ao ser preso na semana passada, André Corrêa disse que confiava na justiça divina e que estava tão tranquilo que “nem advogado” tinha.