Reprodução – O menino Bernardo

PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A enfermeira Graciele Ugulini, madrasta do menino Bernardo, morto aos 11 anos em abril de 2014, em Três Passos, no interior do Rio Grande do Sul, disse que o garoto morreu após ingerir remédios sozinho, no banco de trás de seu carro. Ela foi interrogada na tarde desta quinta-feira (14) durante o seu julgamento.

Em audiência em 2015, ela optou por ficar em silêncio. O julgamento ocorre cinco anos depois da morte da criança.

O pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, a madrasta e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz respondem pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e falsificação ideológica.

Graciele contou que, após ser multada por excesso de velocidade, o menino teria ficado nervoso. Ela então deu Ritalina para Bernardo, e não percebeu efeito. Na sequência, teria jogado a bolsa para o garoto e mandou ele tomar mais remédio. Ao encontrar a amiga Edelvânia, percebeu que Bernardo estava “imóvel, babando” e que não tinha pulso. A amiga teria sido obrigada a ajudar Graciele.

O Ministério Público, porém, entende que o crime foi planejado. O buraco onde ele foi enterrado foi cavado dias antes. Compraram soda cáustica, além do medicamento Midazolan, encontrado no corpo do menino após autópsia. Além disso, para a promotoria, Graciele pagou para receber ajuda de Edelvânia.

A amiga, que em 2014 revelou o local do corpo, admitiu que cavou a cova e inocentou o irmão, Evandro.

Edelvânia desmaiou durante o depoimento. Evandro negou qualquer participação. O pai da criança reclamou do comportamento do filho durante o seu depoimento.

Segundo o médico, o garoto era agressivo. Testemunhas relataram que Bernardo era amoroso e calmo.

O menino passava até quinze dias fora de casa sem que o pai entrasse em contato com os adultos do local onde ele estava, não recebia refeições e não tinha roupas limpas ou do tamanho adequado. Bernardo aparece em vídeos em que o pai provoca o menino e chegou a chamá-lo de “froinha” em outro registro. É possível escutar Graciele chamando a mãe do menino de “vagabunda”.

Odilaine Uglione, mãe de Bernardo, foi encontrada morta no consultório de Boldrini em 2010. A avó do menino desconfiava que não havia sido suicídio.

O Ministério Público reproduziu uma gravação telefônica em que o padrinho de Bernardo telefona para Boldrini após o desaparecimento do garoto. O padrinho está preocupado e questiona se Graciele realmente voltou para a casa com o garoto naquele dia, como tinha dito.

O pai e a madrasta foram para uma festa de música eletrônica na noite do crime. “A Kelly [apelido de Graciele] sumiu com esse guri. Tu tá aí dormindo com essa bagaceira”, gritou o padrinho. No final da sessão desta quarta, Boldrini se defendeu e disse que pretende retomar sua vida quando sair da prisão, voltando a trabalhar como médico em Três Passos.