Por conta da pandemia do Coronavírus, o mundo foi obrigado a desacelerar – para algumas pessoas ele até parou. Todo mundo foi posto em xeque com alguma área da vida. Já os mais resistentes aos novos tempos se viram forçados à mudança.

Gradativamente tivemos de repensar a forma como nos relacionamos, produzimos, consumimos e até nos comunicamos. Assim, estabeleceu-se o “novo normal”, um termo derivado da crise de 2008, que nem à época fez tanto sentido como agora.

Apesar do contexto sem precedentes, a relação entre consumidor e empresa está se transformando e abrindo novas possibilidades de se fazer, vender e consumir moda que, talvez, fiquem como herança para o “Pós-Moda”.

“Estamos num momento em que as marcas devem mais informar do que vender. É preciso criar uma conexão com o consumidor, por meio da comunicação, com a mensagem de que não sairemos igual entramos deste episódio pandêmico; fazemos todos parte de um todo chamado Terra e precisamos usar este momento para avaliar atitudes e até o próprio consumo”, avalia Dani Brito, jornalista especializada em comunicação de moda.

ilustração: Nicole Ramos

Entre os variados comportamentos de consumo que se observam neste momento, o locavorismo (ou localismo) é o que mais se destaca. Como revelam os dados da pesquisa realizada pela consultoria Accenture. Das oito mil pessoas ouvidas em 18 países, entre eles o Brasil, 64% têm comprado mais localmente. E destes, 89% têm interesse em manter o hábito mesmo depois deste período de restrições sociais.

Para Junior Gabardo, educador na área de negócios da moda, além do meio online, deverá existir inovação no ambiente físico. “As marcas terão que ir para as casas, os locais de trabalho ou para o lazer. Essa coisa de ficar estático num ponto comercial me parece estranha para o futuro. Nesse sentido, acredito muito na relevância que a marca vai ter para seus clientes, ou seja, que importância ela tem para aqueles que compram dela. Acho que essa relevância vai definir os motivos que vão levar as pessoas a comprar de alguém”, opina.

Adaptado para a moda, em 2007, pela pesquisadora e ativista de design inglesa Kate Fletcher, não há nada que melhor simbolize esse novo momento que o slow fashion. Um conceito que se contrapõe ao fast fashion e propõe um modelo de produção mais local, que valoriza o criador e respeita o meio ambiente.

Em Curitiba, diversas marcas já atuam com propósito em reduzir essa efemeridade na moda e produzem significativos trabalhos independentes de fomento à mão de obra local, com respeito ao Planeta e outras pessoas. Abaixo, conheça marcas de roupas íntimas até acessórios luxuosos para comprar durante e após a pandemia.


ABSTRAMA 

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Todas as peças da Abstrama vêm com a seguinte etiqueta: “a forma como consumimos tem o poder de mudar o mundo”. À primeira vista, pode soar hipócrita vindo de uma marca que acaba fazendo parte de uma das indústrias mais poluentes da Terra. Porém, é criando moda com propósito que Gabriela Ximenes, de apenas 21 anos, faz a diferença com sua marca de slow fashion. A preocupação com o meio ambiente está na identidade e comunicação da marca que produz roupas atemporais de forma sustentável, prezando por durabilidade e funcionalidade das peças. “Queremos que ao vestir uma peça nossa, as pessoas estejam vestindo uma causa”, conta Gabriela. A marca mostra seu diferencial também na produção: “Para nós, o mais importante é garantir que todas as pessoas da nossa cadeia produtiva recebam remuneração adequada, relações humanizadas e boas condições de trabalho, e isso inclui uma escolha cuidadosa de fornecedores que mantém esse compromisso também”, revela. Na hora de vender, Ximenes também faz sua parte no contexto de saúde pública, enquanto grandes grifes apostam em desfiles presenciais e utilizam modelos sem medidas de contenção na disseminação do Covid-19, ela assumiu a função de modelo no próprio desfile realizado virtualmente (vídeo acima). “O principal propósito que faz a marca seguir firme e continuar impactando pessoas é trazer um novo significado para o ato de vestir-se”, finaliza.

O preço médio dos produtos varia entre R$ 68 e R$ 310, com venda exclusivamente on-line pelo e-commerce (www.abstrama.com.br) e Instagram da marca.


GAL

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Em 2017, uma pesquisa feita pela Fundação Ellen Macarthur revelou que a indústria da moda desperdiça o equivalente a um caminhão de lixo têxtil por segundo no meio ambiente, sem contar os gases de efeito estufa. No mesmo ano, com esse cenário, a designer de moda Khetlin Gomes teve a ideia de criar a GAL Design para fazer a diferença. Uma marca de slow fashion com foco no upcycling e design de superfícies, por meio do bordado. “A ideia (de criar a GAL) surgiu por conta de pequenas sobras de tecido que ainda ficavam após a confecção de bolsas e peças maiores. O aproveitamento aumentou e hoje consigo utilizar cerca de 90% dos retalhos em diferentes produtos”, conta. As técnicas manuais sempre estiveram no DNA familiar de Khetlin, com uma mãe apaixonada por moda, madrinha e avó costureiras e a tia que a ensinou a bordar e utilizar a máquina de costura. “Sempre estive rodeada de mulheres incríveis que utilizavam a moda como meio de sustento, forma de expressão ou atividade de afeto familiar”, lembra ela. Afeto e sororidade formam o encore do negócio, seja por meio da forma como a designer faz tudo sozinha – da curadoria dos tecidos até o marketing na internet. Passando pelas frases e desenhos bordados à mão nas bolsas, jaquetas e acessórios. Ou pela preferência que a designer dá à fornecedoras mulheres. Toda essa preocupação com o meio ambiente, com as pessoas ao redor e com um consumo mais consciente fazem da GAL uma marca que “precisa de amor pra poder pulsar”.

O preço médio dos produtos varia entre R$ 39 e R$ 149, com venda pelo Instagram da marca e no espaço físico Balaio de Gato (Rua Pres. Carlos Cavalcanti, n° 400 – loja 6 – Curitiba).


MIRA!

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Criações de Moda Afetiva e Slow Fashion carregam algumas características essenciais para se fazerem valer do movimento, como ressignificação de materiais usados, atenção ao meio ambiente e valorização da mão de obra envolvida. Mas é o feito à mão que faz a característica mais importante, não só pelo tempo depositado em produzir algo, mas pelo sentimento que a criação vai carregar. É assim que Nicole Ramos passa a maior parte do tempo, debruçada sobre suas joias na MIRA!, com os olhos fixos em suas mãos, como num fluxo gestacional ela dá vida às pequeninas obras de arte. “As joias são feitas à mão, uma a uma, e vão além de uma peça durável e com qualidade, elas carregam significado”, conta. Durabilidade é uma palavra-chave quando se trata de sustentabilidade e longevidade está implícito quanto se trata de joias. Ao observar, por exemplo, uma mãe que no nascimento da filha logo coloca um brinco. Ou mais tarde, um anel ou colar que passa de avó para neta. “Meu propósito é despertar uma sensação de autocuidado, de fazer a pessoa se sentir linda e conectada com a sua própria singularidade”, ambiciona Nicole. Nesse contexto, joias carregam afeto e história, outros aspectos necessários para perpetuarem um consumo mais significativo.

O preço médio dos acessórios varia entre R$ 200 e R$ 600, com venda pelo Instagram da marca ou presencialmente no espaço colaborativo Coletiza (Rua Saldanha Marinho, 1230 – Curitiba).


SERAFINA

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É sabido que o patriarcado, de certa forma, ainda rege a sociedade, e é inegável que seus julgamentos e costumes provocam sobre a mulher opressão e dificultam à ascensão feminina. Nesse contexto, a artesã Thais Cardozo de Meira é um exemplo desse sistema que, por exemplo, é excludente com grávidas. “Somos vistas como um prejuízo e não como uma mãe que busca o melhor para sua família, passei a desacreditar de mim e a pensar que meus sonhos eram apenas devaneios”, relembra. Depois de se tornar mãe e passar anos frustrada no sistema profissional tradicional, ela se redescobriu no empreendedorismo feminino e abriu a Serafina, uma marca de sleep wear, “com o objetivo em vestir as pessoas com muito amor, para que se sintam únicas!”, conta. Mas não foi apenas como saída financeira que Thaís entrou no mercado de moda. A sua relação com o meio começou na adolescência, quando se divertia customizando uniformes do colégio. Hoje em dia, depois do incentivo de amigas e das adversidades, Thais cria e costura todas as peças feitas sob encomenda pelas clientes e deseja que, por meio do negócio, “mulheres se sintam únicas, com suas marcas e cicatrizes, celulites e estrias, que contem suas histórias, tornando-as cada vez mais lindas”, finaliza.

O preço médio dos produtos varia entre R$ 39 e R$ 129, com venda exclusivamente on-line pelas redes sociais da marca.