Franklin de Freitas – Fachinello: “Cresci em uma rádio”

Marcelo Fachinello (PSC) costuma dizer que antes de jornalista, é radialista, porque ele literalmente cresceu dentro da rádio de propriedade do pai na pequena Realeza (região Sudoeste), onde nasceu e viveu até os 18 anos. Deixou a cidade em 1998 para estudar e viver em Curitiba, e 22 anos depois se elegeu vereador da Capital, com 5.326 votos. 

E foi no jornalismo esportivo no qual trabalha há 17 anos que ele buscou a inspiração para a sua principal bandeira: o esporte como agente transformador de vidas. Antes, cursou Gestão Pública e buscou capacitação no Renova BR, um dos muitos movimentos de renovação da política surgidos na esteira da crise iniciada em 2013. Agora, em entrevista ao Bem Paraná, Fachinello explica como pretende colocar essas experiências em práticas na Câmara Municipal, e porque acredita que nos tempos de redes sociais, não há mais espaço para quem faz política fechado em gabinetes.

Bem Paraná – Onde o senhor nasceu, e qual a sua formação?
Marcelo Fachinello – Nasci em Realeza, interior do Paraná, Sudoeste do Estado. Vim para Curitiba em 1998. Com 18 anos. Vim para estudar e ficar aqui. Vim sem a família e meu pai e mãe vieram um ano depois. Sou formado em Gestão Pública.

BP – Como começou o seu interesse na política?
Fachinello – Como morei muito tempo, minha formação de vida inicial foi em uma cidade pequena do interior do Paraná. E naqueles tempos a gente não tinha tanto acesso à informação como tem hoje. Eu sempre busquei informação em jornal, rádios, ouvia muito rádio. Minha história, eu costumo dizer que eu não tinha outro caminho senão ir para a comunicação. Porque meu pai tinha emissora de rádio em Realeza. Desde que me conheço por gente eu ficava dentro da emissora. Eu ouvia muito rádio também. Naquela época não tinha a facilidade da internet. A gente ouvia rádio ondas curtas. Eu digo que sou radialista, e depois a comunicação e o jornalismo esportivo, que eu sempre fiz, vieram depois. Eu buscava muita informação sobre política. Nas cidades pequenas, de 15, 20 mil habitantes, as campanhas são muito acirradas. Todo mundo conhece todos os candidatos. Geralmente são dois candidatos a prefeito, alguns candidatos a vereador, e todo mundo tem um conhecido. E nas campanhas locais eu sempre me interessei, por participar de alguma forma e também por buscar informação sobre política. Como eu estava na rádio direto e eu gostava muito de política, o candidato a prefeito ia lá na emissora gravar o programa político. E eles contratavam os locutores locais para fazer a apresentação dos programas, os comícios que na época eram permitidos ainda. E eu nem podia votar ainda, um desses candidatos me contratou, eu fiz os programas eleitorais, e ele era o candidato do qual meu pai era contrário. Tive uma divisão política em casa, perdi. O candidato do meu pai ganhou. Mas eu digo que a partir daquele momento, eu tinha 12, 14 anos, eu comecei a despertar mesmo e gostar da política.

BP – E quando o senhor resolveu entrar na política institucional partidária?
Fachinello – Aí eu comecei a gostar, a me interessar mais e entender, realmente, que a política está no nosso dia a dia. E de fato, a gente pode, se fizer uma boa política, construir boas parcerias, a gente consegue influenciar a vida das pessoas. Aí eu comecei a trabalhar. Ganhei exposição pelo meu trabalho no rádio, na TV, alguma coisa em jornal e internet, comecei a ver a possibilidade de me candidatar e colocar em prática essas ideias de poder fazer alguma coisa pela coletividade, por um grupo maior de pessoas através da política. E aí acabei indo buscar a formação nesse meio tempo na gestão pública. Nesses dois últimos anos eu fiz uma escola de formação política, que é o Renova BR. E ali também encontrei muita informação, porque o curso era de gestão de cidades e Legislativo. Agora vou fazer uma pós-graduação em Direito Público e Constitucional. Mas da política partidária, eu participei a partir de 2016, quando me candidatei pela primeira vez, porque eu não tinha tido antes nenhum tipo de envolvimento e filiação. Fiz 4168. Fui o primeiro suplente do PTB.

PLENÁRIO
‘Papel do vereador é fiscalizar o prefeito’

Bem Paraná – Qual a principal bandeira de seu mandato?
Marcelo Fachinello – Como eu trabalhei sempre com jornalismo esportivo no rádio e na TV, conheci a cidade inteira nesse sentido: praças esportivas, escolas, centros esportivos, os equipamentos públicos de esporte. E andei muito também as quadras esportivas amadoras, os campos de futebol da várzea da nossa cidade, porque a gente tinha um projeto na TV Educativa que era a transmissão do futebol amador para o Brasil inteiro. Conheci muito a realidade do esporte, dos atletas, dos dirigentes, dos clubes. E realmente acredito muito no esporte como um agente transformador de vidas. Se a gente der oportunidade, condições, capacitar pessoas que possam ensinar crianças, jovens, adolescentes, vai abrir portas. Talvez a gente não vai revelar na sua totalidade campeões em todas as modalidades. Mas a gente vai dar oportunidade de formar um cidadão melhor, mais solidário com o próximo, que tenha disciplina, que saiba perder e ganhar. Ou seja, o esporte formar, pode ajudar na formação de pessoas melhores, que depois vão ser jornalistas, gestores, políticos, qualquer outra profissão. Mas vão ter aquilo. Eu acredito no esporte como agente de transformação, e quero trabalhar muito. Claro, o vereador tem que trabalhar pela coletividade, pela fiscalização, legislação como um todo. Mas o esporte é a minha principal bandeira.

BP – Em relação à gestão do prefeito Rafael Greca, o senhor pretende ser da base de apoio, oposição ou independente?
Fachinello – O papel do legislador é fiscalizar o Executivo, independente de quem seja ele. É nossa obrigação fiscalizar o prefeito e isso a gente vai fazer. Fiscalização é muito importante. E o legislar, que seria a segunda parte, acho que tem que ser avaliado qual o impacto de um voto sim ou não para o bem comum. Uma decisão do Legislativo vai ter influência na comunidade. As boas coisas, que vão influenciar mais gente, para a maior parte da comunidade, não tem porque a gente não votar se a gente for de oposição ou de situação. Eu tenho uma relação muito boa com o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), que tem um futuro político, na nossa cidade, estado, muito importante. Em relação à prefeitura, o PSC, partido pelo qual me elegi, ficou na coligação do prefeito Greca. Então a tendência é essa. Que a gente escolha as boas coisas, vote quando for necessário pró-governo municipal. E quando não for, tomar as suas decisões. Mas fiscalização é importante independente de quem seja o prefeito.

NOVA POLÍTICA
‘Não tem mais como se esconder no gabinete’

Bem Paraná – O senhor já tem algum projeto específico para apresentar já no início da legislatura?
Marcelo Fachinello – A gente está em um coletivo dos novos vereadores, que aí pode ser que lá na frente, não de minha iniciativa, mas desse coletivo ou alguém dele, apresente um projeto para acabar com esses benefícios que são acessórios ao mandato. Não vou usar carro, combustível, cota de selos. Isso já está formalizado junto à Mesa da Câmara. Isso é bem importante porque tem muita gente fazendo e esse movimento, quem sabe venha a ser em uma lei, que não exista mais. Mas eu, na minha bandeira pelo esporte, quero trabalhar pela transformação da lei de incentivo ao esporte. Hoje ela é um decreto. Quero transformar ela em lei. Atualmente, os atletas, treinadores, para-atletas, associações, são beneficiados, só podem, quem dá o incentivo são somente as entidades sem fins lucrativos, os clubes sociais da cidade, através da destinação de parte do IPTU. A gente quer ampliar isso junto com outros vereadores, com as secretarias de Finanças, do Esporte, para que a iniciativa privada possa incentivar, possa destinar parte de seu IPTU, ISS, que chegue para esses atletas, treinadores e associações.

BP – O jornalista, muitas vezes, é visto pela população como um instrumento de cobranças das autoridades, políticos. Como o senhor está encarando o desafio de “mudar de lado do balcão” e passar a ser “vidraça”?
Fachinello – Acho que o advento das mídias sociais deu para todo mundo a possibilidade de cobrar. E também do acesso aos políticos. Hoje em dia não tem mais como se esconder, ficar fechado atrás de uma mesa em um gabinete. O político que quer participar, ele tem que se expor, tem que colocar suas mídias sociais à disposição para as pessoas falarem. As pessoas, o cidadão, mesmo sem mandato, já vinha fazendo isso. Assim como os jornalistas, a imprensa, acho muito importante o nosso papel no processo democrático, de cobrar quem representa a população através de um mandato. Estar do outro lado é realmente como passar para o outro lado do balcão e saber que, eu como qualquer outro político, serei cobrado. E certamente serei mais cobrado porque fazia isso antes quando trabalhei com jornalismo geral, política. E certamente as pessoas também vão esperar isso de mim, na Câmara, no mandato. Acho que a política vai ser assim daqui para frente. Todo mundo vai ter a possibilidade de cobrar todo mundo. E quem se esconder vai ficar fora.

BP – O senhor participou do Renova BR, que é um dos movimentos da sociedade civil organizada que surgiu com a bandeira da nova política. Mas muitos têm sido eleitos com esse selo da “nova política” acabarem entrando no jogo da política tradicional, como o caso do governador do RJ, Wilson Witzel, que hoje sofre um processo de impeachment. Como evitar isso?
Fachinello – Esse exemplo de dois anos atrás onde muita gente surfou em uma onda, em uma esteira de um espectro político, e talvez essas pessoas não estivessem realmente preparadas para um mandato. Talvez não estivessem prontas para, por exemplo, exercer um mandato de governador. Não me sentiria preparado para não ter tido nenhum outro mandato e já diretamente ter um estado para governar. Acho que a gente precisa participar de todo o processo. Como evitar? Quanto mais tempo dessa “nova política” – eu não gostou muito desse termo, mas vai – essas pessoas de primeiro mandato mas que tenham formação, puderem se juntar, como eu falei nessa questão do carro, do combustível, e fazer algo coletivo, acho que isso vai criando, colocando na política mais pessoas, e quanto mais pessoas desse jeito de pensar estiverem ali, democraticamente respeitando espectros, ideologias. Mas com a ideia de fazer uma política mais barata, mais moderna, e quanto mais gente tiver, vai, talvez chegar em um momento em que todos sejam assim. Acho que é todo um processo e que precisa acontecer, porque de fato, as pessoas estão muito descontentes e desacreditadas na política.

BP – Como o senhor vê a questão da pandemia e a forma como a prefeitura lidou com isso?
Fachinello – É uma questão difícil. Até hoje é uma novidade. Isso lá em março, era uma novidade. Foi na base da tentativa e erro. E quem estão na gestão pública, está liderando uma cidade, estado, País, precisa tomar decisões. E elas vão agradar a uns e desagradar outros. A prefeitura vai precisar, nesse processo de retomada da economia estar junto, estar próxima do empresário. E o Legislativo também. Vai ser difícil, como vai ser difícil para todo o País. Mas é importante ressaltar que em momento algum a gente precisou escolher alguém para ir para uma UTI. Fala-se muito na questão econômica, nas empresas e empregos e de fato, muitas empresas fecharam, pessoas perderam empregos. Sem dúvida nenhuma tem impacto na vida das pessoas. Mas e se tivesse que chegar na porta do hospital e escolher entre um familiar meu, ou de outra pessoa. Isso é duro. Isso não aconteceu na nossa cidade. Nesse processo de tentativa e erro que tem sido a pandemia, acho que a gente está se saindo bem. Mas vai precisar da mão amiga do Executivo e do Legislativo nesse processo de retomada da economia da cidade.