Franklin de Freitas – O corre-corre diário de pessoas na Ceasa de Curitiba: alguns setores sofreram mais com a pandemia

Se teve em Curitiba alguém que não parou na pandemia do coronavírus, esse alguém foi a Ceasa de Curitiba. Mesmo em meio à crise sanitária, a Ceasa vê a movimentação de 17 mil pessoas e a comercialização de mais de 2.200 toneladas de alimentos a cada dia – menos aos domingos, quando o espaço fecha. Alguns comerciantes até dizem que as vendas aumentaram desde março, quando as medidas sanitárias foram tomadas na capital paranaense.

“A Ceasa em nenhum momento parou. Lá fora teve que fechar loja, comércio. Aqui todos continuaram funcionando”, disse o diretor técnico e gerente da Ceasa Curitiba, Paulo Ricardo da Nova.

Para alguns, essa mudança no movimento até aumentou o volume de negócios em plena pandemia. “Para nós, aumentaram as vendas. Isso se deve um pouco pelo fato de as pessoas estarem mais em casa”, avaliou a permissionária Josiliane Dumaiski, que vende pimentões e tomates na Ceasa. O perfil da clientela ajudou para ela e o marido, que está na Ceasa há 20 anos, aumentarem as vendas. “Nossa distribuição para restaurantes é o mínimo. Nossa maior distribuição é para supermercados, quitandas e mercados de bairro, no Paraná e fora do Paraná”.

Consequentemente, também aumentou o trabalho. “O trabalho pessoal aumentou também”, disse Josiliane. “O setor empregatício não ficou sem trabalho. O setor de alimentação não sofreu consequências, como outras empresas que dependem de vendas diretas, como setor de tecidos e roupas”.

Alguns comerciantes, porém, relatam alguma dificuldade nesse período. É o caso do produtor rural Felipe Suoti, que está há 34 anos na Ceasa e vende hortaliças como alfaces e brócolis. “Ultimamente está no vermelho, esse que é o problema”, afirmou ele. “Ao menos, não sobra muito, porque a gente planta o que vende. Então, a gente já leva controlado (para vender)”. Segundo Paulo da Nova, setores como a venda de flores sofreram mais com os efeitos da pandemia. Mesmo assim, não pararam.

Na pandemia, o que a Ceasa verificou foi uma mudança no perfil dos compradores. “Pequenos comerciantes pararam de comprar. Mas grandes redes aumentaram as compras”, afirmou Paulo da Nova. Segundo ele, as pessoas que costumavam almoçar em restaurantes passaram a fazer as refeições em casa. “Isso dificultou para os atacadistas que tinham como clientes os restaurantes, esses sofreram mais. O (comerciante) que tem uma gama maior de compradores, grandes mercados, ou mercados de bairro, esse passou legal”.

Clientela
O funcionamento sem parar da Ceasa na pandemia também foi atestado por clientes. “Não parou nada, ficou normal. É só usar máscara e pronto” disse Maurício Bertoli, dono do Sacolão Ahu, que compra frutas e verduras na Ceasa para revender no bairro.

Comerciantes como Bertoli também não pararam. “Um comércio igual ao meu não foi obrigado a parar. A gente trabalho normal, não teve restrição de horário”, afirmou ele.

O dono do Sacolão confirmou, por outro lado, que o movimento caiu um pouco por causa da pandemia. “O pessoal que mexia com eventos parou de comprar. Quem tinha bar, buffet, e comprava com a gente, também”, disse ele. “Nosso movimento caiu um pouco, mas foi em decorrência disso. Da parte de abastecimento, de parar de comprar, isso não teve”.

Leilão de áreas da Ceasa vira indicativo de crescimento na pandemia
Um dos indicativos de crescimento da Ceasa Curitiba foi a realização de uma licitação de 49 áreas dos 54 lotes da unidade da empresa. O leilão foi realizado em setembro. O sistema de pregão presencial foi realizado em três dias. No primeiro, no dia 28, houve o credenciamento e recebimento dos envelopes com as propostas. Nos dois dias seguintes, 29 e 30 de setembro, foram feitas as aberturas dos envelopes, para os respectivos lotes.

“Fizemos a licitação de áreas e tivemos procura enorme. Muita gente que perdeu negócio lá fora veio tentar espaço aqui”, afirmou o diretor técnico e gerente da Ceasa Curitiba, Paulo Ricardo da Nova.

Ao todo, 541 propostas tentaram um lugar entre as 49 áreas disponíveis na Ceasa. “Mesmo num período de instabilidade na nossa economia, provocada pela pandemia, a procura para participar do comércio atacadista de hortigranjeiros mostra a importância desse setor da nossa agricultura”, disse o diretor presidente da Ceasa Paraná, Éder Eduardo Bublitz.

A permissão de uso dos espaços dos boxes e áreas na Ceasa Curitiba vale por 20 anos, conforme as condições previstas legalmente. Com os novos participantes, a Ceasa passa a ter 459 empresas atacadistas, outras 44 empresas que negociam produtos atípicos e 15 áreas específicas para lanchonetes e restaurantes, além de três bancos.

‘Alcool gel para todos os lados’ e outros cuidados foram tomados
Para que a Ceasa continuasse a funcionar, porém, foi preciso mudar os hábitos de todos. Itens como máscaras, distanciamento social e álcool gel passaram a fazer parte do cotidiano. “Tomamos todas as providências. Tem álcool gel para tudo que é lado e desinfecção de corredores. Dobramos as pessoas que faziam limpeza, tem até caminhão pipa para higienizar toda a unidade no fim de semana”, afirmou Paulo da Nova. Outras providências são a disponibilização de atendimento médico e a divulgação de orientações em geral.

Os próprios produtores e comerciantes adotaram cuidados por conta própria. “A rotina mudou totalmente. Agora precisa utilizar mascara, álcool gel. Estamos cuidando da higienização”, afirmou Josiliane Dumaiski, que pelo menos em seu box de comércio faz o possível até para evitar que as pessoas se aglomerem. “A gente pede com educação para manter distância”, disse ela