Recebi no início de novembro uma cartinha dos vizinhos que acabavam de comprar um apartamento no prédio. Começaria naquela semana uma reforma. Eles pediam desculpas pelo transtorno e comunicavam cada uma das etapas e seus devidos prazos. Uma delicadeza. Simpatizei automaticamente com o casal que ainda não chegou em definitivo.

Sim, fevereiro se aproxima e a reforma segue com força. Das etapas estruturais que estariam prontas em ‘no máximo’ três semanas, ainda não sinto qualquer tom de despedida. A impressão que tenho todos os dias (exceto aos domingos), pontualmente a partir das 8h, é a de que ainda estamos derrubando paredes. Quantas paredes há mais para serem derrubadas não sei. Mas o martelo não descansa. A poeira não cansa de invadir o meu apartamento. E eu cansei. O transtorno beira o insuportável.

Veja bem, não sou contrária a reformas, mas isso não faz com que eu goste delas a 100%. Mudanças (de qualquer tipo) me/nos são incômodas. Costumam se apresentar sedutoras: “Desculpem o transtorno…”, “Nunca mais preciso olhar na cara desse chefe”, “Agora que virei mãe”… Dificilmente tardam a fazer barulho. Que parte de nós se aborrece tão rapidamente com o coitado do vizinho que comprou um apartamento de 60 anos que pre-ci-sa (!) de reforma?

Será que ouvir o barulho da mudança do outro nos põe em contato com nossa própria inércia? A vida precisa de reforma minha gente, de manutenção eterna. E, não quero ser eu a dar a má notícia, mas quanto mais adiadas forem, mais complicadas ficam. A escolha é sua, dá pra derrubar parede, trocar o encanamento e a elétrica, ou só pintar e dedetizar. Mas o fato é que vai fazer barulho. A gente dá conta.

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