Há quem diga que de poeta e louco todos temos um pouco. O curitibano Osiris Duarte, porém, é uma daquelas raras pessoas que têm é muito das duas coisas. Seu apelido, Ziro RoriZ, indica com que tipo de sujeito estamos lidando ao conversar com o extrovertido cabeludo de barba cheia. Formado em Matemática, mas também apaixonado pelas palavras, ele é um aficionado por palindromia – a arte e brincadeira (ou loucura saudável, como ele próprio costuma afirmar) de criar frases que podem ser lidas do fim para o começo (ou da direita para a esquerda).

Aos 65 anos, Roriz coleciona mais de 4 mil palíndromos, e isso sem contar os mais de mil que já descartou. No ano passado, lançou seu segundo livro chamado Palíndromos: um desafio linguístico (já havia publicado Haicais e Haikus em 2012). Agora, se prepara para lançar a segunda edição da obra, quebrando pela terceira vez consecutiva o recorde de maior palíndromo em língua portuguesa, com 429 palavras (contando o título).

Embora a relação com a palindromia tenha nascido há 50 anos, durante uma aula de português no Colégio Estadual do Paraná (CEP), a paixão só foi de fato florescer no começo dos anos 2000, ao mesmo tempo em que o autor celebrava a maturidade e se dava conta de que seu apelido de infância, Ziro Roriz, era palindrômico.

Quando eu tinha uns 15 anos, um colega escreveu durante uma apresentação a frase ‘socorram-me subi no ônibus em marrocos’. Ninguém entendeu nada, até o professor ficou surpreso. Daí ele pediu para lermos de trás para frente. Depois disso, fiquei semanas tentando encontrar palavras e criar frases que dessem para ler de trás para frente, relembra o palindromista, que após o primeiro contato só foi se reencontrar com os palíndromos décadas depois. Por uns 30 anos ficou no meu subconsciente. Foi quando eu tinha 45 anos que comecei a escrever crônica e poesia. Daí um dia vi alguma coisa sobre palíndromos em algum lugar, comecei a pesquisar e não parei mais.

Hoje em dia, conta o autor, os palíndromos já vem automaticamente à cabeça. Eu mentalizo a palavra e ela já me vem ao contrário, diz ele, comentando ainda que a brincadeira faz parte do nosso dia a dia, mesmo que muitas vezes nem percebamos isso. Palíndromo não tem fim, está em todos os lugares. Lojas Renner, por exemplo, é um palíndromo. A marca de perfumes Kaiak também. Entre nomes, um bastante comum é Ana, tem ainda Nathan. É um campo que não acaba mais.


Professor é referência internacional

Único membro em língua portuguesa do Clube Palindrômico de Barcelona, Roriz comemora uma fase pop star. É que nos últimos tempos, o reconhecimento começou a vir. Além participações em programas de rádio na Europa, em maio ele também foi entrevistado no Programa do Jô Soares. Em Portugal já estou mais conhecido, mas meu livro também vende bem por aqui (a obra está disponível nas livrarias Curitiba, Catarinense e Cultura, por R$ 49,00). Quando apareci no Jô, recebi e-mail de todo o mundo, conta o escritor, relembrando que o Bem Paraná, no longínquo ano de 2008, foi o primeiro veículo de comunicação a entrevistá-lo (na época, a publicação ainda se chamava Jornal do Estado).
Atualmente se revezando entre idas e vindas de Portugal para o Brasil e do Brasil para Portugal, Roriz trabalha para conquistar o forte mercado literário da Terrinha, enquanto tenta também emplacar de vez seu livro no Brasil.


Exemplos

O duplo pó do trote torpe de potro meu que morto pede protetor todo polpudo

Reverta atrever

Só com o tio somávamos oito moços

É na tropa do avô novo no vão da porta né

Ovacionar a paranóica vo

Ziro tem ainda um palíndromo com 356 palavras