Franklin de Freitas – Paulo Opuszka: “Administração voltada para os bairros”

Professor de Direito da Universidade Federal do Paraná, o candidato do PT à prefeitura de Curitiba, Paulo Opuszka, disputa uma eleição pela primeira vez, apesar de já ter experiência no trabalho de bastidores de campanhas e na gestão pública. No governo do ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT), foi superintendente do Instituto Municipal de Administração Pública (Imap). E apesar dos resultados ruins que o partido tem colhido na Capital paranaense, nas últimas eleições, ele diz acreditar que a pior fase da legenda já passou, e que a própria pandemia do Covid-19 deu razão à sigla, que tem entre suas bandeiras a defesa do papel social do estado.
Para ele, o prefeito Rafael Greca (DEM) “perdeu o comando” do enfrentamento do coronavírus, e errou ao priorizar o socorro às empresas de ônibus, em detrimento de pequenas e microempresas. Em entrevista ao Bem Paraná, ele também defende o partido das acusações de corrupção e acusa a Lava Jato de atuar ideologicamente.

Bem Paraná – Qual a principal bandeira da sua candidatura?
Paulo Opuszka – O cuidado das pessoas. Uma administração voltada para os bairros mais pobres, a periferia de Curitiba. Pensar em alternativa da cultura do emprego, do cuidado com a juventude, do trabalho, da renda, voltado para a população que mais precisa. Pensar, por exemplo, qual vai ser a solução que vai ter com essa mudança na lei de zoneamento, como no entorno da BR, da Linha Verde, um novo uso de ocupação do solo nos limites dessa Linha Verde. Por exemplo, o CIC tem um potencial, era para ser um bairro desenvolvido por conta da indústria. Porque não é? Porque é tão grave a questão da moradia? Qual modelo de segurança pública a gente vai ter? A gente vai ter que construir. Como vai ser o modelo de educação depois que a criança ficou um ano em casa? A diferença em relação a outras candidaturas é que o PT tem um compromisso com o servidor público, com a defesa do SUS, da escola pública de qualidade, com o trabalhador, e com a cidade para todos, mais do que para alguns.

BP – Na última eleição para prefeito de Curitiba, em 2016, o candidato do PT teve menos de 5% dos votos. Porque o senhor acredita que desta vez será diferente?
Opuszka – Antes disso o Vanhoni chegou ao segundo turno por duas eleições. Depois vem os governos Lula e Dilma. O Tadeu (Veneri) fez essa votação talvez no pior momento do PT. Toda a questão da guerra de discurso na internet, uma depreciação do partido, a Lava Jato que é de Curitiba. Isso faz diferença. Depois o impeachment, golpe da presidente Dilma, na sequência a prisão do Lula. Isso tudo aqui, nesse ambiente. Hoje a população começa a perceber que alguma coisa estava errada. Depois do Intercept, de outras questões relacionadas ao que a gente viveu. E a pandemia traz a necessidade do estado ter força. E essa é uma bandeira do PT. Acho que a conjuntura começa a mudar. Acho que a gente vai ter surpresas nessa eleição. Uma eleição como nunca teve. Das redes sociais, em que as pessoas estão prestando atenção no cotidiano. Todo mundo fazendo live. Se comunicando por aqui. Tem muito a ser construído.

ONDA CONSERVADORA
‘Esquerda viveu um momento de letargia’

Bem Paraná – O senhor tem experiência em administração pública, mas é desconhecido da maioria da população. Como pretende superar isso?
Paulo Opuszka – Eu estou há dois, três meses, tentando me comunicar com o povo. A gente vai fazer campanha, tem comunicação. O PT tem uma questão específica que é o fato de ser um partido que as pessoas gostam do partido. Quem vota no PT, vota no PT independente da figura. Esse é um detalhe que talvez faça diferença. E a estratégia vai ser o que a gente tiver no momento. As redes. O panfleto na rua, por exemplo, você não consegue entregar, tem gente que não pega. Hoje está muito difícil. Mas eu acho que a gente supera isso com estratégia de comunicação.

BP – Muito se fala sobre a falta de autocrítica do PT em relação ao que aconteceu na Petrobrás. Por mais que se possa questionar os procedimentos, o fato é que foram devolvidos centenas de milhões de reais por ex-diretores da empresa durante o governo do partido. E o PT nunca se pronunciou claramente sobre isso. O que o senhor tem a dizer?
Opuszka – Primeiro a gente tem que pensar na figura central, que é o Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras). Quem é que colocou ele lá? Ele é um diretor que entrou com o (José) Sarney. Ou seja, algumas situações ligadas a isso estão bem antes do PT. Durante o governo do PT, a Dilma encontrou vários problemas. E colocou a Graça Foster para poder revelar tudo isso. Mas em meio já a uma disputa de poder capitaneada pelo Eduardo Cunha. O PT sempre combateu a corrupção. Aprimorou a Advocacia Geral da União (AGU). Aumentou a Polícia Federal. Deu mais poder ao Ministério Público Federal. Foi a Dilma que deu esse poder de investigação para dentro do MPF, que era da PF. O PT sempre defendeu um estado forte que combatesse a corrupção. E a gente tem que pensar o seguinte: os principais índices de desenvolvimento econômico que o Brasil teve foi no governo Lula, na passagem para a Dilma. Não foi no milagre econômico nos anos 70. Se você olhar, lá teve um grande momento. Mas o Brasil viveu em 2014 talvez o único momento em que a gente teve pleno emprego. E o PT está vivo. E a gente não pode deixar, por exemplo, que a fome assole o Brasil de novo. Esse foi a principal bandeira do PT. Nós não podemos ter medo de investigação. Mas a gente tem que tentar entender a diferença entre isso e o uso ideológico do Estado. Hoje, olhando para Lava Jato percebe o que foi republicano e o que foi ideológico.

BP– O senhor chegou a falar em uma união de forças progressistas em Curitiba, o que acabou não se confirmando. Porque não vingou isso?
Opuszka – Primeiro que a figura mais forte é o Requião nesse momento que poderia gerar essa unidade. O Requião não quis ser candidato. Ele diz sempre que perdeu a eleição (para o Senado) pela defesa intransigente do PT. Essa é a opinão dele. A questão legislativa atrapalha bastante, porque não tem mais coligações nas eleições proporcionais. Então aquele partido que não lança seu candidato periga não eleger vereador. Com as candidaturas da Camila (Lanes, do PC do B) e da Letícia (Lanz, do PSOL), pode ser que o PC do B e o PSOL tenham um vereador. A questão acabou sendo mais complexa com o Goura (PDT). Nossa tentativa de fazer uma unidade, porque temos princípios muito próximos, mas naquele momento o Goura mesmo entendeu que não era o caso de coligar. Nós tentamos, ele não quis. Nós fizemos o movimento. Mostramos que a esquerda unida é a defesa da dos direitos fundamentais sociais e da população mais necessitada. Além de estarmos vivendo um momento complexo de uma retomada de uma antidemocracia, um autoritarismo muito forte. A esquerda tem que cuidar disso.

BP – Mesmo no plano nacional, não se vê uma atuação conjunta das oposições. Porque isso acontece? O senhor vê espaço para uma unidade da esquerda em 2022?
Opuszka – Eu acho que a esquerda está começando a descobrir agora como foi esse método de comunicação muito forte que veio dos Estados Unidos, da eleição do Trump, que mudou completamente o jeito de se fazer e falar de política. E isso, de certa forma, a esquerda viveu um momento de letargia. Percebendo os ruídos e não reagindo. Reagiu, talvez, tarde. Tanto que a reforma trabalhista e a da previdência aconteceram. As entidades sindicais tentaram fazer uma reação. Mas o povo não comprou. O povo acredita que a reforma trabalhista foi boa, que a da previdência vai ajudar. Daqui 5, 6 anos a gente vai notar no bolso e na miséria o resultado dessas reformas. Agora dá tempo ainda porque vem a reforma administrativa. Nunca foi tão necessário o estado quanto na pandemia.

PANDEMIA
‘Greca perdeu o comando’

Bem Paraná – O que o senhor acha da forma como a gestão Greca lidou com a pandemia?
Paulo Opuszka – A atual gestão começou bem porque, no primeiro momento, decretou a necessidade de paralisação. Porém, em uma altura cedeu à pressão principalmente dos grandes empresários. E aí nesse momento abre e fecha no momento em que não dá para abrir e fechar. Com um bom lockdown de 60 dias teria evitado metade das mortes que aconteceram em Curitiba. O prefeito perdeu um pouco o comando. Mas quem tem o comando central para combater a pandemia é o governo federal. Se o governo federal banaliza a pandemia, o governo do Estado fica com um problema que tem que fazer uma contraordem, e o município fica na contraordem, em uma terceira ordem. A gente não sabe quem decreta a bandeira de onde. A gente estava com bandeira laranja e os bares estavam abertos.

BP – Qual o principal desafio do próximo prefeito?
Opuszka – O principal desafio é o emprego e renda, é a retomada da economia. É a retomada do trabalho, o pequeno empresário com algum tipo de subsídio, apoio. A gente vai ter que pensar como fazer para tirar custo de algo que está dentro da indústria para ela fazer a nova contratação, já que demitiu bastante agora. Uma coisa que a gente tem estudado, na cadeia produtiva, tentar ver se é possível trazer o fornecedor da indústria para Curitiba para poder diminuir o custo de logística, e a partir dali gerar mais emprego ou melhorar os salários. Curitiba tem 68% de serviços. Vai ter que ter um estudo específico para uma ação concreta. O município pode ser indutor de economia. Por isso que eu defendo, sempre defendi como professor e político agora, a necessidade de aplicar a metodologia do que foi a intervenção do estado nas políticas anticíclicas para poder recuperar a economia.

BP – De onde virão os recursos já que houve queda de arrecadação?
Opuszka – Não vai ter jeito se não tiver endividamento. Nosso município que é rico vai ter que se endividar, em um primeiro momento, para oferecer receita para as empresas, pequenos empresários, startups, empresário médio, e essa pessoa depois, girando a economia, retorna imposto. Não tem outra saída, não podemos endividar o empresário, nem sacrificar o trabalhador.

TRANSPORTE COLETIVO
‘Sistema está em vias de falência’

Bem Paraná – O que o senhor acha do subsídio oferecido pela gestão Greca para as empresas de ônibus?
Paulo Opuszka – O transporte coletivo já está em vias de falência há muito tempo. Com a entrada dos novos modais, do Uber, da bicicleta, as pessoas irem a pé para o trabalho, o ônibus está perdendo cada vez mais o seu cliente. Não é a pandemia só. A pandemia acabou sendo uma desculpa para salvaguardar esse consórcio que a gente sabe em Curitiba representa uma questão polêmica desde os últimos contratos. Com a metade do subsídio daria para salvaguardar os pequenos e médios empresários.

BP – Na gestão do Fruet, que o PT integrou, o prefeito tentou discutir os contratos do transporte coletivo, mas a questão acabou parando na Justiça. Como o senhor pretende enfrentar isso sem cair novamente em uma disputa judicial infrutífera?
Opuszka – Esse é um dos principais problemas. O comprometimento dos tribunais do Paraná. Enfrentar isso é algo duro e difícil. Onde acaba parando é na complexidade dos contratos. É um contrato de licitação complexa, que rapidamente você consegue através de mandado de segurança não romper o contrato. Esses artifícios jurídicos, o prefeito tem que conhecer, porque se não conhecer não consegue enfrentar. Ainda tem o Tribunal de Contas, tem os órgãos de controle e tem todo o jogo político das instâncias. Para enfrentar esse problema o prefeito tem que ter coragem e conhecer como se desmonta um sistema altamente complexo. O próprio Requião lá atrás prometeu acabar com o pedágio e não conseguiu. A complexidade do arraigamento do poder que existe nos tribunais. E isso não é fácil de romper. Mas tem como romper juridicamente também.

BP – O Fruet alegou que sofreu boicote do governo do Estado na gestão Beto Richa. O PT na prefeitura, como oposição ao governo Ratinho Júnior, não pode sofrer o mesmo?
Opuszka – Eu acho que com o Ratinho Jr, ele é um governador hábil na negociação política. Não sei se a gente vai ter problema com o governo do Estado. Porque o prefeito não é prefeito de um partido, mas de todos. Ele precisa, de cara, mostrar seu compromisso com as forças políticas da cidade. A medida que tem que ser tomada em janeiro é sentar com todas essas forças, é entender o que precisa ser levado ao governador e imediatamente sentar o governador e discutir as saídas. No momento em que alguém é eleito prefeito passa a ser representante da cidade. E a gente vai precisar fazer enfrentamento duro no que for preciso, mas discutir e dialogar no que for possível. Eu não tenho nenhuma pretensão de romper (com o governo federal). Exceto do ponto de vista dos direitos fundamentais, e do totalitarismo e do fascismo. Mas existe uma ação de estado tanto do presidente quanto do governador que o prefeito também tem que agir. Não tenho medo nem preocupação de ir ao presidente e ao governador.

BP – As restrições da pandemia prejudicam a campanha das oposições?
Opuszka – Prejudica, mas a gente tem que pensar que está em defesa da saúde e da vida. Não é por isso que eu vou sair na rua, fazer campanha aberta, carro de som, comício e atravessar o momento em que estamos vivendo. Estamos conhecendo e agindo agora. A gente tem feito reuniões por videoconferência com distanciamento, uso de máscara. Como a gente está podendo. Usando as redes, aprendendo a se comunicar de uma forma diferente. A live é a vida real na tela.

BP – Fala-se muito que Curitiba teria perdido a capacidade de inovação? O senhor concorda?
Opuszka – A conurbação, o encontro das cidades da região metropolitana com Curitiba vem acompanhado de falta de planejamento, fruto de coisas que aconteceram no final dos anos 90. Isso gera um desmonte quase completo daquele planejamento que a gente tinha. A gente precisa pensar a cidade de forma metropolitana hoje. É preciso um conselho de prefeitos que possa discutir problemas como lixo, meio ambiente, saúde, algo da educação e problemas comuns.

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