Vocês já tiveram a sensação de estranhar o próprio nome? Não, não se trata de ler uma grafia equivocada, como quando uma outra Isabella com dois ‘Ls’, que não é você, surge escrita em algum lugar, ou uma Mariane que por algum motivo não saiu Mariana… Não é isso. Para essas ocasiões, a gente experimenta uma mini agonia, coisa rápida de um segundo, que é possível recuperar quando você diz pra si “não sou eu”, “não é comigo”, ou mesmo que seja com você, quando você lembra “sigo intacto, faltou um letra, mas sobrevivo sem ela”. Essa é tranquila. Quase diária quando, como no meu caso, seu avô inventa um D’Albuquerque, assim com essa maiúscula meio se sentido, separada pelo apóstrofo pra lá de mal aceito nos formulários digitais.

O que se deu comigo essa semana, foi outro coisa, mas já conto, só um minuto. Lembrei de uma história curiosa. Quando eu tinha uns 19 anos, fui convidada a fazer a capa de um livro. Já nem me lembro do título, muito menos da imagem que criei para ilustrá-lo. Fato é que escrevi o nome da autora errado. E não é que fosse um errinho besta de digitação, uma letra a mais ou a menos. Era algo do tipo Fulana Medeiros e eu mandei para a gráfica um Fulana Magalhães. Importante dizer que antes de mandar aprovei a capa tanto com a editora quanto com a própria autora. Quando a coisa toda estava impressa e encadernada – e eu adoraria dizer que era uma tiragem enorme, para dar mais impacto a minha lembrança, mas na verdade era uma autopublicação de umas 100 cópias no máximo – recebi notícias da insatisfação de todos os envolvidos no processo, aos gritos, como se pode imaginar. Minha resposta foi simples: cometemos todos um erro, eu por ser desatenta (desatenta é pouco) ao fazer o trabalho, e vocês por não terem identificado um erro tão significativo ao aprovar minha sugestão de capa. Nunca mais me ligaram. Nem para reclamar, nem para me convidar para um próximo trabalho. Obviamente.

Como pode alguém não se perceber ausente na grafia do próprio nome? Hoje penso que foram dois atos falhos lindo, o meu e o dela. Não sei se eu gostaria de ter feito aquela capa e, mais importante ainda, não sei se ela gostaria de ter escrito aquele livro. Pois, foi também em um livro, que vi meu nome onde ele não estava. Era um poema da Inês Lourenço. Assim que abri a página, li na penúltima palavra da sétima linha “roberta”. Dei por falta do ‘R’ maiúsculo, mas gostei de fazer parte do texto. Outro ato falho comovente, não havia roberta algum escrito ali, mas havia um tanto de Roberta. Deixo vocês com o poema. Boa semana queridos!

SALA PROVISÓRIA

Nunca se sabe

quando estamos num lugar

pela última vez. Numa casa

que vai ser demolida, numa sala

provisória que vai encerrar, num velho

café que mudará de ramo, como

página virada jamais reaberta, como

canção demasiado gasta, como

abraço tornado irrepetível, numa

porta a que não voltaremos.

 

Inês Lourenço, O Segundo Olhar, Companhia das Ilhas, 2015

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