Não foi uma nem duas vezes que o então governador do Paraná Roberto Requião (MDB), em seus eloqüentes e por vezes intermináveis discursos, disparou a frase: “Nós se finge (sic) de leitão, para mamar deitado”. Uma das vezes que ele citou esta “pérola” foi em 2010 quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) da Petrobrás, em Araucária. Os dois estavam em fim de mandato e articulavam alianças para a eleição daquele ano. Requião se referia ao astuto planejamento de aliar PMDB e PT no estado do Paraná tendo como cabeça de chapa Osmar Dias (PDT) para disputa pelo governo do Paraná. 
O resultado é conhecido. Requião virou Senador da República. Lula elegeu a até então desconhecida Dilma Rousseff. E Osmar perdeu a eleição para Beto Richa (PSDB). Sabe-se também que naquela mesma Repar, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal identificaram uma série de irregularidades em contratos da refinaria. Mas deixemos isso de lado e voltamos a falar de Requião.   
O senador é atualmente mais quisto e visto nas fileiras do PT do que dentro do próprio partido. Não se pode negar, porém, que Requião não mantém seus posicionamentos, por mais polêmicos e desgastantes que sejam. Senão vejamos. Requião era um dos poucos políticos que esteve com Lula, no Sindicato dos Metalúrgicos,horas antes do ex-presidente se entregar e ser preso pela Polícia Federal. O emedebista é um dos poucos políticos que tem participado da vigília e dos atos políticos dos manifestantes pró-Lula no entorno da sede da PF em Curitiba. 
Requião, no entanto, sabe o desgaste político que isso têm lhe causado. As pesquisas eleitorais feitas no Paraná, um dos estados mais afastados dos ideais de esquerda do país, são implacáveis com àqueles que têm andado de braços dados com Lula. Mas Requião não é bobo. Longe disso. 
E aí voltemos à pérola dita por ele. “Nós se finge (sic) de leitão, para mamar deitado”. E em todo esse caos petista, Requião está de olho no eleitorado fiel, da militância petista, que elegeu Gleisi Hoffmann também senadora da República. Espera abocanhar os votos dela para consolidar uma reeleição tranqüila.  
Tanto ela quanto Requião estão no final do mandato no Senado, tendo que passar pela aprovação popular para renovar por mais 8 anos. O emedebista, embora  discurse num tom de quem vai disputar o Palácio Iguaçu, vai mesmo é tentar a reeleição. Já Gleisi está numa situação pior e não vai arriscar. Ré numa ação penal que tramita no Supremo Tribunal Federal por crime de corrupção, no âmbito da Lava Jato, a petista vai deixar o Senado e tentar uma vaga na Câmara Federal. Corre até mesmo o risco dela ser impedida de participar do processo eleitoral, por causa da Lei da Ficha Limpa, caso venha a ser condenada pelo STF — já que o processo contra ela está na reta final e o julgamento pode acontecer nas próximas semanas. 

Aécio na esteira de Lula
O tucano Aécio Neves já não pensa como antes. O discurso contra o petismo, defendendo a prisão de quem sangrou os cofres públicos com o esquema do Petrolão, custe o que custar há tempos tem ficado de lado. No fim do ano passado o tom baixou bem: “Não torço pela prisão do Lula”, dizia. Aécio sabia que também estava em maus lençóis. Tentou de tudo. Concedeu uma entrevista coletiva em que admitiu: “cometi erros, mas não cometi crimes”. Ontem, o tucano virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) denunciado pelos crimes de corrupção e obstrução de Justiça. Ele foi acusado de pedir propina de R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono da J&F. Narra a Procuradoria Geral da República que este vultuoso montante viria em troca de favores políticos. Na época a explicação de Aécio foi para lá de estapafúrdia. Disse que estava pedindo empréstimo para um amigo. Mas nas conversas interceptadas pela PF, com autorização judicial, Aécio indica o primo Fred (Frederico CCCC) para buscar o “tal empréstimo” porque ele seria de sua confiança: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”. A PF chegou a flagrar a entrega de parte destes R$ 2 milhões. Fred recebeu a mala com o dinheiro das mãos de um representante de Joeseley.  E uma semana depois da prisão de Lula o STF pautou o julgamento sobre o recebimento da denúncia contra o tucano. O placar foi elástico. Todos os ministros votaram pela admissibilidade da ação penal.