Marcello Casal Jr/Agência Brasil – Aeroporto Juscelino Kubitschek

Um balanço da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) aponta que uma possível retomada do setor após a crise do coronavírus passar, prevista para o segundo semestre, deve começar por viagens domésticas, que são mais acessíveis financeiramente e transmitem maior segurança aos viajantes.

Com a paralisação de diversos setores da economia, demissões, e gastos extras durante o momento de isolamento social, aliado ao medo de viagens internacionais, as operadoras acreditam que poucos se aventurarão em viagens mais longas, preferindo os destinos domésticos.

Uma outra pesquisa, a Pulso Turismo e Covid-19, também aponta para esta tendência futura. “O resultado mostra que as pessoas precisam sentir-se confiantes no controle da doença antes de voltarem a viajar. As viagens internacionais tendem a continuar afetadas por um tempo maior, uma vez que 60,48% dos 300 respondentes afirmam que não pretendem voltar a viajar internacionalmente até que haja confiança no controle da pandemia. Este número cai para 45,36% quando se relaciona às viagens nacionais”, diz texto de conclusão da pesquisa.

A pesquisa foi realizada pelo TRVL LAB, uma parceria da PANROTAS, editora B2B que fala com o profissional de Turismo, com a Mapie, consultoria estratégica especializada em inovação e tendências para o segmento de hotelaria e viagens. Foram ouvidos 300 consumidores.

Uma tendência preliminar aponta para a retomada do Turismo regional em um primeiro momento, com o Nordeste liderando na citação dos consumidores (pouco mais de 26%) como destino mais desejado para o pós-crise, seguido das praias regionais, Serra Gaúcha e Rio de Janeiro. O primeiro destino internacional, a Europa, tem apenas 7,9% das intenções.

Retomada
Metade das empresas do setor ouvidas no levantamento da Braztoa acredita que a retomada das vendas se dará ainda em 2020. Uma parcela de 12% aposta que a recuperação pode ocorrer até o mês de julho, e 36% vê o segundo semestre como momento de retomada. Para 43% das operadoras, a comercialização de viagens voltará ao normal apenas em 2021. Uma parcela de 9% ainda não consegue prever uma retomada.

Embarques em baixa
Segundo o balanço da Braztoa, 90,4% dos embarques programados para março foram adiados ou cancelados. O percentual sobe para 96,2% se considerados os embarques de abril e abrange 94,2% das viagens marcadas para maio.
Os adiamentos e cancelamentos já atingem 63,5% das viagens vendidas para junho, e, em média, 26,9% de todos os embarques programados para o segundo semestre de 2020. O impacto se estende até 2021, ano em que já há 3,8% de viagens adiadas ou canceladas.

Vendas
Assim como as viagens já marcadas, as vendas de novos embarques foram severamente afetadas pela pandemia. Segundo a Braztoa, 45% das empresas do setor não realizaram nenhuma venda em março. Outras 45% atingiram, no máximo, o equivalente a 10% do movimento registrado em março de 2019.
Como 70% das vendas realizadas são para o segundo semestre de 2020, a associação prevê que a efetivação das viagens pode ser comprometida se a pandemia se estender, o que pode trazer mais adiamentos e cancelamentos.


Cancelamentos e adiamentos

Prejuízo já atinge R$ 3,9 bilhões

Até que a situação comece a se normalizar, como muitas outras empresas, as operadoras amargam prejuízos e incertezas. O impacto das medidas adotadas para conter a pandemia do novo coronavírus nas operadoras de turismo brasileiras já soma R$ 3,9 bilhões em adiamentos e cancelamentos de viagens, que já passam de 90% até maio.
Por isso a Braztoa pede a implementação rápida de políticas públicas de apoio ao setor turístico. As operadoras de turismo são empresas que montam pacotes e programas de viagens que são comercializados pelas agências, e a perda contabilizada em 2020 já equivale a cerca de 25% de todo o faturamento das operadoras em 2019, que foi de R$ 15,1 bilhões.
A pesquisa da Braztoa aponta que 10% dos trabalhadores das operadoras de turismo foram demitidos entre 29 de fevereiro e 31 de março. As demissões somam 642 pessoas, segundo a associação. O percentual de empresas que planeja demitir em abril chega a 45%, enquanto 55% declararam que não farão cortes.