A menina fez a própria mala para as duas semanas de férias em Pernambuco, disse ter lembrado de tudo. Até o fim da temporada, quando a mãe foi encontrá-la, de fato, não reclamou a falta de nenhum item. É certo que a avó precisou providenciar toda a perfumaria – escova de dente incluída – uma vez que a menina levou a mala no avião e é impossível transportar xampu, condicionador, ou qualquer outra coisa líquida dentro da cabine. A mãe gosta de chamar a atenção para essa regra, embora saiba que mesmo que os líquidos fossem permitidos, nenhum membro da família costuma lembrar-se deles.

Quando chegou à casa da sua mãe, a mãe da menina desfez a própria mala e dividiu com ela o armário vazio separado para os pertences das visitas. Ele continha dois shorts, duas ou três camisetas do pai – para não sentir saudades –, uma calça, um punhado de roupas de baixo, um casaco (!), um pijama, o biquíni e os óculos de natação. Tudo folgadinho na primeira prateleira. A segunda estava cheia; lápis, canetinhas, réguas, hidrocores, cadernos, livros, papéis, brinquedos. Tinha mesmo levado tudo. Tudo o que importa para ela.

Durante os dias que restaram, leram, correram, conversaram, largaram o corpo na areia e no mar, e – claro – desenharam muito. A cada desenho da menina, a mãe se comovia com a firmeza do seu traço. Risca forte, sem medo de errar. Usa todas as cores do estojo. Ocupa o espaço inteiro da folha. Reclama para si seu espaço no mundo. Tem à mão a mala completa. Poucos ítens usados em sua inteireza. Que vida bem vivida, não?

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