Foto: Samira Chami Neves

A Educação a Distância (EaD), modalidade de ensino mediada por tecnologias em que professores e alunos não estão necessariamente no mesmo ambiente, está em franco processo de expansão e tem se popularizado nos últimos tempos. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR) – que é uma das pioneiras na área –, não é diferente. Além de ofertar cursos de graduação e de especialização a distância, a universidade vem trabalhando para fortalecer a educação híbrida, por meio da criação de disciplinas a distância em cursos presenciais.

A UFPR oferta cursos a distância desde 1999 e foi uma das cinco primeiras universidades brasileiras a obter autorização do Ministério da Educação (MEC) para trabalhar com EaD em graduação e ensino profissionalizante.

O processo de regulamentação é outro avanço da UFPR, que já possui cinco resoluções sobre o tema, enquanto outras instituições públicas de ensino superior ainda estão desenvolvendo suas normas. Atualmente, por meio da Coordenação de Integração de Políticas de Educação a Distância (CIPEAD), existem duas grandes áreas de concentração do ensino a distância: Universidade Aberta do Brasil (UAB) e UFPR Híbrida.

A Universidade Aberta do Brasil é um programa do governo federal que fomenta a educação a distância nas instituições públicas de ensino superior. O sistema integrado oferece cursos para camadas da população que têm dificuldade de acesso à formação universitária. O público em geral é atendido, mas os professores que atuam na educação básica têm prioridade de formação, seguidos dos dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos estados e municípios.

A UFPR participa da UAB desde sua criação, em 2005, e é nesse modelo que oferta dois cursos de graduação – Pedagogia e Administração Pública – e sete de especialização. Apesar de ser a distância, 20% da carga horária deve ser cumprida de modo presencial. Os cerca de 1200 estudantes que participam dessas formações têm os mesmos benefícios que os demais alunos da universidade. Os cursos são gratuitos e o ingresso se dá por meio de processo seletivo.

Focar nos cursos de especialização é a estratégia adotada pela universidade, de acordo com a coordenadora geral do CIPEAD Maria Josele Bucco Coelho. “O público da especialização normalmente já tem uma formação sólida e uma boa base, além disso o período de duração é mais curto”. Outra aposta é a segunda licenciatura, ofertada geralmente para profissionais que já desempenham funções da área e necessitam de formação complementar.

Em 2010 o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) implantou a resolução 72/10, que passou a regulamentar a oferta de carga horária EaD em cursos presenciais. De acordo com o documento, a carga horária referente ao ensino a distância deve corresponder a no máximo 20% do total do curso. De 2013 a 2016 houve um suporte da CIPEAD no intuito de acompanhar o processo de implantação dessa carga horária a distância nos diversos cursos de graduação. Em 2017 o projeto UFPR Híbrida foi lançado com o objetivo de consolidar o apoio aos cursos e professores nessa adaptação.

“A questão do híbrido tem a ver com a integraçãodas tecnologias ao ensino e utilizaçãode uma plataforma virtual para que os professores possam interagir nesse ambiente, aliadas ao acompanhamento supervisionado dos estudantes. É um incentivo para o desenvolvimento da autonomia dos estudantes e permite a flexibilização do tempo, a escolha do momento oportuno para desenvolver determinada atividade”, explica Maria.

Atualmente, 19 cursos presenciais da instituição – aproximadamente 16% – apresentam disciplinas no modelo a distância. O Litoral é o setor mais atuante nesta área, seguido por Palotina e pelo Setor de Educação Profissional e Tecnológica (SEPT) e Gestão da Informação é a graduação com maior carga horária correspondente à EaD.

O professor do Departamento de Ciência e Gestão da Informação, Rodrigo Botelho, reforça o importante papel que a modalidade tem no desenvolvimento de competências como autonomia e disciplina. “Possibilita que os alunos experimentem o contato com o conhecimento em diferentes espaços e tempos, idealmente favorecendo o melhor e adequado momento de cada estudante. De fato, trabalhamos com uma ideia de educação híbrida no sentido das modalidades presencial e a distância. No entanto, na sociedade contemporânea é cada vez mais difícil dissociar o ambiente online do presencial. Imagino que esta experiência entre modalidades do nosso curso reflete esta realidade.”

Marcos Tedeschi, membro do Núcleo Docente Estruturante durante todo o período de instalação da modalidade EaD no curso presencial de Gestão da Informação, conta que a modalidade teve início informalmente no curso e ganhou força com a instalação da plataforma Moodle, para a qual o curso oferecia treinamentos. “Houve muita resistência com relação à introdução do método na reformulação do curso, o que determinou que cada professor teria liberdade de estipular o quanto de suas disciplinas seriam EaD. A única proposta 100% a distância foi elaborada por mim. ‘Informação e Sociedade’ foi aberta a toda comunidade da UFPR”, relembra.

O papel da CIPEAD é subsidiar e auxiliar a criação de cursos e disciplinas pelos setores da instituição. “Nossa função é criar estruturas e sensibilizar a comunidade para que cada setor se interesse pela modalidade. Auxiliamos no desenvolvimento dos novos cursos e realizamos assessoramento”, conta a coordenadora. Foi dessa forma que os setores foram evoluindo na área e criaram seus próprios cursos, desvinculados da CIPEAD.

A coordenação oferta, ainda, os cursos a distância que fazem parte do processo de formação da UFPR Híbrida. É uma estratégia para garantir a formação dos professores e técnicos para atuarem nessa modalidade.

As principais vantagens do ensino a distância estão relacionadas à autonomia e proatividade do estudante, à flexibilização de tempo e espaço e à ampliação de alcance. “O aluno da EaD exerce um protagonismo no processo de ensino de grande impacto. Isso é aprimorado quando no modelo híbrido, pois os encontros presenciais complementam o processo possibilitando orientação específica além do fortalecimento de laços”, diz Maria. O sistema de ensino funciona por meio de tutoria. Apesar de o aluno ter autonomia para desenvolver suas atividades em ambiente virtual, existe um tutor fazendo o acompanhamento do processo.

A coordenadora diz que, apesar da flexibilização, a modalidade pode até se tornar mais rígida do que a presencial, pois existem estratégias para medir o tempo do estudante no ambiente virtual, métodos que apontam o que o aluno fez e por quanto tempo, medindo a sua real participação no curso.

“Outra diferença da EaD para a presencial é a preparação do material, que na primeira deve acontecer antes do início do curso. “A linguagem é muito dialógica. É como se o material fosse conversando com o aluno. Fazemos a inserção de vários recursos ao longo da atividade e vamos apresentando diversas possibilidades”, relata.

“A Editora UFPR está criando um selo editorial especial para material EaD, o que representa um avanço. Temos, no projeto, diversos recursos de tecnologias educacionais que os professores podem utilizar no processo formativo. A CIPEAD tem uma equipe tecnológica e pedagógica que está a todo tempo dando suporte a quem precisa”, enfatiza a coordenadora.

Atingir mais pessoas é outro potencial dessa modalidade que, por meio dessa disseminação, pode alcançar públicos que não teriam acesso ao ensino. “Para quem mora em uma capital pode não fazer muito sentido, mas para pessoas que estão em locais muito distantes é uma vantagem, pois podem realizar cursos específicos inexistentes em sua região”.

A UFPR oferece cerca de 150 vagas por curso – um número ainda pequeno, mas expressivo se comparado à modalidade presencial. “Mantemos essa política de número mínimo de vagas porque temos essa parte presencial e também pela qualidade dos cursos. Fazemos visitas aos polos EaD da universidade, as avaliações são todas realizadas de forma presencial. Enfim, esses encontros presenciais fazem com que a gente tenha um certo cuidado com relação ao número de vagas, para podermos atender todos os alunos com qualidade”, explica Maria.

Fotos: Samira Chami Neves

Carga presencial

Os encontros presenciais obrigatórios são uma importante forma de aproximação do estudante à universidade e é uma estratégia que diminui de forma considerável a evasão. Por meio dos encontros presenciais, surge a sensação de pertencimento ao curso e a criação e reforço de vínculo com professores e colegas.

Entretanto, pensar a convivência universitária como um elemento essencial para a formação torna-se defasado aopasso que se reduz essa vivência apenas às experiências físicas, deixando as virtuais de lado. “Para essa nova geração tão ligada à tecnologia, a ideia de convivência pode ser diferente da que temos, pode ser virtual”, destaca a coordenadora.

Contudo, uma fragilidade constatada na EaD certamente é a estrutura tecnológica, muito particular de cada estudante e de cada região, pois diz respeito a equipamentos e internet. “Por isso criamos o modelo de material didático pensado como livro digital, assim é possível baixar e acessar de modo off-line ou imprimir”.