Secom/UFPR

A Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) desenvolveu um dispotivo que realiza a desinfecção de máscaras descartáveis do tipo N95, equipamento de proteção individual (EPI) indispensável aos profissionais da área de saúde e em falta no mercado. Apesar de descartáveis, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Center for Disease Control and Prevention – CDC) dos Estados Unidos, recomenda a reutilização dessas máscaras como estratégia de enfrentamento à escassez de suprimentos em meio à pandemia do novo coronavírus, responsável pela Covid-19.

O processo de esterilização ocorre por meio de radiação ultravioleta. As câmaras de desinfecção possuem lâmpadas germicidas que emitem radiação no comprimento de onda de 254 nanometros que inativam o material genético e, consequentemente, o vírus. O procedimento aumenta em três vezes o tempo de vida útil das máscaras.

Tendo em vista as recomendações do CDC, a empresa 3M®, fabricante de EPIs desta natureza, passou a emitir boletins técnicos apresentando informações sobre diferentes formas de desinfecção das máscaras a partir de testes em seus laboratórios. Entre as orientações estão o uso de peróxido de hidrogênio vaporizado, a aplicação de radiação ultravioleta (UV) e calor úmido à baixa temperatura. O método de esterilização por UV já está sendo aplicado no Hospital de Nebraska (EUA).

Segundo o professor Marcus Vinicius de Liz, do Departamento Acadêmico de Química e Biologia da UTFPR, o desenvolvimento das câmaras foi baseado em literatura existente que comprova a eficácia antimicrobiana do método em 99,9% dos vírus da Gripe A (H1N1), vírus da Gripe Aviária A (H5N1), Gripe A (H7N9), MERS-CoV e SARS-CoV, agentes infecciosos similares ao SARS-CoV-2 (novo coronavírus). “Para garantir a desinfecção, ainda estamos usando uma quantidade de energia UV muito maior do que já foi utilizada em outros trabalhos dessa natureza”.

Análises de microscopia eletrônica de varredura revelaram que em três ciclos de tratamento não houve nenhum tipo de modificação na estrutura das fibras do filtro, do elástico e da espuma das máscaras N95. “Há estudos que indicam uma resistência da estrutura da face da máscara de até dez ciclos, porém a borracha usada para fixá-la começa a ressecar com a exposição à radiação ultravioleta. Assim, estamos seguindo o protocolo do Hospital de Nebraska que recomenda três ciclos de esterilização”, explica o professor.

O Laboratório de Análise de Minerais e Rochas (LAMIR) da UFPR está atuando na parte analítica do projeto. A química Joicy Micheletto explica que, para o desenvolvimento das câmaras, foram dimensionadas caixas com alturas necessárias e as lâmpadas foram dispostas de forma a cobrir a maior área possível, irradiando a máscara na sua totalidade. “O equipamento é revestido em papel laminado para aproveitar melhor a radiação e possui um sistema de segurança que interrompe o processo caso a tampa seja aberta, já que a radiação ultravioleta é nociva para a pele, principalmente para os olhos.” A desinfecção dura, no total, 20 minutos; na metade do tempo é necessário virar as máscaras para que as duas superfícies sejam tratadas.

Nesta quarta-feira (29) a primeira câmara foi entregue a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Fazenda Rio Grande e, na próxima terça-feira (5), outra será doada ao Hospital da Lapa. Já há demanda do Hospital do Rocio, em Campo Largo, e do Hospital Geral de Carapicuíba, no interior de São Paulo. Até o momento, foram produzidos três equipamentos, um de pequeno porte, para oito máscaras, outro de médio porte, para 12 máscaras, e um de grande capacidade, para 16 máscaras.

O compromisso da equipe envolvida é construir e doar essas câmaras para UPAs e hospitais com grande demanda. Recentemente o projeto recebeu aporte de verba do Ministério Público do Trabalho no Paraná. “Com o recurso, a ideia é produzir, pelo menos, mais dez equipamentos de pequeno porte, 12 médios e oito de grande porte”, afirma Liz.