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Tania Rêgo/Abr

Curitiba está passando por um surto de hepatite A. O alerta foi emitido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da capital. De janeiro a 18 de abril deste ano, dados preliminares, foram confirmados na cidade 100 casos de hepatite A, sendo que a média histórica era de dez casos por ano.

Dos 100 casos confirmados, 62% necessitaram internamento e 6% precisaram de cuidados intensivos, ou seja, internação em UTI. Foram registrados três óbitos por Hepatite A aguda nesse período: uma mulher de 29 anos, e dois homens, de 40 e 60 anos.

Um homem de 46 anos precisou ser submetido a transplante hepático em decorrência da doença e se recupera em casa.

A maioria dos casos confirmados, 81%, acomete homens jovens, entre 20 e 39 anos.

“A hepatite A geralmente é uma doença de caráter benigno, mais comum em crianças. No entanto, os casos confirmados neste ano têm acometido adultos jovens e com gravidade, o que demanda maior atenção das equipes de saúde”, explica a secretária municipal da Saúde de Curitiba, Beatriz Battistella.

Casos

A série histórica de vigilância das hepatites virais da Secretaria Municipal da Saúde registrou, entre 2012 e 2022, 111 casos de hepatite A em Curitiba. Geralmente, são menos de dez casos por ano, mas em alguns períodos as confirmações cresceram.

Em 2012, foram confirmados cinco casos da doença na cidade; três em 2013; cinco em 2014; cinco casos também em 2020, 2021 e 2022. O maior número registrado em Curitiba havia sido em 2018, com 21 confirmações.

Já nos primeiros meses de 2024, dados preliminares, foram confirmados 100 casos de hepatite A em Curitiba, que estão sob investigação do centro de epidemiologia da SMS.

Muitos destes pacientes têm sido atendidos pelo Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (Cighep), do Hospital Nossa Senhora das Graças, que conta com hepatologistas especialistas no assunto.

Mudança de perfil

A médica hepatologista Cláudia Pontes Ivantes, do Cighep, conta a preocupação dos especialistas, tendo em vista que muitos destes pacientes com hepatite A têm evoluído para forma grave da doença, com necessidade de internamento e até alguns casos de óbito.

“Estamos percebendo um grande aumento nos casos, mas o que preocupa mesmo é a gravidade deles”, relata. Ela explica que a hepatite A, antigamente, se manifestava em geral nas crianças , de forma leve. E em 99,9% dos casos o paciente ficava curado.

Agora, o perfil mudou. Segundo a Dra. Cláudia, a hepatite A está atingindo adultos jovens, com alguns casos evoluindo para forma grave e até óbito. Entre os graves, alguns precisam de transplante hepático.

Além de diarreia, mal-estar, náuseas e vômitos, que são comuns a diversas viroses gastrointestinais, quem está com hepatite A também pode apresentar febre, olhos amarelados e urina escura.

Como a doença se dissemina

A hepatite A, explica a médica, é transmitida por via fecal – oral. Ou seja, a falta de lavagem cuidadosa das mãos após ir ao banheiro e antes de comer. A doença também é transmitida por água contaminada, principalmente em locais onde não há condições suficientes de saneamento. O vírus está presente nas fezes dos indivíduos. Pode permanecer vivo no meio ambiente por período prolongado e até cinco meses sendo eliminado pelo corpo humano.

O vírus também é transmitido pelos alimentos contaminados, ou seja, pelo consumo de frutas e verduras cruas que não foram devidamente lavadas e desinfetadas. Nos adultos, a transmissão também pode ocorrer pela relação sexual anal desprotegida, principalmente quando há a prática de sexo oral.

Mas por Curitiba ser uma cidade com altíssimo índice de saneamento (100% da população urbana é abastecida com água tratada e quase 98% têm acesso à rede coletora de esgoto, sendo que 100% do esgoto coletado é tratado) e pelas pessoas terem bom nível de conscientização da higienização dos alimentos, o motivo do surto agudo de hepatite A ainda é um grande mistério.

Segundo Cláudia Ivantes, a SMS está investigando o assunto e ainda não conseguiu desvendar a disseminação, que está ocorrendo principalmente nas regiões central e norte da cidade e em pessoas sem ligação umas com as outras.

Saiba como prevenir a contaminação pela Hepatite A

  • Lavar as mãos (incluindo após o uso do sanitário, trocar fraldas e antes do preparo de alimentos);
  • Lavar com água tratada, clorada ou fervida, os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;
  • Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes;
  • Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;
  • Usar instalações sanitárias;
  • No caso de creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas, adotar medidas rigorosas de higiene, tais como a desinfecção de objetos, bancadas e chão utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária.
  • Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;
  • Evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;
  • Usar preservativos e higienização das mãos, genitália, períneo e região anal antes e após as relações sexuais.

Atendimento

Ao apresentar sintomas de hepatite A, o curitibano deve procurar atendimento nas Unidades de Saúde, UPAs ou pela Central Saúde Já. Se os sintomas forem leves, o atendimento pode ser feito pela Central Saúde Já – 3350-9000. Depois da classificação de risco, feita por profissional de enfermagem, a pessoa poderá ser direcionada para consulta médica por telefone ou vídeo, receber as orientações para o seu caso ou ainda ser encaminhado para atendimento presencial, se necessário.

A Central Saúde Já Curitiba funciona todos os dias. De segunda à sexta, das 7h às 22h, inclusive feriados. Nos fins de semana, das 8h às 20h.

Tem que vacinar

Além de uma boa higiene pessoal e com os alimentos, a vacinação é a forma mais eficaz de se prevenir.

No SUS, alerta a gastroenterologista do Cighep, a vacina só está disponível para crianças até quatro anos e para alguns grupos de pessoas com algumas doenças ou transplantados (veja a lista abaixo). A vacina contra o vírus da hepatite A pode ser aplicada a crianças e adultos na rede privada.

“A vacinação é bastante efetiva. Fica o alerta às pessoas que nunca tiveram hepatite, ou que não saibam se já tiveram ou não (alguns ficam assintomáticos), que busquem a vacina”, pede Cláudia Ivantes.

Além das crianças menores de quatro anos, têm direito à vacina da hepatite A pelo SUS pessoas com:

  • Hepatopatia crônica de qualquer etiologia, inclusive portadores do vírus da hepatite C e B.
  • Pessoas vivendo com HIV/aids.
  • Imunossupressao terapêutica ou por doenças imunossupressoras
  • Coagulopatias, doenças de depósito, fibrose cística, trissomias, hemoglobinopatias.
  • Candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em programas de transplantes.
  • Transplantados de órgão sólido (TOS).
  • Transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH).
  • Asplenia anatômica ou funcional de doenças relacionadas.