O governo Evo Morales concordou  nesta quinta-feira (10) com a proposta da Petrobras de venda de suas duas refinarias no país para a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB) por US$ 112 milhões. A Bolívia apenas solicitou que o pagamento seja dividido em duas parcelas, a segunda em 60 dias, conforme informou ao Grupo Estado uma fonte do governo brasileiro.

A decisão foi acertada em reunião entre Evo Morales e os ministros envolvidos na questão energética na sede do governo, o Palácio Quemados. No fim da manhã, a resposta foi apresentada verbalmente pelo ministro de Hidrocarbonetos e Energia, Carlos Villegas, ao presidente da Petrobras Bolívia, José Fernando de Freitas, e ao embaixador do Brasil em La Paz, Frederico Araújo.

A definição do preço, entretanto, não encerrou o imbróglio nem dissipou o clima de desconfiança da Petrobras e do governo brasileiro em relação à palavra dada pela equipe de Evo Morales. Uma resposta definitiva, registrada em papel e assinada, foi exigida pelo lado brasileiro.

Os ministros Silas Rondeau, de Minas e Energia, e Dilma Rousseff da Casa Civil, mantiveram-se mobilizados durante a tarde, no Palácio do Planalto. Do Rio, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, monitorou as negociações técnicas que ocorriam em La Paz. O temor da estatal e do governo brasileiro estava na possibilidade de o governo Evo Morales recuar em sua decisão de pagar US$ 112 milhões pelas refinarias e envolver nas conversas a remessa de gás ao Brasil.

O preço de US$ 112 milhões pela venda de 100% das ações das refinarias da Petrobras em Santa Cruz de la Sierra e em Cochabamba foi o principal ponto da proposta apresentada na terça-feira pela companhia brasileira ao governo boliviano. A oferta refletiu a decisão da Petrobras de retirar-se totalmente da atividade de refino de petróleo na Bolívia, mesmo com prejuízo de cerca de US$ 40 milhões para a companhia.

A Petrobras havia adquirido essas mesmas plantas do governo boliviano no final de 1999, em atendimento a um apelo do então presidente Hugo Bánzer. Na época, as duas refinarias custaram US$ 104 milhões. Desde então, a companhia investiu cerca de US$ 20 milhões em melhorias operacionais dessas unidades, que processam aproximadamente 40 mil barris de petróleo ao dia. A maior parte da produção de derivados dessas plantas é destinada ao mercado interno boliviano.

Apesar do acerto verbal sobre o preço, no final da manhã de hoje os técnicos da Petrobras, da YPFB e do Ministério dos Hidrocarbonetos passaram a tarde em uma intrincada negociação sobre os detalhes da operação de venda. Por uma questão de princípios, a Petrobras deixou claro às autoridades bolivianas que não abandonaria suas atividades de refino na Bolívia sem antes partilhar sua experiência de gestão das refinarias com a YPFB. “Não seremos irresponsáveis”, afirmou uma fonte da empresa