Frankin de Freitas – Atuação do geriatra ajuda a prolongar a vida saudável dos idosos

Uma barreira a ser vencida pelos idosos e seus filhos é aceitar que chegou a hora de consultar um geriatra. Mesmo tendo o acompanhamento de especialistas, há o momento em que o paciente precisa de um profissional que observe sua saúde como um todo e organize a sua rotina de exames e medicamentos. A grande questão é saber quando o geriatra deve entrar em ação.

A literatura médica indica que o envelhecimento começa aos 30 anos de idade, de forma lenta. A regra geral é que o processo se acentua nas mulheres com a chegada da menopausa, por volta dos 50 anos, e nos homens a partir dos 60. É quando passam a ser registradas quedas acentuadas na produção de hormônios, o que ajuda a desencadear problemas de saúde registrados na velhice.

“As mulheres devem procurar o geriatra se pensarem em alguma coisa mais específica, pensando no envelhecimento”, explica a médica geriatra Amanda Kampa, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) no Paraná. “A menopausa é um momento do organismo em que as alterações hormonais, com a baixa do estrogênio, começam a desencadear boa parte dos problemas que a mulher enfrenta na velhice”.

O mais importante para a mulher que chega aos 50 anos é ter um acompanhamento prévio de ginecologia. “Se a menopausa é precoce e tem a indicação de reposição hormonal, o acompanhamento pode ser feito pelo ginecologista. E paralelamente a prevenção dos agravos com o geriatra, para fazer a transição de cuidados”, diz Amanda Kampa.

Mas é essencial que o acompanhamento seja feito, ressalta a especialista, pois tempo, nesta fase da vida, pode significar saúde e longevidade. “Quanto mais tempo protegida, menor a chance de ter sintomas ruins na menopausa, como depressão, dores e calorão. Muitas mulheres perdem um período de três, quatro ou cinco anos, em que o estrogênio devia estar atuando na proteção óssea e dos vasos sanguíneos. Assim é possível ela chegar aos 65 ou 70 anos em uma boa condição”.

Já nos homens a redução hormonal mais acentuada é verificada a partir dos 60 anos. “A maioria dos homens tem uma diminuição muito gradativa dos níveis hormonais. Em torno dos 60 anos essa queda é um pouco maior e traz alguns problemas”, afirma a presidente da SBGG no Paraná. “É o momento em que os agravos da velhice podem começar a se manifestar, o que pode ser prevenido nessa faixa etária, para que a pessoa chegue aos 80 ou 90 anos com uma saúde melhor”.

Alguns quadros podem antecipar a necessidade de um geriatra, principalmente os de ordem neurológica, como Mal de Parkinson, transtorno bipolar e doenças que podem ajudar a desenvolver uma demência.

“São situações em que o paciente precisa ser vigiado um pouco melhor e seria interessante antecipar esse cuidado”, comenta Amanda Kampa. “Mas há algumas doenças físicas também, como dores articulares desde a juventude e algumas doenças reumatológicas mais raras. São pacientes que vão ter mais problemas”.

Organização e interação

O papel de um geriatra não é apenas avaliar exames: ele pode organizar toda a vida médica do paciente. Há situações em que os próprios pacientes ou os responsáveis por eles (filhos, enfermeiros ou cuidados) se perdem na rotina de exames e medicamentos.

“Tem pacientes que procuram o geriatra porque eles têm muitos médicos e precisam ter um para gerenciar. E tem o paciente que procurar o geriatra para ser um auxiliador, mas mantém o acompanhamento com o especialista. Analisamos caso a caso, mas geralmente não tiramos o especialista, muito menos de cara”.

Para isso, explica a presidente regional da SBGG, o geriatra trabalha em interação permanente com outros médicos. ““É uma corresponsabilização pelo cuidado do paciente. Se ele já teve um infarto ou fez uma cirurgia cardíaca, precisa ter um especialista na retaguarda. O geriatra olha o todo, indica se é o momento de fazer exames, de consultar um especialista, de colocar todas as mediações em uma só”.

Barreira

Ainda existe uma barreira a ser vencida, avalia a presidente da SBGG no Paraná: as pessoas admitirem que envelheceram. “Às vezes os filhos demoram para convencer os pais a irem ao geriatra. Muitos não querem nem saber de ir ao geriatra porque seria admitir que envelheceram. E tem o contrário, os que querem se consultar o quanto antes.”.

A barreira pode ser vencida na primeira consulta, garante a geriatra Amanda Kampa. “A consulta com um geriatra é bem completa, dificilmente o geriatra consegue ficar menos do que 45 minutos ou uma hora com cada paciente. A maioria dos pacientes não tem esse médico de referência, que vê o paciente como um todo. Isso acaba chamando a atenção dos filhos. Às vezes é um pouco tarde, a gente gostaria de ter recebido o paciente antes e os filhos percebem isso, que se tivesse tido uma prevenção antes, seus pais teriam chegado melhor àquela idade”.

‘A vida não é só fazer exames’

É comum os geriatras atenderem pacientes que dão muita importância a exames e consultas. Um dos papéis do especialista em casos como esses, explica a geriatra Amanda Kampa, presidente da regional paranaense Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, é mostrar que uma mudança no estilo de vida e ou uma mudança de mentalidade podem ser benéficas para alterar essa rotina.

“São pessoas que gostam de atenção. E o tratamento médico é uma forma de chamar a atenção dos filhos. Quando a pessoa é bem resolvida nos seus relacionamentos e na sua vida social, quando tem uma vida social e econômica mais tranquila, elas fazem menos isso”, afirma a geriatra.

A procura constante por médicos pode estar ligada à falta de atividades ou de uma vida social. E isso pode ser prejudicial, alerta a especialista. “Elas vão a vários médicos e fazem exames o inteiro. O geriatra tenta tirar isso dela. A vida não é só fazer exames e ir ao médico. Elas precisam optar por outro estilo de vida, por uma mudança de mentalidade. Demora um pouco, mas é possível”.

Há também os quadros de hipocondria, que merecem acompanhamento especializado. “Aí já é uma busca pela doença, que pode existir desde que a pessoa é jovem. É um perfil mais psiquiátrico, é um tipo de ansiedade que merece um tratamento de acordo. Se for grave, é preciso encaminhar para um psiquiatra. Tem pacientes que até se machucam de tanto fazerem exames”.

Negligenciar é uma forma de violência

Não oferecer o tratamento adequado aos idosos é uma forma de violência, alerta a médica Vania Beatriz Merlotti Herédia, Especialista em Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Só ano passado, de acordo com a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), que atende pelo telefone 100, mais de 82 mil denúncias de

violência contra idosos foram registradas em todo o país. No último dia 15 de junho foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa.

“As violências mais frequentes são a violência física, como maus-tratos, agressões, abusos e ferimentos, a violência psicológica, que envolve agressões verbais, humilhações, e ameaças, a violência sexual, a negligência e o abandono, com omissão e ausência de cuidados que são necessários”, diz Vania Herédia. Outro tipo de violência que tem aumentado é a chamada violência financeira (que envolve uso não consentido de recursos financeiros e patrimoniais, bem como uso ilegal de recursos).

Negar o atendimento ou o encaminhamento a um profissional especializado também pode constituir violência psicológica. Além de resultar na piora do quadro de saúde do idoso, a situação pode levar a situações de angústia, depressão, diminuição da autoestima, descontrole emocional e sentimento de perda afetiva.

“Em alguns estudos, existem registros da dificuldade que os idosos têm de denunciar o filho, o neto, a nora, o cônjuge, ou seja, o agressor da família”, diz a especialista.

O direito a um bom atendimento de saúde consta do Estatuto do Idoso, a Lei Federal nº 10.741, de 2003. Logo nos primeiros artigos, ela estabelece que “o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, assegurando-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade”.

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