Animais abandonados e clandestinidade preocupam ONGs e autoridades

Instituições que abrigam cães sem dono sofrem com carência de doações ou incentivo do poder público

Narley Rezende

Franklin de Freitas

É inegável que os pets têm tido mais espaço na sociedade, principalmente nos grandes centros. Apesar disso, o abandono e as ocorrências sistemáticas de maus tratos também são evidentes. A Polícia Civil e a Prefeitura de Curitiba estão fazendo, desde o início do ano, ações conjuntas para a verificação de denúncias de maus-tratos, posse ilegal, comércio ilegal e tráfico de animais silvestres e domésticos. O balanço dessas ações revela que a criação de cães de raça para atender a demanda por pets degenerou em uma situação de maus-tratos. Já chega a 378 o número de cães de raça resgatados em canis irregulares, em Curitiba, este ano. Eles estavam em criadouros pequenos, em que os animais ficam amontoados em baias apertadas e sujas, sem alimento ou água suficiente, além de receberem medicamentos vencidos. O último resgate ocorreu no dia 31 de abril, no bairro Xaxim, depois de uma denúncia feita à prefeitura pela Central 156. Os responsáveis pelo canil foram multados em R$ 18 mil por comércio ilegal e os cães foram encaminhados para ONGs e depois de receberem cuidados, serão doados.

Por outro lado, a onda “pet Friendly” está em alta em Curitiba. 

Segundo a médica veterinária Maristela Fonseca, que trabalha com essas ONGs que fazem o resgate de cães, a criação desses animais tem sido explorada como uma forma fácil e barata de ganhar dinheiro por pessoas que não são criadores habilitados. “Eles compram ou até furtam dois ou mais cães e passam a fazer o cruzamento descontrolado, inclusive entre parentes muito próximos. O cruzamento consanguíneo é a principal causa de problemas genéticos que vão aparecer quando o cão se tornar adulto”, aponta. Ela recomenda que, quem quiser um cachorro, adote o animal ou, se fizer questão que seja de uma determinada raça, pelo menos vá conhecer o canil. Atualmente, “há muita criação irregular de yorkshires e llasa apso, ambas raças pequenas”.
Outro problema são os abandonos de animais adultos e mesmo filhotes de cães e gatos que nascem nas ruas ou em residências de pessoas que não querem se responsabilizar por uma ninhada. Os animais abrigados em ONGs ou por ativistas individuais à espera de adoção sofrem com carência de doações ou incentivo do poder público.

Ativista fala sobre resgates e dificuldades

A ativista Sueli Nunes, que cuida 70 cães e 10 gatos resgatados afirma que o trabalho dela é totalmente independente. “Infelizmente, eu não acho que o município dá importância para o nosso trabalho. Nós merecemos, todas as pessoas que se dedicam a esse trabalho merecem, o mínimo de auxílio. Tenho alvará, responsável técnico, licença da vigilância sanitária e ocupo 100% desse espaço, da chácara, para cuidar dos animais. Pago IPTU como se fosse um imóvel normal e não um que serve a um serviço social”, reclama. Com a chuva da semana passada outros problemas imprevistos apareceram. “Tivemos toldos estragados, tendas perdidas, temos um pouco de declinio a chuva carregou muita lama para os canis. Nós conseguimos acomodar os resgatados, mas teve gente (outros ativistas e ONGs) que ficou em situação muito mais delicada que a gente”, lamenta.

O trabalho é diário, que com pouca ajuta tem uma prioridade de cada vez. Se a onda pet friendly tem seu lado fútil e comercial, também serve como ajuda. “Nesse sábado vamos estar em um estande de adoção da Bastards, uma cervejaria. O que ele revertem em vendas fazem em doações para a gente. Recebemos 10 sacos de ração na semana passada que em dias como esses foi um alento”, comemora.

Sueli também tem um hotel para cães que acaba sendo seu ganha pão ao mesmo tempo em que ajuda a manter o resgate de animais abandonados. A ativista critica a comercialização clandestina. “A clandestinidade nos fere muito, incomoda bastante. Ontem mesmo nós resgatamos um cão de raça, um poodle, machucado, abandonado e cheio de ferida. Me incomoda bastante a comercialização. Para gente a vida deles não é um negócio”, pontua.

Na última semana, a Rede de Proteção Animal da Prefeitura de Curitiba lançou uma série de ações para incentivar a adoção de pets e a guarda-responsável de animais. Entre as ações estão uma campanha de comunicação e a criação do Banco de Ração, instrumento que vai possibilitar à Prefeitura receber doação de ração para ser encaminhada a ONGs e protetores independentes. Para ajudar basta acessar o site protecaoanimal.curitiba.pr.gov.br ou ligar para a Central 156.

Franklin de Freitas

Sueli tem abrigo para cães em Piraquara