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Obra que homenageia Helena Kolody, em frente à Praça Generoso Marques: arte nossa de cada dia (Foto: Franklin de Freitas)

Curitiba ganhou um colorido diferente nas últimas semanas. No Jardim Botânico, ao lado do Viaduto do Capanema, os silos do Moinho Anaconda passaram por uma grande transformação, com o concreto do local ganhando cores ao se tornar a mais nova tela do renomado artista plástico Eduardo Kobra, referência internacional em arte urbana. A obra, que ocupa 5 mil m² em área, é a segunda maior já realizada pelo artista.

A capital paranaense, no entanto, proporciona ainda mais experiências artísticas aos olhares atentos que transitam pela cidade. E agora você vai conhecer a história de algumas dessas obras de arte urbana que já fazem parte do cenário curitibano, além de recordar dois trabalho que já coloriram a cidade e agora não passam de lembrança (porque a arte urbana também costuma ser efêmera).

Curitiba possui lei específica sobre arte urbana

Desde o final de 2023 Curitiba conta com uma legislação específica para a arte urbana, criada com o intuito de facilitar a autorização do poder público para a realização dessas intervenções visuais.

Essencialmente, a intenção da nova lei é reconhecer as intervenções visuais urbanas (o que NÃO inclui a pichação, que segue sendo crime ambiental) como manifestações artísticas de valor cultural, cujo objetivo é democratizar o acesso à arte, revitalizar a paisagem urbana e o patrimônio público ou privado. Com esse reconhecimento, então, veio a criação de regras específicas para o licenciamento dessas obras, um trabalho que compete ao Departamento de Controle do Uso do Solo (UUS), da Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU).

Segundo Grazieli Maria Cuman de Castro, engenheira civil do UUS, até o ano passado todas as propostas de intervenções artísticas eram tratadas como publicidade pelo poder público. Com isso, todas as iniciativas artísticas acabavam tendo de ter o aval do Conselho Municipal do Urbanismo (CMU), além do licenciamento do Departamento de Controle do Uso do Solo.

“Se você quisesse fazer na tua casa, tinha de primeiro fazer um recurso pro CMU, que avaliaria se era viável ou não, e com o parecer do CMU abria processo no setor de publicidade e a gente emitia licença. Com essa lei nova, foi criado um trâmite específico para isso, o artista consegue protocolar seu pedido direto pelo site da Prefeitura e, atendendo os critérios, não precisa dessa análise prévia do CMU, faz direto todo o processo no Departamento”, explica a engenheira.

Conheça mais sobre algumas obras de arte que estão espalhadas por Curitiba…

“Ciclos”, de Eduardo Kobra

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Os silos de grãos da Moinhos Anaconda (FOTO: Isabella Mayer/SECOM)

Encomendada pela indústria de produção de trigo Anaconda, em comemoração aos seus 75 anos, em 2026, a pintura “Ciclos” ficou pronta recentemente e tem a segunda maior dimensão entre todas as produções de Kobra, atrás apenas de “Maior Mural do Mundo”, na cidade de Itapevi (SP), com 5,7 mil m². A intervenção urbana ilustra três fases da transformação do trigo em pão: a colheita dos grãos; a massa sendo sovada e o pão já assado.

“Paulo Leminski”, por Fernando Gardpam

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Obra do grafiteiro e muralista Fernando Gardpam homenageia Paulo Leminski (Foto: Franklin de Freitas)

A obra do grafiteiro Fernando Ferlin, mais conhecido como Gardpam, fica numa das fachadas do Edifício Marechal Deodoro, localizado na esquina da Rua Mal. Deodoro com a Travessa da Lapa. Com aproximadamente mil metros quadrados, a obra traz o rosto do poeta Paulo Leminski e foi autorizada pela poetisa Alice Ruiz e por Estrela Ruiz Leminski (ex-esposa e filha de Paulo Leminski, respectivamente). Foi o primeiro trabalho de Gardpam a colorir o Centro de Curitiba com a homenagem a um artista paranaense, inclusive.

“Helena Kolody”, por Fernando Gardpam

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Mais uma obra de Gardpam que homenageia artistas paranaenses (Foto: Franklin de Freitas)

Gardpam realizou o mural “Helena Kolody” no final de 2023, mais uma vez homenageando uma artista paranaense (agora, uma das mais importantes poetisas do Paraná). A obra ocupa um prédio de 17 andares próximo à Praça Generoso Marques e foi viabilizada com a ajuda de campanhas de financiamento coletivo. A pintura traz ainda a seguinte citação: “Deus dá a todos uma estrela. Uns fazem da estrela um sol. Outros nem conseguem vê-la”.

“O que é que há, gatinha?”, de Celestino Dimas

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Obra em parede da BPP retrata cena icônica que se passa numa biblioteca (Foto: Franklin de Freitas)

No final de 2018, a arquitetura modernista do prédio histórico da Biblioteca Pública do Paraná ganhou um novo elemento. Um painel de 12 metros de altura por 10 metros de largura foi pintado pelo artista curitibano Celestino Dimas na lateral direita da BPP, na rua Ébano Pereira. O desenho, realizado a partir da técnica do estêncil com projeção, retrata uma cena do filme “O que é que há, Gatinha?” (1965), em que o cineasta Woody Allen beija a atriz Romy Schneider dentro de uma biblioteca. Na cena retratada, os dois se equilibram em escadas em frente a livros enquanto se beijam.

“Painel da Sanepar”, de Poty Lazzarotto

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Prestes a completar 30 anos, mural foi um presente pelos 303 anos de Curitiba (Foto: Divulgação/ Sanepar)

Inaugurada há quase 30 anos, em 4 de abril de 1996, a obra conhecida como “Painel da Sanepar” está instalada na Praça das Nações, em Curitiba, no bairro Alto da XV. O mural possui 23 metros de comprimento por três de altura e é uma verdadeira aula de história sobre a evolução da implantação dos sistemas de abastecimento na Capital, desde as antigas fontes e bicas d’água. A obra está fixada na parede da casa de bombas do Reservatório Cajuru, conhecido popularmente como a “Caixa-d’Água da Sanepar” ou a “Caixa-d’Água do Alto da XV”. É apenas um dos vários murais de Poty Lazzarotto espalhados pela cidade, inclusive.

… E recorde alguns trabalhos que viraram só lembrança

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Obra “Jack Bobão” virou um marco na arte urbana curitibana (Crédito: Divulgação/ Prefeitura de Curitiba e Valquir Aureliano)

No final de 2022, quase um ano antes da aprovação de uma legislação específica para tratar sobre arte urbana, um dos mais icônicos murais de Curitiba acabou sendo apagado. Trata-se da obra “Jack Bobão”, inspirada no filme “O Iluminado”, e que hoje nada mais é do que uma parede cinza. O trabalho, que ficava na lateral do edifício Inter Walter Sprengel, mostrava o ator Jack Nicholson na pele de Jack Torrence, personagem do filme de Stanley Kubrick. Contudo, foi retirada após notificações e multas emitidas pela Secretaria Municipal de Urbanismo, da Prefeitura de Curitiba.

Na época do acontecimento, o Bem Paraná foi o primeiro veículo a conversar com o síndico do Walter Sprengel e com um dos artistas responsáveis sobre a obra para tratar do apagamento. O caso, mais tarde, virou um marco importante para a criação de uma legislação específica na cidade sobre arte urbana.

No entanto, no começo do ano passado, outra obra que marcou época na cidade acabou sendo apagada. Trata-se do mural com a imagem de Ray Charles que ficava na Marechal Deodoro, numa empena do edifício “A Muralha”. O desenho, feito por Leandro “Cìnico”, ficou naquela parede por 11 anos, mas foi apagado porque a tinta estaria desgastada, o prédio necessitando de manutenção e também porque um estacionamento já teria encoberto de qualquer maneira parte da imagem.