O Colégio Estadual Professora Helena Kolody, localizado em Cambé, no norte do Paraná, foi palco de um atentado nesta segunda-feira (19). O autor do crime foi um jovem de 21 anos, ex-estudante da instituição, que foi até o local a pretexto de solicitar documentos. Ao chegar na escola, porém, sacou um revólver calibre 38 e atirou contra dois adolescentes de 16 anos, Karoline Verri Alves e Luan Augusto, que foram baleados na cabeça. A aluna faleceu na hora e o rapaz ficou gravemente ferido, sendo hospitalizado. O atirador, por sua vez, teria tentado cometer suicídio após o ataque, mas a arma travou e ele acabou contido por funcionários da escola e foi preso.
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Segundo o coronel Hudson Teixeira, policial militar e secretário da Segurança Pública do Paraná, o assassino estudou no local do ataque em 2014 e disse às autoridades ter sofrido bullying na escola. Desde então, guardava rancor e planejava uma espécie de vingança. “Ele disse que vem planejando isso desde quando saiu do colégio. Ele guardou toda essa raiva, toda essa mágoa, e foi planejando isso, foi estudando, foi vendo em redes sociais situações semelhantes que ocorreram no país e fora do país também”, relatou o secretário.
A arma do crime teria sido comprada há cerca de um mês e meio e a intenção do atirador era promover um verdadeiro massacre, tanto que ele levou consigo pelo menos seis carregadores para o revólver. “O plano dele era fazer o máximo de vítimas possível no colégio. Não obteve êxito porque o colégio já tinha passado por um treinamento pela Polícia Militar, com o Batalhão Escolar, com o Batalhão de Operações Especiais, então eles sabiam os protocolos de segurança.” Segundo o delegado Amarantino Ribeiro, que investiga o caso, pelo menos 16 tiros foram disparados. “Ele usou três carregadores. Acreditamos que ele tenha atirado pelo menos 16 vezes. Estamos ainda concluindo todas as perícias para ter o número exato”, afirmou ele.
Sobre as duas vítimas baleadas, o assassino teria dito que não as conhecia. “[Ele disse que] Procurou as vítimas com a idade parecida das pessoas da qual ele sofria bullying e o objetivo dele era vitimar o máximo de pessoas possível e cometer suicídio com a chegada da polícia”, emendou o coronel Hudson, destacando que o criminoso foi preso em flagrante.
Mais à tarde, um homem de 21 anos foi detido e um adolescente de 13 anos acabou apreendido. Ambos são suspeitos de ajudar a planejar o episódio no Colégio, segundo o coronel.
Repercussão: governador e presidente da República se manifestam
Depois do atentado em Cambé, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, se manifestou garantindo que o autor do ataque será julgado e condenado pelo que chamou de “crime bárbaro”. “É um dia triste para todos os paranaenses. Um dia de luto e tristeza pelo que ocorreu na escola estadual de Cambé. Também quero me solidarizar com as famílias e toda a comunidade escolar”, declarou o político, que decretou luto oficial de três dias no estado.
Outro a se manifestar foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nas redes sociais disse ter recebido com tristeza e indignação a notícia do ataque. “Mais uma jovem vida tirada pelo ódio e a violência que não podemos mais tolerar dentro das nossas escolas e na sociedade. É urgente construirmos juntos um caminho para a paz nas escolas”.
Por fim, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, ressaltou a necessidade de toda a sociedade se unir neste momento e sugeriu o uso de tecnologia, treinamento e protocolo de defesa para conter ataques em escolas. “Hoje fomos feridos por uma triste notícia que reflete a banalidade do mal. O mal repetido e praticado feriu o mundo. Mas o mal não é banal. O mal é o mal. Esse espírito que saiu do umbral das trevas não vai vencer a luz da nossa Helena Kolody, que empresta o nome à escola onde ocorreu o ataque”, afirmou o prefeito curitibano. “A sociedade inteira tem que se unir contra ataques às escolas”.
Segundo ataque em escola paranaense nos últimos anos
Um estudo divulgado em maio último pelo Instituto Sou da Paz revela que entre janeiro de 2002 e abril de 2023 foram registrados 24 ataques às escolas brasileiras. A ocorrência em Cambé, então, pode ter sido a 25ª ocorrência no país nos últimos 20 anos, sendo o segundo caso registrado em território paranaense. Chama a atenção, ainda, que desde setembro do ano passado já foram registrados pelo menos 11 ocorrências, quase metade do total no período analisado.
O episódio anterior no Paraná ocorreu em setembro de 2018, quando um adolescente de 15 anos entrou armado e atirou em colegas de classe no Colégio Estadual João Manoel Mondrone, em Medianeira, no oeste do Paraná. Na ocasião, dois alunos ficaram feridos, um deles com um tiro nas costas e outro atingido de raspão em uma das pernas. Às autoridades, o atirador disse que vinha sofrendo bullying e que teria pelo menos uma dezena de alvos.
Neste ano, em abril, houve ainda uma onda de pânico em instituições de ensino de todo o país após quatro crianças serem mortas numa creche em Blumenau (SC), invadida por um homem armado com uma machadinha. Na época, após o ataque teve início uma onda que misturou boatos e ameaças de novos atentados.