Carolina Fayad, Cristiane Dal Soto e Isabela Tamiozzo: mercado da cannabis está crescendo e aparecendo (Valquir Aureliano)

Ainda que de forma gradativa, nos últimos anos o mercado da cannabis começou a florescer no Brasil. Com o uso medicinal da planta se disseminando e diversos países legalizando até mesmo o uso recreativo da maconha, começa a emergir também um mercado canábico, que abrange as mais diversas àreas (da medicina ao turismo e a gastronomia) e já tem Curitiba como uma de suas referências

Nâo à toa, neste domingo (12 de fevereiro) acontece, a partir das 16h20, a primeira edição do Hempreende Curitiba, no Bar do Fogo. O evento, idealizado pelas empreendedoras canábicas Carolina Fayad e Isabela Tamiozzo, já está com os ingressos esgotados e tem o objetivo de criar uma comunidade canábica, com troca de conhecimento e compartilhamento de experiências entre novos e pequenos empreendedores canábicos, para que esse mercado cresça ainda mais.

“Como é tudo muito novo, é um mercado que vai se expandir muito daqui pra frente, tanto a parte da Cannabis medicinal quanto do cânhamo. Então realmente a gente quer criar uma base na cidade, que já é referência porque muitas coisas estão saindo daqui”, comenta Fayad. “A gente sempre fala que a Cannabis é a revolução, porque vai ajudar a resolver problemas socioambientais, problemas de saúde. Tem mais de 30 patologias que podem ser tratadas pela Cannabis, que é praticamente a solução para tudo. Eu gosto de falar que a Cannabis é a cura não só para as pessoas, mas para o planeta, por causa do cânhamo. É um mercado totalmente novo, pouco explorado no Brasil e que eu acho que vai crescer muito no futuro”, complementa Tamiozzo.

Nas rodas de conversa durante o evento, profissionais de renome no cenário canábico marcarão presença, como o advogado André Feiges, a médica Amanda Medeiros (da clínica canábica Gravital) e os químicos James Kava e Fabiano Soares, sócios-fundadores da Reaja Soluções Calorimétricas (que oferece testes de detecção de substâncias). Os participantes ainda poderão interagir com expositores, como a tabacaria e head shop Be Happy, conhecerão o trabalho da empresa Turismo Canábico, de Jonas Rossatto, que é a primeira empresa de turismo canábico legalizada do mundo, e ainda contarão com um stand de acolhimento às pessoas que desejam iniciar seu tratamento com a cannabis sativa, entre outras atrações.

“É recente [o florescimento desse mercado], mais por causa da cannabis medicinal, que vem abrindo muitos caminhos pra gente. Semana passada, em São Paulo, foi sancionada uma lei para o fornecimento de medicamentos a base de cannabis no SUS, no ano passado o Paraná aprovou a Lei Pétala, que visa melhorar o acesso a medicamentos a base de cannabis… Então eu realmente acredito que a cannabis medicinal vem fazendo a frente pra gente ter mais liberdade de falar sobre esse assunto”, comemora Fayad.

Para exemplificar o potencial do mercado canábico, Tamiozzo comenta que apenas em 2022 foram realizadas 4,3 mil pesquisas com cannabis no brasil, nas mais diversas áreas. “Hoje esse mercado está crescendo de uma forma exponencial e muito além do que as pessoas pensam. É um mercado milionário, até porque é caro o produto. Mas eu acho que com a legalização a gente consegue baratear isso, para poder tornar acessível para todo mundo porque, querendo ou não, a Cannabis é a solução para muitas coisas”.

Startup curitibana tenta ser a primeira ‘unicórnio’ do setor na América Latina
Segundo a empresária Cristiane Dal Soto, dona da tabacaria e head shop Be Happy CWB, dois fatores que explicam o fato de Curitiba estar se tornando referência no mercado canábico nacional é a proximidade do estado com relação ao Uruguai e o fato da PUCMED (Productora Uruguaya de Cannabis Medicinal) ter uma grande entrada na cidade.

Sediada no bairro Santa Felicidade, e com menos quatro anos de vida, a startup já é referência mundial no cultivo de cannabis medicinal e no fornecimento de derivados de biomassa vegetal para fins industriais e científico, tanto que o objetivo da marca é se transformar no primeiro “unicórnio” (startups de um bilhão de dólares) da indústria da cannabis na América Latina.

“A PUCMED trouxe para nós aqui uma grande abertura e eu penso que o fato do curitibano ser conservador, mais rígido nas atitudes, acaba dando uma relevância maior quando um curitibano levanta essa bandeira. Eu sinto isso na pele, principalmente quando eu começo a conversar com mulheres mais velhas. Eu uso para efeito analgésico, efeito relaxante e obviamente uso recreativo, não tenho motivo para esconder. E os outros veem que é uma pessoa empreendedora, uma mãe de família, uma pessoa supercorreta. As mães canábicas aqui de Curitiba também são muito relevantes na discussão da cannabis medicinal para crianças. Não é um bando de maconheiro querendo plantar maconha em casa. Não. A gente quer oferecer cannabis de qualidade pra todas as pessoas, seja ela medicinal, seja ela recreativa O que mais prejudica os jovens que estão começando a fumar é eles terem acesso a uma maconha de péssima qualidade”, afirma Dal Soto.


Headshop cresce mesmo em meio à pandemia
A tabacaria e head shop Be Happy foi inaugurada em Curitiba no dia 12 de março de 2020, bem quando começou a pandemia. Ainda assim, o negócio não só se manteve em pé, mas em expansão, com crescimento médio de 17% ao mês. A primeira loja surgiu em frente à Praça Osório. Depois, mais duas unidades foram inauguradas, no Xaxim e em Santa Felicidade, numa demonstração do potencial do mercado canábico na capital paranaense.

À frente do negócio, Cristiane Dal Soto, que já era cliente de headshop, mas não se sentia plenamente atendida em suas demandas por conta da dificuldade para encontrar produtos de maior qualidade, capazes de segurar os resultados negativos da carburação. “Tudo isso a gente sempre buscou e não achava com facilidade. Aí comecei a pesquisar como era esse universo, aonde tinham os melhores acessórios”.

A segunda premissa da marca era tornar a loja um lugar de acolhimento, de respeito. Um palco para se conversar sobre cannabis. “Eu brinco que essa pracinha é território uruguaio. Aqui a gente conversa sobre, troca ideia, discute de que formas a gente poderia agir paralelamente ao Poder Público, para que a gente consiga trazer cada vez mais essa possibilidade de legalização.”

“O empreendedor do ramo da cannabis nunca tinha sido visto com respeito. Então acho que erguer essa bandeira do hempreendedorismo é importante. Você empreende com sementes, você empreende na área têxtil, na área plástica, na área de headshop, na área de conteúdo de jornalismo, medicinal, direito, turismo, gastronomia… Então é um mercado seríssimo. A Cannabis é uma revolução”
Cristiane Dal Soto, dona da tabacaria e head shop Be Happy CWB