(Reprodução/ Facebook)

O que era para ser um velório acabou se tornando uma festa de aniversário em Curitiba, nesta quarta-feira (18 de janeiro), depois de o cerimonialista Baltazar Lemos encontrar uma maneira inusitada de celebrar o seu 60º aniversário. Nas redes sociais, ele deu indícios aos amigos que havia ‘partido dessa para uma melhor’. Convidou, então, todos para a Cerimônia de Despedida, que aconteceria na Capela Vaticano. Mas quando todos chegaram ao local, acreditando que participariam de um rito fúnebre, o falso defundo apareceu na frente de todos, discursou e explicou que ainda estava vivo – para alegria de alguns, alívio de muitos e irritação de outros tantos.

De acordo com Baltazar, a ideia da ‘falsa morte’ surgiu há cinco meses,quando ele começou os preparativos para celebrar seus 60 anos de vida. “Eu trabalho com eventos há 30 anos. Nos últimos dois anos, por causa da pandemia, fui pro cerimonial de luto. Fiz 899 cerimônias, algumas tinhas três pessoas, outras não tinham ninguém,umas com 800 pessoas… Fiquei pensando: e quando eu morrer? Vão quantas pessoas?”, diz Baltazar, pedindo perdão a quem se sentiu ofendido. “Não era a intenção ser sarcástico, não. Quero pedir perdão a quem se achou traído. Eu queria ver quem foi no meu velório”.

Para garantir que tudo desse certo, como ele esperava, Baltazar não contou para ninguém sobre seu mirabolante plano. Dois dias antes do que seria sua festa de aniversário, deixou de atender ao celular e a responder mensagens. Em seguida, fez duas publicações nas redes sociais. A primeira, anunciava que o cerimonialista teria “nos deixado” no começo da tarde de terça-feira. Horas depois, fez outra postagem convidando “familiares e amigos” para “a Cerimônia de Despedida” na Capela Vaticano.

No que seria o velório, cerca de 100 pessoas compareceram. Algumas, inclusive, que Baltazar não via há anos. E todas se surpreenderam quando a cortina do local onde estaria o caixão se levantou e Baltazar apareceu em pé, vivíssimo. “A primeira reação [que teve após saberem que eu estava vivo],ganhei um tapa na cara. Me agrediram. Depois tinha pessoas gritando, chorando, rindo… Mas fui contando e entenderam. Quando eu vou na casa de um amigo, vou fazer festa, eu odeio a despedida, simplesmente sumo. No dia em que realmente eu partir, já me despedi da família e só vão anunciar que faleci depois que eu for cremado. Mas eu fiz uma despedida inusitada ontem. Só não imaginava essa repercussão, isso tudo que ia acontecer. Muitas pessoas contrárias, outras achando a ideia o máximo”, comenta ainda o cerimonialista.

Depois do que era para ser o velório, que começou 19h45 e acabou uma hora depois, aconteceu a festa de aniversário, efetivamente, celebrada a partir das 21 horas no República House. “No velório nem todos foram, mas na festinha teve mais de 150 pessoas. Foram os 60 minutos mais intensos de nossas vidas”, diz ainda Baltazar, pedindo para que as pessoas aproveitem a vida de maneira mais intensa.

“O importante mesmo, que gostaria de deixar claro, é que as pessoas têm de aproveitar a sua vida da maneira mais intensa, demonstrar o amor pelo próximo através de gestos enquanto a pessoa está do lado. Para que deixar para depois, guardar uma mágoa? Se você tem um sonho, como eu, vai lá e faz. Lute e faz. É isso que eu queria que as pessoas entendessem, que fossem em busca de dizer isso, ‘amo você, ‘você faz parte de mim'”, finaliza.

Repercussão tem gente brava, aliviada e até encantada

A celebração inusitada, contudo, desagradou a muita gente próxima de Baltazar. “Teve amigos que me agrediram fisicamente, perdi amigos, perdi contratos, mas estou feliz porque realizei meu sonho. E sou a única pessoa viva que sabe o que escreveram de mim pós morte e quem foi no funeral”, afirma ele.

Nas redes sociais, o que não faltou foi gente se manifestando sobre a situação – seja para criticar ou elogiar. “Fico feliz por você estar bem. Mas brincar com aquilo que nos é precioso não tem desculpas. Você só falou que foi embora aí marcar em uma capela…não sei nem o que dizer sobre”, escreveu um conhecido do cerimonialista.

Por outro lado, um possível cliente, que vinha negociando para fechar um contrato com Baltazar, gostou tanto da inusitada maneira que o cerimonialista encontrou para celebrar a vida e do discurso que ele fez no ‘velório’ que acabou virando um ‘fiel cliente’, segundo o próprio garantiu.

“Foi perfeito [risos]. Você acabou de ganhar um cliente para os meus funerais, de verdade. Acredito que muita gente vai ver as matérias e fazer a mesma coisa. Depois da declaração que você fez, da despedida que você fez, realmente na hora de um funeral as vezes você não sabe o que fazer, né?! As palavras faltam. Mas do jeito que você falou foi muito massa. Pode ter certeza que você fidelizou um cliente.”