O Paraná registrou um recorde de óbitos por lesões autoprovocadas intencionalmente, superando pela primeira vez a marca de mil suicídios consumados ao longo de um ano. É o que revela um levantamento feito pelo Bem Paraná com base no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, o qual aponta que em 2021, último ano com dados consolidados, 1.106 pessoas se suicidaram no Paraná.

A estatística, inclusive, serve de alerta: é que no nono mês do ano acontece a campanha Setembro Amarelo, organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), cujo objetivo é prevenir e reduzir esses números.

Para se ter uma dimensão do que os suicídios registrados no Paraná representam, o número de 2021 equivale a três falecimentos por dia e é quase o dobro do total de pedestres e ciclistas mortos no Paraná em acidentes de trãnsito no ano referido (602 pessoas).

Analisando-se a série histórica do SIM, é possível verificar ainda que desde 1996 até 2021 um total de 17.953 paranaenses cometeram suicídio. Até 2017, no entanto, o estado não havia registrado, ao longo de um único ano, mais de 800 óbitos decorrentes de lesões autoprovocadas intencionalmente.

Em 2018, porém, essa barreira foi rompida pela primeira vez. Naquele ano, 915 suicídios foram registrados. No ano seguinte, o número subiu para 944 mortes e em 2020 chegou a cair para 935 ocorrências. Em 2021, porém, a variação nos registros foi de +18,3% em relação ao ano anterior.

Segundo o missionário redentorista padre Joaquim Parron, do Movimento SOS Combate à Fome, a situação é reflexo de problemas sociais e econômicos. “O que eu percebo é que muitas dessas pessoas não tem horizonte de realização, e a vida perde o sentido não tendo esse horizonte.”

HPP chama atenção para tentativas entre adolescentes
No Hospital Pequeno Príncipe, a Dra. Simone Borges da Silveira, responsável pela emergência, relata que uma situação que vem chamando a atenção são os casos de ingestão de medicação por adolescentes e pré-adolescentes, em tentativas de suicídio. “É um tipo de ocorrência que cresceu muito depois da pandemia. Antes a gente tinha um caso a cada 15 dias. Hoje temos dois, três casos por semana”, afirma a médica.

Por isso, é importante os pais e responsáveis ficarem atentos aos sinais de alerta, como: isolamento crescente do jove, alteração de alimentação e piora no desempenho e no comportamento dentro da escola. “São as coisas que chamam mais a atenção, tem de ficar de olho”, aponta a médica.

Situação não é exclusividade paranaense
A maior incidência do suicídio não é uma exclusividade paranaense. No Brasil, houve 15.499 suicídios em 2021, com média de 42 registros diários ou uma morte por lesão autoprovocada a cada 34 minutos. Foi a primeira vez que o país registrou mais de 15 mil mortes desse tipo num ano.

Entre as unidades da federação, o Paraná foi o 4º estado com mais suicídios em 2021, atrás apenas de São Paulo (2.645), Minas Gerais (1.800) e Rio Grande do Sul (1.517). Desde 1996, no entanto, 251.566 suicídios foram registrados no país, com 17.953 ocorrências entre os paranaenses. Apenas SP (50.343), RS (29.667) e MG (28.583) tiveram mais ocorrências na série histórica.

Se precisar, peça ajuda
Desde 2014 a Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, realiza no Brasil a campanha Setembro Amarelo, com o objetivo de trazer informações para conscientizar a sociedade e colaborar para a prevenção do suicídio no país. A iniciativa chega em seu nono ano, trazendo um novo mote: “Se precisar, peça ajuda”. A campanha acontece durante todo o mês, mas no dia 10 é que se celebrá o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

“A morte por suicídio é uma emergência médica e pode ser evitada através do tratamento adequado do transtorno mental de base”, afirma o presidente da ABP, Antônio Silva.

Ainda segundo a ABP, todos nós devemos atuar ativamente na conscientização da importância que a vida tem e ajudar na prevenção do suicídio, tema que ainda é visto como tabu. É importante falar sobre o assunto para que quem esteja passando por momentos difíceis busque ajuda e entenda que a vida sempre vai ser a melhor escolha.

Os sinais de risco e a rede de apoio em Curitiba
Um primeiro fator de risco ao suicídio são os transtornos mentais. Isso porque praticamente todas as pessoas que cometem suicídio apresentam pelo menos um transtorno psiquiátrico, como depressão, transtorno bipolar, problemas com drogas lícitas ou ilícitas, etc.

Outra questão importante é o histórico pessoal. Isso porque a tentativa prévia é o principal fator de risco para o suicídio e indivíduos que já tentaram dar cabo à própria vida têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar novamente.

Um dos centros de apoio emocional mais atuantes no Brasil é o Centro de Valorização da Vida (CVV). Nele existe o serviço de escuta 24 horas por dia. Basta ligar para 188 e solicitar o atendimento. O serviço também está disponível via internet pelo www.cvv.org.br.

Além disso, em Curitiba há diversas opções gratuitas ou a preços módicos para aqueles que precisam de acompanhamento psicológico e não possuem condições financeiras.

O SUS, por exemplo, oferece atendimento e tratamento em todos os serviços da Rede de Atenção Psicossocial na cidade. Além disso, seis instituições de ensino (PUCPR, UFPR, Uniandrade, UniBrasil, UP e UTP) oferecem atendimento psicológico gratuito ou a preços módicos ao público que comprova ter baixa renda.

Suicídios no Paraná e no Brasil, ano a ano
Paraná

2021: 1.106
2020: 935
2019: 944
2018: 915
2017: 774
TOTAL: 4.674
Brasil
2021: 15.499
2020: 13.835
2019: 13.520
2018: 12.733
2017: 12.495
TOTAL: 68.082
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde