
Em 2024, Curitiba registrou um número impressionante de novas empresas abertas. Naquele ano, 70.775 negócios foram criados na capital paranaense, um crescimento de 48% em comparação aos últimos quatro anos.
Boa parte desse crescimento veio do setor de comércio. Só o varejo de roupas e acessórios teve 1.471 novas lojas abertas. Também cresceram os empreendimentos ligados à alimentação: foram 896 novos negócios voltados à venda de alimentos para consumo em casa, 877 lanchonetes, 683 restaurantes e 458 padarias e confeitarias.
Enquanto isso, restaurantes tradicionais e queridos pelos curitibanos seguem fechando suas portas. Muitos deles com décadas de história.
Por que tantos restaurantes estão fechando?
Ao ver nas redes sociais o anúncio do fechamento de um restaurante famoso, muita gente pensa: “faliu”. Mas nem sempre é esse o motivo. Segundo o advogado Frederico Glitz, especialista em Direito Empresarial, as razões para encerrar um negócio são diversas e, muitas vezes, estratégicas.
“Algumas vezes são também questões sucessórias, quando, por exemplo, o titular da atividade acaba não conseguindo transmitir para uma segunda geração. Então, simplesmente, fechar um restaurante não significa propriamente uma falência, pode ser inclusive um novo projeto que se anuncia”, explica o advogado.
Além disso, podem ser questões que envolvem readequação, por exemplo, do público ou da atividade. Em alguns casos, uma concorrência que eventualmente se impôs e que forçou o encerramento daquele negócio.
O perigo de fechar de forma ilegal
Apesar de parecer simples, encerrar um negócio exige tantos cuidados quanto abrir um. E muita gente acaba cometendo um erro comum: simplesmente fecha as portas e segue a vida, sem formalizar o encerramento.
Esse “fechamento informal” pode gerar sérias dores de cabeça. Débitos com impostos, encargos trabalhistas e previdenciários continuam existindo, mesmo que o restaurante esteja com as portas trancadas.
“Então, a gente fala, por exemplo, de uma desconsideração da personalidade jurídica para eventualmente cobrar as dívidas trabalhistas, fiscais, previdenciárias, diretamente de quem compunham aquela sociedade e, eventualmente, até situações em que vão se apurar. Por exemplo, no caso previdenciário, a retenção indevida de valores que podem constituir também um crime”, alerta Glitz.
Isso também vale para sócios minoritários ou familiares que nem estavam diretamente ligados ao dia a dia da empresa, mas constavam no contrato social. Ou seja, a desorganização no fim do negócio pode atingir pessoas que só estavam no papel.
Por isso, é fundamental dar baixa formal no CNPJ, pagar os tributos, acertar pendências com funcionários e sair da sociedade com tudo regularizado. Isso evita complicações no CPF e na vida pessoal dos envolvidos.
O adeus a clássicos da gastronomia curitibana
Nos últimos anos, diversos restaurantes com histórias marcantes em Curitiba decidiram encerrar suas atividades. Veja alguns casos.
Camponesa do Minho
O caso mais recente é o do Camponesa do Minho, que encerrou as atividades no dia 30 de junho de 2024. Com 46 anos de história, era um dos restaurantes mais tradicionais de comida portuguesa da cidade, conhecido especialmente pelos pratos com bacalhau. A decisão de fechar foi tomada por Joseli Galvão, chef e proprietária, que aos 76 anos decidiu se aposentar. O imóvel onde o restaurante funcionou por tantos anos está agora à venda.
Mukeka
Outro restaurante que deixou saudades foi o Mukeka, no bairro Juvevê. Em abril de 2024, após quase 12 anos de funcionamento, o restaurante anunciou o encerramento pelas redes sociais. A casa era comandada por Fabrício Dantas, que celebrou os anos de trajetória com um texto emocionante. Em 2023, o Mukeka havia vencido o Prêmio Bom Gourmet como Melhor Restaurante de Cozinha Regional Brasileira. O cardápio homenageava diferentes regiões do Brasil, com pratos como barreado, baião de dois, peixes e carnes típicas.
Durski
Em dezembro de 2023, foi a vez do Restaurante Durski anunciar o encerramento. Após 25 anos de história, o empresário Junior Durski comunicou o fechamento da casa, localizada na Rua Jaime Reis, no bairro São Francisco. O Durski sempre foi associado à alta gastronomia e chegou a figurar em listas dos melhores restaurantes da capital. A decisão, segundo o empresário, faz parte de um novo ciclo.
Restaurantes que fecharam as portas na pandemia
Devon´s
A churrascaria curitibana Devons, que estava há mais de 30 anos no Centro Cívico, em Curitiba, fechou as portas em janeiro de 2021, depois de aguentar quase um ano de de pandemia de Covid-19. O lugar era conhecido por reunir políticos paranaenses. Em outubro, o número 460 da rua Lysimaco Ferrreira da Costa virou a casa da JP Steakhouse.
Churrascaria Paiol
A churrascaria Paiol, que funcionava há quase 40 anos na rua João Negrão, no bairro Rebouças, em Curitiba, anunciou o fechamento em março de 2021. A confirmação do fechamento foi feita pelo próprio estabelecimento, em um aviso no site oficial do estabelecimento. “Encerramos nossas atividades. Agradecemos a todos os amigos, clientes, funcionários e fornecedores”, diz o comunicado. O motivo não foi revelado.
Casas de sucos Wing
A tradicional casa de sucos curitibana Wing, que tinha treze unidades espalhadas pelo Centro, comunicou em 22 de julho de 2021 o fechamento definitivo após 30 anos de atividades. Inicialmente o fechamento foi temporário, em março do ano passado, devido à pandemia. “Devido às incertezas de abertura e fechamento do comércio, com o funcionamento intermitente e, também devido a idade da matriarca, dona Alice Wing (77 anos), repensamos e decidimos não reabrir mais”, explicou o sócio, William Wing.
New York Café
A cafeteria New York Cafe, no Batel, anunciou em maio de 2021 o fechamento de sua última franquia em Curitiba. A decisão foi motivada pela queda no movimento devido à pandemia do coronavírus. O chef e empresário Luiz Santos resolveu focar no projeto New York Café ‘at home’, com entrega exclusivas em domicílio. A marca chegou a ter quatro lojas em Curitiba. Atualmente, o local abriga o The American Way Cafe & Food.