RIO DE JANEIRO, RJ, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) afirmou nesta segunda (12) que houve um mal-entendido sobre o cancelamento de reuniões com os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em Brasília nesta semana.

“Há um equívoco por parte da mídia de que eu teria cancelado audiências com o Eunício e com o Rodrigo Maia”, afirmou a jornalistas em frente à sua casa na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

“O que eu falei para a minha assessoria em Brasília é que eu queria visitar a Câmara e o Senado. O que é visitar a Câmara? É o plenário. Daí eles marcaram audiência. Eu não quero audiência. Eu falo com eles por telefone, e eles falam comigo por telefone. Não precisamos de audiência.”

Em agenda enviada na sexta-feira (9), estavam previstos encontros com os dois, mas no sábado (10) a agenda foi reformulada: Bolsonaro irá direto para o gabinete de transição, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil).

Depois, terá encontros com os presidentes do Tribunal Superior Eleitoral, Rosa Weber, do Tribunal Superior do Trabalho, Britto Pereira, e do Superior Tribunal Militar, José Coelho Ferreira.

Emparedado pela necessidade de realizar reformas, Bolsonaro fez um gesto nesta segunda (12) e escalou seu principal auxiliar político, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), para tentar desobstruir o canal de articulação com o Congresso.

Até o início da semana, 15 dias após a eleição, a equipe de transição não havia procurado Maia e Eunicio, sinalizando a eles que a relação com o Congresso não era prioridade.

Nesta segunda, porém, o futuro ministro da Casa Civil se encontrou com Maia na residência oficial para, segundo ele, dizer que o Planalto não pretende intervir na disputa para o comando do Senado e da Câmara -Maia quer concorrer à reeleição.

“Dissemos que o governo não pretende intervir nas definições do comando da Câmara e do Senado. Todos os governos que fizeram intervenção se deram muito mal”, afirmou Lorenzoni.

Na reunião, o futuro chefe da Casa Civil estava acompanhado de Gustavo Bebianno, a quem se referiu como “futuro ministro da Secretaria-Geral da Presidência”.

Ao ser questionado sobre se a indicação de Bebianno já havia sido confirmada, Lorenzoni disse que isso dependeria de Bolsonaro, mas que desejaria vê-lo no cargo: “Ele é um parceiro de todas as horas.”

Maia tem trabalhado para que o governo não apoie nenhum nome para a presidência da Câmara, mas encontra resistências no PSL. Um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, já disse que prefere outros perfis e não o do atual presidente.

Responsáveis por colocar em votação projetos como a reforma da Previdência, tratada até agora como prioridade do novo governo, Maia e Eunicio ainda não conversaram com o presidente eleito.

Como Bolsonaro não deu explicação oficial para desmarcar as reuniões, Maia e Eunicio chegaram a elucubrar se havia riscos de segurança caso o presidente eleito quisesse circular no plenário -sua equipe costuma utilizar-se desse tipo de argumento.

A desorganização política ficou latente na semana passada, quando os parlamentares aprovaram duas medidas de impacto econômico, o aumento do salário dos juízes e incentivos fiscais da indústria automobilística.

Bolsonaro deu declarações contrárias, mas não escalou aliado para barrar as medidas.

Quem tem atuado como espécie de ponte é o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que já conversou por telefone com Maia algumas vezes e com o presidente Michel Temer.

No entanto, mesmo Guedes já havia provocado mal-estar ao pedir uma “prensa” nos parlamentares para que aprovassem a reforma da Previdência ainda neste ano.