
O ex-governador Orlando Pessuti faz política desde quando ainda frequentava os bancos escolares, nos anos 70 e é filiado ao MDB desde a fundação do partido. Hoje, aos 69 anos, disputa o Senado rejeitando a pecha de “velha política” que vem sendo usada desde as eleições de 2018 para tentar desqualificar quem há muito tempo exerce essa atividade.
Desde que deixou o Palácio Iguaçu, em 2010, ele atuou em posições como conselheiro e diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e da Itaipu Binacional. E garante ter energia para tentar furar a polarização entre Alvaro Dias (Podemos) e Sergio Moro (União Brasil) na disputa pelo Senado, com a mesma energia que tinha quando começou. Em entrevista ao Bem Paraná, ele fala como espera conseguir essa virada, e conta detalhes de como foi boicotado pelo ex-colega de partido, Roberto Requião, hoje no PT, a quem sucedeu no Palácio Iguaçu, em 2010, e também nas duas eleições seguintes.
Bem Paraná – Por que o senhor decidiu ser candidato ao Senado?
Orlando Pessuti – Por que eu nunca desisti da minha participação na vida pública. Eu fiquei esse período de 12 anos sem um mandato eletivo já que em 31 de dezembro de 2010 eu finalizei meu mandato de governador. Mas mesmo não tendo um mandato eletivo eu tive uma vida pública muito ativa. Eu fui ser conselheiro do BNDES de 2011 a 2014. Eu fui ser conselheiro da Itaipu Binacional, 2013 a 2014. Depois de 2015 a 2019, nomeado pelo Beto Richa, fui ser diretor, vice-presidente e presidente do BRDE. De 2019 para cá que eu não estou em uma função pública nomeado ou eleito. E mesmo não estando em um cargo público eu fui atuar fortemente de duas entidades, que é o Movimento Pró-Paraná, onde centenas de pessoas que querem o bem do nosso Estado e procuram se reunir e debater assuntos que interessam ao Paraná. Ali se discute o Tribunal Regional Federal, a questão do mar territorial do Paraná, da nossa logística, do pedágio, da construção da ponte em Guaratuba, da engorda da praia (de Matinhos). E também fui ser conselheiro do CIEE (Centro de Integração Emprego-Escola) que cuida do trabalho voltado ao menor aprendiz, o primeiro emprego, o estágio. Eu nunca fiquei fora da vida pública. E também nunca fiquei fora da vida partidária. Porque mesmo não tendo cargo de direção, eu continuei militando no MDB e tive a infelicidade de não ter legenda para disputar em 2014 para governador ou para senador e 2018 também não consegui disputar para senador porque, infelizmente o Requião se colocou em uma posição antagônica a nós, de adversário, é inimigo nosso. Ele vetou a todo momento a minha candidatura para colocar candidaturas dele, do filho (Requião Filho), do João Arruda, enfim. Agora chega 2021, nós retomamos o comando do partido com o deputado Anibelli Neto e outras lideranças e o MDB sugere que eu dispute uma eleição majoritária. Não de governador porque nós vamos coligar com o Ratinho Jr. Então para o Senado. Eu aceitei. Venci a convenção com 87% dos votos. Eu nunca deixei de ter essa vontade, de querer ser candidato. Só não tive as condições para ter a candidatura homologada. Agora tive.
BP – O MDB governou o Paraná por um longo tempo. Em 2018 teve como candidato ao governo o ex-deputado João Arruda. E hoje não tem candidato próprio ao governo e apoia o Ratinho Jr. Por que o senhor acha que o partido chegou nessa situação?
Pessuti – Em primeiro lugar, porque enquanto partido o MDB se fragilizou muito no Paraná, ele ficou enfraquecido. A ponto de nós termos hoje apenas dois deputados federais e dois estaduais. Mas mesmo em outros momentos em que a gente tinha um número maior de candidatos, o MDB abriu mão de ter candidato (ao governo). Em 94, por exemplo, o MDB tinha uma bancada de 17 deputados estaduais e apoio a candidatura do Alvaro Dias para o governo. E 2010 foi a mesma coisa. Na convenção eu teria o meu nome aprovado para ser candidato a governador. Mas um acordo de cúpula nacional do MDB com PT, PDT e outros partidos de esquerda, que queriam uma chapa com Dilme e Michel Temer, e queriam outras candidaturas no Brasil, eles retiram minha candidatura ao governo pelo MDB em 2010. As pessoas às vezes dizem: ‘o Pessuti desistiu’. Não. Eu não desisti. Eu cometi um erro de estratégia que foi não homologar a minha candidatura na convenção e deixei poderes para que a Executiva e o Diretório fizessem isso. Quando chegou no dia da Executiva fechar a chapa ela me tirou fora. Mais ou menos o que aconteceu agora com o César Silvestri Filho (PSDB), que mesmo tendo a candidatura ao Senado escolhido pela convenção teve a candidatura retirada por uma decisão da Executiva nacional. Então o MDB teve sim candidaturas e elegeu governadores em 82, 86, 90, 2002, e 2006. Em 94 não lançou candidato, em 2010 também e agora repete a mesma situação em 2022. Eu vejo com naturalidade o fato do partido não ter um candidato. E não tem porque a gestão partidária conduziu pela família Requião enfraqueceu o MDB. Fez com que o MDB ficasse um partido pequeno no Paraná. E também o MDB, nós refletimos, no Paraná há uma tradição de reeleição do governador. Jaime Lerner se reelegeu em 98, o Requião em 2006 e o Beto Richa em 2014. Então nós vemos que seria uma disputa muito difícil para qualquer que fosse o candidato do MDB a governador nesse ano. Porque tudo leva a crer que o Ratinho Jr será reeleito no primeiro turno. Então o MDB optou por não ter candidato a governador, e manteve a posição de ter uma candidatura majoritária ao Senado, e eu fui o escolhido pela convenção para ser esse candidato.
COLIGAÇÃO
‘Espero neutralidade do governador’
Bem Paraná – O senhor disputa o Senado em uma coligação que tem mais três candidatos ao cargo (Aline Sleutes, do PROS; Paulo Martins, do PL; Sergio Moro, do União Brasil e Alvaro Dias, do Podemos). Isso não é um complicador?
Pessuti – É um complicador, sem sombra de dúvia. Eu mesmo tive a oportunidade de dizer em duas oportunidades ao governador, que o ideal é que ele chamasse todos esses pretendentes ao cargo de senador, e tentasse construir uma chapa de unidade entre todos os partidos que o apoiam. Mas isso não foi possível porque os partidos vinculados aos demais candidatos e o próprio MDB não quiseram abrir mão de ter os seus candidatos próprios. Então ficou nessa situação de que dentre os partidos que compõem a coligação do governador nós temos cinco candidatos hoje disputando a eleição para senador.
BP – Não tem o problema também de vocês disputarem o mesmo perfil do eleitorado de centro e centro-direita. Isso não pode dispersar os votos?
Pessuti – Não. Que vai dividir, com toda a certeza. Mas é a realidade que se apresentou. Nós temos aí, fora essas cinco candidaturas que são pessoas duas de extrema-direita, a Aline Sleutjes e Paulo Martins. O Sergio Moro também é de extrema-direita. Embora ele esteja meio afastado, ele está ‘costeando o alambrado’ do Bolsonaro. Ele quer pastar na lavoura do Bolsonaro. O Alvaro Dias é uma candidatura mais de centro, centro-direita. E eu sou um candidato de centro-esquerda. Eu mantenho a minha linha partidária, ideológica, de centro-esquerda, de quando o MDB foi criado, de Ulisses Guimarães. Ficou um pouco congestionado. As esquerdas e extrema-esquerdas tem quatro ou cinco candidaturas. Eu procuro ocupar nessa disputa, porque eu vejo que tem um filão muito bom a ser buscado que é na centro-esquerda. Sou um político de centro mais à esquerda.
BP – O MDB tem um histórico de fazer a chamada “cristianização” de candidatos. Ele lança, mas não apoia efetivamente. O senhor não teme sofrer isso?
Pessuti – Eu não me sinto cristianizado, não. Porque o MDB do Paraná, na plenitude dos candidatos a deputado estadual e federal estão nos apoiando. Nossos prefeitos do MDB, que são poucos hoje, estão nos apoiando. Os vereadores, eu tenho recebido manifestações extraordinárias. E além do pessoal do MDB, outros partidos, outros prefeitos, vereadores e deputados. Eu tenho diversos deputados que estão pedindo voto para mim, mesmo que não estejamos coligados. Do MDB do Paraná, eu não tenho nenhuma desconfiança, porque na totalidade dos nossos candidatos a deputado federal e estadual estão nos apoiando. Assim como nossos vereadores e prefeitos. O fato é que a minha candidatura começou a praticamente uma semana. Porque ninguém apostava que eu seguisse como candidato. Todos apostavam que eu não seria aprovado no MDB. Depois que eu não registraria a minha candidatura. Então só acreditaram que eu era candidato no dia 15, quando a minha candidatura estava registrada, e depois que eu apareci na TV no dia 26. Então a minha campanha começa efetivamente no dia 26. Então é natural que eu esteja em quarto lugar (nas pesquisas). Até porque as duas candidaturas que despontam, o Sergio Moro e o Alvaro, o Alvaro, nos últimos 50 anos, e o Moro nos últimos 8 ou 10 anos, são os reis da mídia, da televisão, das redes sociais. São conhecidos como candidatos há muito tempo. Hoje, com certeza, 70% do eleitorado não sabe que eu sou candidato a senador.
BP– As pesquisas até aqui apontam para uma disputa polarizada entre Alvaro Dias e Moro. Como o senhor pretende quebrar isso?
Pessuti – Eu pretendo quebrar viajando esse Paraná, fazendo reuniões, visitas, concedendo entrevistas à rádios, Tvs e jornais. Noticiando a minha candidatura, a minha história de vida política, aos quatro ventos. Eu escolhi para suplente um ex-prefeito de Capitão Leônidas Marques que vai visitar no mínimo 150 municípios do interior. Ele está andando todos os dias 5, 6 municípios. Conversando com prefeitos, ex-prefeitos. Eu tenho um volume de prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, ex-vereadores, que estão entrando na nossa campanha. Mas como a campanha começou há uma semana, então as pessoas estão se familiarizando. Eu sei que hoje a pesquisa não me é favorável, mas a minha expectativa é que eu possa crescer nos próximos dias, duas ou três semanas e entrar em uma condição de competitividade com aqueles que despontam em cima. Hoje eu sei que as pesquisas me dão o quarto lugar, mas eu pretendo chegar ao primeiro lugar no dia 2 de outubro.
BP – Nas eleições de 2018 houve uma grande polarização entre Bolsonaro e o PT, prejudicando as candidaturas de centro. O próprio candidato do MDB à presidência, Henrique Meirelles, teve uma votação inexpressiva. Na disputa desse ano, está havendo uma repetição desse quadro. Como o senhor vê esse cenário?
Pessuti – Eu vejo com preocupação. Nós gostaríamos que essa eleição estivesse sendo mais debatida, não apenas nesse antagonismo de extrema-direita e extrema esquerda. Nós gostaríamos que centro-direita, centro e centro-esquerda estivessem com uma participação melhor. A gente espera também agora com os programas de rádio e TV, a gente possa ver a nossa candidata do MDB crescendo, que o Ciro (Gomes) também possa crescer. E que possam um deles ir para o segundo turno. Mas é uma eleição que está, de certa forma, reprisando o que aconteceu em 2018. Uma polarização excessiva. O que não é bom para o processo democrático. Você radicaliza. Ao invés de você estar discutindo projetos e propostas para o País, cria um clima de revanchismo, de briga, até de agressões físicas e morte. Essa polarização exagerada, para os candidatos que estão na liderança é melhor. Você vê nos debates ou nas postagem que fazem o Lula e o Bolsonaro, eles procuram ficarem reciprocamente se atacando para manter essa polarização. Então cabe a nós que estamos apoiando a candidatura da Simone Tebet buscar o crescimento dela para ver se temos alguma chance. E a mesma coisa, a minha candidatura. Eu imagino que agora as pessoas tomando conhecimento que o Orlando Pessuti é candidato ao Senado, tenho a expectativa de que possa crescer. Eu gostaria que a Simone Tebet pudesse crescer e chegar ao segundo turno. Mas estou vendo que isso será muito difícil diante da polarização Lula, Bolsonaro.
BP – Por que o senhor acha que a terceira via não ganhou corpo?
Pessuti – Não conseguiu porque nós estamos em um momento de extrema radicalização do comportamento das pessoas. E não é só na política, na sociedade como um todo as pessoas estão radicalizando. Não estão buscando no dia a dia a conciliação, o diálogo. Acho que não seria esse o caminho ideal. Nós temos que ter mais ponderação, diálogo. Nós estamos com o presidente Bolsonaro governando o País há 3 anos e oito meses, e a polêmica, o conflito, o confronto permaneceu desde o primeiro dia de mandato dele. Talvez seja uma estratégia em manter em nível elevado a polarização do debate para não deixar espaço para que outra candidatura cresça. O ex-presidente Lula é diferente. Ele está na posição dele, defendendo as suas ideias e se defender das acusação de que o governo praticou corrupção. Mas eu vejo que é uma situação difícil. Não é impossível nós termos um segundo turno entre Lula e Simone Tebet, entre Bolsonaro e Simone Tebet, Lula contra Ciro. Isso não é impossível. Na política não é. Nós temos pouco temos e ao mesmo tempo pouco tempo. Quatro semanas.
BP – O fato do governador Ratinho Júnior ter declarado apoio ao deputado Paulo Martins para o Senado prejudica a sua candidatura?
Pessuti – Ela não ajuda. Se ele tivesse manifestado apoio à minha candidatura, certamente eu teria uma condição mais tranquila de crescer nas pesquisas. A gente sabia que isso ia acontecer. O próprio governador não escondeu de nós em nenhum momento. O governador disse que não iria forçar a barra em favor de nenhum candidato. Nós esperamos. Ele disse que ia manter, no que fosse possível, a neutralidade, deixando cada um de nós os cinco candidatos ao Senado que estão em partidos que integram a coligação pudessem tocar a sua campanha. Lógico que eu gostaria muito de ter o apoio explícito dele para minha campanha para o Senado. Mas ele, nós sabemos que por força da coligação e do acordo que ele fez com o presidente Bolsonaro, o candidato oficial do governador é o Paulo Martins.
EXPERIÊNCIA
‘Venho de longe, mas meu passado me garante’
Bem Paraná – Na propaganda eleitoral, o Ratinho Jr tem criticado o que chama de “velha política”. Ele chegou a dizer no primeiro programa que “fez em quatro anos o que a velha política não fez em 30”?
Orlando Pessuti – Ele fala isso relacionado especificamente no que diz a ponte de Guaratuba. Porque há 33 anos eu coloquei na Constituição a construção da ponte. E fala da engorda da praia, que é um projeto anterior ao desastre que comeu um pedaço da praia de Matinhos. Ele fala mais ou menos isso. Porque nos últimos 30 anos nós vamos chegar ao período do Jaime Lerner no governo. Ele sempre enaltece o que o Lerner fez. Inclusive enalteceu em público o período do meu governo em 2010. Inclusive com êxitos de muitos projetos de atração de empregos e investimentos. Em um período de mais de dez anos, o ano em que o Paraná teve mais investimentos foi 2010, no meu governo. Então ele faz essa referência de coisas que não aconteceram nesses 30 anos à ponte e a engorda da praia, na minha maneira de ver. Ele pode também fazer uma referência dessas sobre o Trevo das Cataratas de Cascavel. Que é uma obra que eu junto com Mário Pereira quando era governador em 94, já queríamos construir. Quando ele fala na velha política acho que todos nós repudiamos as práticas da velha política. Agora nenhum de nós pode repudiar a boa política. E a boa política é feita por gente de pouca idade e de muita idade. Eu conheço muitas pessoas que têm uma idade mais avançada e que são exemplos da política brasileira. Cito dois do nosso partido: o Pedro Simon, do Rio Grande do Sul e o Jarbas Vasconcelos, de Pernambuco. São pessoas exemplares da boa política, da governança correta. Eu mesmo faço parte disso que muitos entendem da velha política só pelo fato de que eu faço política há muito tempo. Mas eu não sou da velha política. Eu sou um político moderno, que procuro me atualizar, que procuro estar ligado e antenado nas transformações que o mundo está passando. Agora eu venho de longe na política, mas não pratico a velha política, eu pratico a boa política. E até sempre digo que a minha vida pessoal, familiar. Eu sou um cidadão que tenho fé cristã, que tenho uma família muito bem estruturada com a dona Regina Fischer, minha mulher, que tenho três filhos, três netos. Então uma família estruturada no amor, na fé cristã. Sou um militante de política estudantil desde que eu estudava o ginásio. Sou alguém que milito político dentro das entidades de classe, da minha profissão, medicina veterinária, cooperativismo. Então a gente vem de muito longe, mas o meu passado me garante. É como se um certificado de garantia fosse. Como se a pessoa olha e tenha a certeza que o Pessuti eleito para o Senado, é uma certeza de trabalho. Eu não vou lá para ficar arrumando encrenca, ficar xingando o presidente. Eu vou lá para trabalhar, construir soluções que o Paraná precisa.
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