Abatido, demonstrando um misto de serenidade e de uma leve impaciência, o técnico Tite concedeu entrevista coletiva mais de uma hora após o término da partida com a Croácia, que custou a eliminação do Brasil na Copa do Mundo do Catar. O treinador confirmou que está deixando o comando da seleção e falou sobre a decisão por pênaltis. Ele optou por deixar Neymar, seu melhor batedor, por último na fila e seguiu para o vestiário tão logo o resultado foi sacramentado, enquanto os jogadores ficaram desolados no campo.

Apesar de ser o batedor oficial do Brasil, Neymar nem sequer chegou a participar das penalidades máximas. Isso porque, com os erros de Rodrygo e Marquinhos, a Croácia abriu 4 a 2 e decidiu o confronto. “Ele é o quinto, decisivo, pênalti em que você fica com uma pressão maior. O jogador que tem melhor qualidade, também mentalmente (fica pro fim)”, justificou Tite.

O treinador foi para o vestiário tão logo Marquinhos perdeu sua cobrança, sacramentando a eliminação. Os jogadores do Brasil, por sua vez, ficaram no gramado, muitos dos quais em prantos. Tite foi questionado se ele não considerava que deveria ter permanecido em campo naquele momento, pergunta que lhe causou desconforto.

“Talvez, talvez. Agora, talvez também em todas as outras vitórias não seja costume meu. Eu fico sempre, um cara mais reservado. Não é na vitória, não é na derrota. Você viu eu comemorar o gol em alguns momentos? Viu? Não”, afirmou Tite.

“Talvez eu pudesse fazer isso (ficar em campo), mas seguramente eles (jogadores) sabem o quanto eu tenho do trabalho, de estar junto, do comprometimento, e do orgulho que eu tenho do trabalho que eu desenvolvi. Isso você pode ter certeza.”

Durante a coletiva, Tite também confirmou que está deixando a seleção após seis anos e meio. “Fim de ciclo. Eu já havia colocado há mais de um ano e meio isso. Não sou um cara de duas palavras. Não estava jogando para ganhar e depois fazer drama para ficar, quem me conhece sabe”, comentou.

RENDIMENTO APROVADO
O técnico Tite e sua comissão técnica consideraram que, “na média geral”, o Brasil foi bem na Copa. Mesmo sem serem diretos nas respostas, o treinador e seu principal auxiliar, Cléber Xavier, apontaram que o Brasil foi melhor do que a Croácia no jogo que custou a eliminação do time no Mundial. A avaliação é que o resultado só não foi melhor por falta de efetividade na hora de finalizar, mesma justificativa dada após a derrota para Camarões, na primeira fase.

“Na média geral, sim. Talvez faltasse aí uma efetividade maior e transformar em gols as jogadas criadas, principalmente no jogo de hoje”, considerou Tite, ao ser indagado se as apresentações da seleção haviam ocorrido do jeito que ele planejara nesta Copa do Mundo.

Seu auxiliar, como de hábito, usou números para mostrar que o Brasil foi melhor do que a Croácia na partida desta sexta. “Eles não conseguiram chutar uma bola no gol. Eles tiveram controle de bola no campo deles, não conseguiram furar, não conseguiram entrar. A gente teve 11 finalizações, acho que cinco seis, ou sete ou oito defesas do goleiro (croata), defesas difíceis”, apontou Cleber Xavier. “Teve controle e teve finalização ao gol. Faltou um pouquinho de efetividade? Talvez tenha faltado, mas o goleiro também foi bem.”

Tite também teve de responder sobre as substituições que promoveu no segundo tempo. Mesmo com as dificuldades que a seleção encontrou na etapa inicial, ele mandou a campo o mesmo time para os 45 minutos finais. Com cinco minutos, porém, colocou Antony na vaga de Raphinha, e pouco tempo depois sacou Vinicius Jr para a entrada de Rodrygo. Richarlison, Militão e Paquetá também saíram no decorrer da partida.

“Temos um jogador de qualidade técnica individual, que é o Rodrygo; temos um jogador, o Antony, de lado de campo, de jogada pessoal também, que entrou e nas outras também tinha entrado bem; Pedro, pivô, jogador de área para conclusão; Alex Sandro com o Militão sentindo cãibra, necessidade de substituição; e desgaste de Paquetá, por si só elas dão as devidas (justificativas)”, disse o técnico. “A jogada que nós fizemos o gol foi uma jogada construída com Rodrygo por dentro, de tabela curta. Mas eu entendo absolutamente, a dor e todas as críticas.”

Sobre se deixará um legado para o futuro técnico da seleção, cuja escolha ainda nem sequer começou, Tite declarou que este não é o melhor momento para opinar. “O tempo pode responder melhor. Agora a dor, por mais humano e por mais coerente, equilibrado e consciente que eu possa ser, a emoção está aflorada. Eu não tenho condições de avaliar todo o trabalho realizado”, disse. “Tenho certeza absoluta que, com o passar do tempo, as pessoas vão fazer uma avaliação devida.”