Rubens Nemitz Jr – Cortesia Leopoldo Scremin

Na noite de ontem (05) eu reli a matéria da vitória do Mestre do Iguassu feita aqui neste portal. Coberta por ufanismo, um portal 100% paranaense exaltava um cavalo daqui que pode se tornar Tríplice Coroado.

Então em um momento de epifania comecei a imaginar como seriam os textos caso houvessem matérias sobre o assunto segmentadas em portais cariocas, paulistas, gaúchos e etc. Até busquei no Google, mas não encontrei.

Poderia eu me exaltar e acreditar que sou especial, afinal, temos aqui no Bem Paraná uma coluna no jornal impresso, um blog muito lido e o reconhecimento de muita gente no Brasil.

Mas não, na verdade comecei a refletir novamente sobre a falta de jornalistas interessados em escrever sobre turfe. E tanto eu quanto alguns dos “sobreviventes” nesta árdua tarefa de noticiar as corridas de cavalos conhecemos o motivo: falta de apoio.

Minha primeira formação é a administração, onde aprendi diversas coisas que nunca usei na prática. Porém adquiri conhecimento, que talvez seja melhor que ganhar muito dinheiro. O dinheiro vai, mas o conhecimento fica.

E nessas aulas de administração aprendi o básico de como criar e vender um produto. Nas normas da “boa administração”, para cada produto que você coloca no mercado, pelo menos 10% – na verdade na tabela é de 10 a 20% – do valor investido tem que ser gasto em marketing.

E quando se fala em marketing não se fala apenas em colocar outdoors nos quatro cantos da cidade, fazer propaganda na televisão e rádio. Fala-se em investir em mídia direcionada no seu público alvo.

Um grande exemplo que posso dar é a 188 BET. Esta empresa com sede na Ilha de Man, no Reino Unido exemplifica bem. Eu escrevia em um portal segmentado em futebol americano, esporte que tem apostas liberadas no mundo inteiro, principalmente em Las Vegas. E assim como o turfe é pequeno em número de audiência.

A empresa citada acima pagava cerca de R$ 3 mil por mês para ter um banner naquele blog, que atingia praticamente o mesmo número de page views que hoje o blog Bem no Jockey alcança. Não vou ser desagradável em citar quanto é cobrado por um banner no nosso blog aqui, mas acreditem, nem se compara com o valor que a 188 BET pagava para ser relacionada com notícias sobre futebol americano.

E isto diz muito sobre o turfe brasileiro. Hoje em dia, quem apoia os blogs e sites segmentados em turfe são as Associações de Criadores e Proprietários espalhadas pelo país e alguns abnegados que fazem – talvez – por pena.

Vou dar o Bem no Jockey como exemplo. Hoje temos a ABCPCC, a ACPCCP e a Rede de Postos Pelanda como anunciantes. Já tivemos a Divesa e um Stud que, depois de anunciar por alguns meses, sem poder ajudar mais nos deu um cavalo de sete anos como parte do pagamento. Óbvio que o cavalo deu prejuízo (risos).

O site Raia Leve é patrocinado – na verdade foi criado – pela ACPCPSI, que é a Associação Carioca de Criadores e Proprietários. De resto, tínhamos a PMU que surgiu como um alento e logo foi embora.

Então volto à prática da “boa administração”, onde quando você lança um produto no mercado deve investir de dez a vinte por cento de seu orçamento em marketing.

E aqui não quero criticar gestão nenhuma, mesmo porque sabemos das dificuldades que os hipódromos vivem principalmente em pagar prêmios em dia. Porém é extremamente necessário começar uma conversa sobre este assunto.

O Jockey Club do Rio Grande do Sul gasta para realizar corridas semanais cerca de R$ 400 mil por mês. O Jockey Club de São Paulo agora que está adiantando prêmios cerca de R$ 350 mil e o Jockey Club do Paraná cerca de R$ 250 mil, já que realiza reuniões quinzenais.

Estes hipódromos gastam um valor alto na transmissão das corridas e isso não se caracteriza como marketing, uma vez que transmitir corridas no simulcasting passa muito mais pelo operacional para gerar apostas. Sem transmissão o movimento geral de apostas é irrisório.

Falar em investimento de 10% em marketing para um hipódromo que gasta R$ 400 mil por mês NO SEU PRODUTO é extremante utópico, mas já pensaram se o Presidente Vecchio e a direção do JCRS investissem ao menos 5% deste valor em marketing?

Seriam R$ 20 mil reais por mês, mais ou menos o custo de dois páreos.  Com este dinheiro você compra espaço na Guaíba, no Zero Hora, em algum canal de televisão de menor audiência – mas é televisão, tem 60 mil espectadores por minuto – e ainda sobra dinheiro para os outdoors. Você consegue colocar os profissionais que já estão inseridos no turfe para escrever e apresentar estes programas/spots noticiosos. Você divulga o seu produto e ainda fomenta a atividade na mídia. 

Você consegue criar uma campanha trimestral ou semestral focada nas apostas.

Quando eu palestrei o Congresso Brasileiro de Turfe deste ano, minha vontade era perguntar para os presentes, a grande maioria grandes turfistas, qual era o telefone do Tele Turfe da Gávea. Nenhum ali iria saber! Porque não existe investimento na divulgação disso!

Estamos em 2019 e o “disk-sexo”, aqueles telemarketings eróticos ainda lucram milhões por ano. E o turfe não! Única e exclusivamente porque eles investem em divulgação massiva o ano inteiro e o turfe só gasta uma vez por ano nas grandes festas.

Para entender melhor esta cultura do “marketing inexistente” no turfe, podemos citar o próprio Congresso Brasileiro de Turfe.

Tivemos diversas pessoas falando sobre criação, MGA, cavalos, índice técnico… tantas pessoas que elas gastaram o tempo destinado ao marketing e eu e a Adriene Trinco tivemos 20 minutos no total para tratar deste assunto tão importante.

Minha apresentação foi jogada fora, assim como o meu tempo para elaborá-la. O da Adriene idem. Tudo para inflar egos de dirigentes e não abordar o assunto marketing. Ali eu comecei a entender o porquê do turfe está combalido.

Vejam: se você gasta R$ 350 mil para realizar corridas em uma megalópole como São Paulo e não investe nada em marketing, ninguém estará presente. E se ninguém vai, como renovar o público? Conseguir recriar a cultura da aposta, que sustenta as corridas de cavalos?

Tanto que quem investe hoje em dia para divulgar as corridas – como pano de fundo – são os restaurantes como o Iulia, Ferra e etc, em que 50% do público nem está ligando para as corridas, quem dirá apostar. Quando você vai a Cidade Jardim os bares estão cheios e as arquibancadas vazias.

Imagine se o Jockey Club de São Paulo disponibilizasse ao menos 5% do que gasta realizando as corridas, que é seu produto, em divulgação. Ia ter R$ 17 mil para gastar em marketing direcionado.

Você teria um programa direcionado ao turfe na Jovem Pan ou Rádio Bandeirantes. Ia atingir cerca de 60 mil pessoas por minuto. Faz isso por seis meses e segmenta em apostas. Vai aumentar o MGA com certeza.

Quem é um dos maiores anunciantes do Brasil em rede aberta de rádio e televisão? As Loterias da Caixa! Por que eles anunciam? Porque dá retorno!

O Silvio Santos COMPROU um canal de televisão para vender a Tele Sena! Mesmo com o advento da internet o grande público compra milhões de Carnês do Baú todos os meses. Os exemplos estão na nossa frente e nós fechamos os olhos para eles.

Agora você olha para o turfe. O maior jornalista e publisher do Brasil, Marcos Rizzon, que está há 25 anos distribuindo jornal impresso para o país inteiro precisa fazer uma rifa anual para conseguir verba para manter seu trabalho. Isso porque ele é muito prestigiado. Imagine os pequenos e sem notoriedade…

Tem fotógrafo que vai cobrir eventos de turfe pelo Brasil gastando do próprio bolso e não é valorizado. Tem jornalista que tem que pedir dinheiro a proprietários e criadores para conseguir continuar divulgando o turfe. Pedir passagem para poder ir ao evento… Este tipo de humilhação definitivamente não é necessária.

Eu vou dar alguns exemplos sobre o turfe do Paraná, já que aqui eu posso falar com maestria, pois além de ser jornalista segmentado sou presidente da Associação dos Cronistas de Turfe do Paraná.

Todos sabem que eu faço a comunicação do clube, com um valor colaborativo previamente acertado com o Jockey. Nesse ponto eu não posso reclamar, pois uma vez que acertamos os termos e remuneração já está lavrado. Faço porque me sinto importante e porque acredito que ajudo o clube.

No entanto, para termos a ÚNICA coluna de turfe em jornal impresso de circulação diária no Brasil, eu “volta e meia” preciso recorrer as Associações e abnegados para não perdermos o espaço, que no dia 02 de Dezembro completará um ano de circulação interrupta as quintas-feiras.

Eu consegui um espaço na Rádio CBN Curitiba, FM 90.1 MHz, chamado “Informativo de Turfe”, uma vez que o diretor geral da CBN e Band News em Curitiba é um amigo.

Este informativo entra no ar no intervalo do CBN Notícias Edição Nacional, às 18h15. Horário nobre. Ele custa R$ 2.500,00 por mês e no mês passado eu e a ACPCCP dividimos os custos. Foram 24 inserções, privilegiando a semana do GP Paraná.

Neste mês serão apenas 12, uma vez que a ACPCCP pagou meia cota e eu decidi não colocar R$ 1.250,00 do bolso para divulgar o turfe. Acredito que esta função de pagar não cabe a mim, uma vez que eu já trabalhei para conseguir o espaço, redijo e ainda vou à rádio gravar a locução. Além de não ser remunerado, ainda ter que pagar do bolso para o “profissional Leopoldo Scremin” é o cúmulo!

E um detalhe é bem importante: quem paga os R$ 1.250,00 da cota tem direito a um spot por dia de 13 segundos após o informativo, doze inserções no mês no horário que citei acima. Sim, não é doação, é anúncio na Rádio CBN no horário das 18h15.

Quer dizer, está comprando mídia na Rádio CBN e ainda ajudando a divulgar o turfe. Provavelmente este programa sairá do ar em novembro se não aparecerem anunciantes. Pois hoje eu tenho vergonha de – como alguns dizem – “morder” novamente a ACPCCP.

Outra oportunidade de divulgar o turfe que está indo embora: programa semanal na Rádio Cidade AM 670 MHz. A Rádio Cidade é a antiga CBN Curitiba AM, que passou por reformulação no início do ano.

Nós recebemos o Diretor da rádio na cocheira do Stud Brothers, alinhamos UMA HORA DE PROGRAMA nos dias de corrida, com transmissão ao vivo do Jockey antes das mesmas começarem, transmissão em YouTube e Facebook. Precisa levar cerca de R$ 3.000,00 em anúncios diversos para serem inseridos em toda a programação da Rádio, não só no programa de turfe.

Neste projeto eles iriam subsidiar o primeiro Podcast de turfe do Brasil! Iriamos conectar o turfe carioca, o gaúcho, o paranaense, o paulista e o nordestino. O projeto está engavetado. O espaço está lá, é só pedir.

Sabe por que não o toco pra frente? Porque tem que sair com o “pires na mão” pedir para turfistas dinheiro. E queira ou não, aqui no Paraná são pouquíssimos que estão abertos a investir neste tipo de divulgação do turfe. E eles já estão ajudando em outros projetos que estão acontecendo. 

Vocês não imaginam a vergonha que é para um jornalista pedir dinheiro a “terceiros” para colocar o turfe no ar! É humilhante! Sinceramente, os cronistas/jornalistas não precisam passar por isto.

Está sendo alinhado com a ESPN uma “janela” semelhante ao da ESPN Americana no portal brasileiro para escrever sobre turfe. São meus ex-colegas de trabalho que aceitaram o projeto. Provavelmente não irá pra frente pelo mesmo motivo: falta de apoio à mídia segmentada em turfe.

E por fim, para vocês entenderem a natureza deste texto de ALERTA para o fim da mídia segmentada do turfe, vou falar sobre a Band Sports e sobre o turfe a nível nacional.

Um ex-colega de Esporte Interativo está no Band Sports em cargo de chefia. Voltamos a nos falar e eu apresentei um projeto semelhante ao “Informativo de Turfe” da Rádio CBN, porém, nos intervalos do Band Sports, canal de televisão a cabo de rede nacional.

Me levaram para uma reunião com o Diretor Comercial e com o Diretor de Programação da rede no dia 02 de agosto, véspera do Festival da ACPCCP, em São Paulo.

Fui a São Paulo, vesti meu melhor terno e apresentei minha proposta. Minha ideia era de quatro spots diferentes de 1 minuto por semana, exibidos duas vezes ao dia, totalizando 32 durante o mês. O custo seria o mesmo de um programa mensal de uma hora. Cerca de R$ 30 mil ao mês rateados pelos clubes e posteriormente repassados a anunciantes.

A grande sacada era que eu roteirizaria – gratuitamente – divulgando os quatro hipódromos. Quinta e sexta divulgando as corridas dos quatro maiores hipódromos do Brasil e segunda e terça passando os resultados. TUDO COM PLÁSTICA, EDIÇÃO, LOCUÇÃO E PRODUÇÃO DO BAND SPORTS. Semelhante a uma notícia.

Lá em São Paulo eles me fizeram outra proposta: a Band Sports faria tudo o que eu pedi, mas DENTRO DO BAND SPORTS NEWS, noticiário diário deles. Com direito a reprise e equipes dos quatro estados indo captar imagens e matérias sobre o turfe. Seriam matérias feitas pela Band Sports sobre o turfe brasileiro, no ar 32 vezes por mês.

O custo foi de R$ 27.500,00. Parece alto, mas seria dividido por quatro hipódromos mais a ABCPCC. Daria R$ 5.500,00 por clube. Parece caro para quem investe R$ 300 mil em um produto sem divulgação?

E ainda depois de estar no ar, o departamento comercial da Band News se ofereceu para captar recursos e diminuir o valor pago pelos hipódromos. Eles tinham muito interesse em segmentar o turfe em seu canal.

Este valor por clube não dá um prêmio de primeira colocação de um dos diversos páreos que eles dão por mês. Lembra dos 10% direcionados ao marketing? Para um hipódromo que gasta R$ 400 mil por mês em corridas, o custo de estar na TV a cabo em rede nacional em 32 programas com 16 matérias diferentes por mês seria de menos de 1,5%. Vocês conseguem entender o absurdo da não aprovação?

Vale ressaltar que os Presidentes Antonio Quintella e Roberto Belina acenaram positivamente para a ideia. No caso da ABCPCC foram readequados os valores da divisão por ela não promover corridas de cavalos.

Até hoje não recebi a resposta dos outros três clubes. Há duas semanas recebi um e-mail da Band Sports pedindo para deixar em stand by o projeto até o fim de outubro, por readequação da grade. O cavalo passou encilhado e nós não montamos.

Sabem por que os E-Sports (esportes eletrônicos/vídeo game) são grandes hoje no SporTV, ESPN, Fox Sports e Band Sports? Porque existem investidores. Qualquer esporte segmentado que tem representatividade nas grades de audiência dos canais a cabo é pago. O Basquete Brasil – NBB paga para ser transmitido, para vocês terem uma ideia.

O golf, esporte extremamente segmentado e com emoção relativamente pequena perto das corridas de cavalos, sem oportunidade de apostas e não praticado profissionalmente em diversos países tem um canal na Sky. E o turfe não tem sequer uma propaganda.

E é isso que os representantes dos clubes de corrida – em grande parte, sem generalizar – não estão entendendo.

Existem espaços para o turfe na mídia. O que não temos são investidores. Deixem de dar um páreo por mês e durante seis meses e coloquem os R$ 10 mil que vocês teriam de custo no marketing. Ao final deste período avaliem se o MGA aumentou ou diminuiu com este páreo a menos.

A mídia segmentada no turfe está acabando. Na verdade já acabou, quando os turfistas que dirigiam jornais e redações deram espaço a profissionais novos. Cadê as matérias de turfe no Estadão, no O Globo, na Gazeta do Povo, no Zero Hora? Enfim, ou os clubes começam a investir na mídia segmentada ou as corridas de cavalos só serão notícia quando acontecerem acidentes de pista. Está aqui o nosso alerta. 

Em tempo: hoje faz um ano e três meses que temos este espaço no Portal Bem Paraná e em 02 de dezembro faremos um ano de colunas de turfe no Bem Paraná impresso. Parece pouco, mas no momento é uma grande parte do que o turfe brasileiro tem nas grandes mídias.