A enóloga portuguesa Filipa Pato trata seus vinhedos como se fossem filhos. Com carinho e cuidado. Adepta da agricultura biodinâmica, ela controla pragas com plantas e animais. O salgueiro e a cavalinha são exemplos de plantas fungicidas que ajudam a manter os vinhedos saudáveis. Tudo sem pesticidas. Há algum tempo, Filipa encontrou o que chama de “pequeno tesouro”.
Um vinhedo de mais de cem anos, vinhas velhas que agora ela administra e das quais produz vinhos especiais de uva Baga, típica da região da Bairrada. Foi ali, na localidade de Ois do Bairro, que a encontramos, eu e o grupo de mais 15 pessoas, entre jornalistas e representantes das importadoras Porto a Porto e Casa Flora, em nossa deliciosa viagem pelos vinhedos de Portugal e Espanha (veja aqui como foi a visita às vinícolas Carmim, João Portugal Ramos e Caves Messias).
Na vinícola, além das barricas, Filipa utiliza ânforas de argila para fazer vinhos mais delicados. É um processo antigo que foi aperfeiçoado com uma nova tecnologia para vedação. “Voltamos ao passado para pensar no futuro”, diz ela.
Filipa é filha do conhecido enólogo Luís Pato, então sua tradição com vinhos vem de berço. Ela nos apresentou as instalações que utiliza e que um dia foram de seu avô. A produção envolve muita mão de obra e pouco maquinário. Por isso mesmo, o resultado é uma quantidade pequena para os padrões de mercado. Fica em cerca de cem mil garrafas por ano, que são distribuídas em diversos países. No Brasil, um dos mais vendidos é o espumante 3B, de qualidade incontestável. Outro mercado em crescimento é os Estados Unidos, onde Filipa conta que apenas Nova York já está consumindo quase a mesma quantidade de garrafas da marca que o Brasil.
Depois de visitar os vinhedos e a vinícola, fomos recebidos por Filipa para um almoço em sua casa. Aliás, o imóvel é parte residencial, parte comercial. Nos andares inferiores e no subsolo, funcionam escritório, depósito de bebidas e também área para as barricas e ânforas. Ali fica a interessante máquina responsável por girar e inclinar as garrafas de espumante lentamente (remuage), para que os resíduos da fermentação de acumulem no gargalo e possam ser retirados. Essa retirada é chamada dégorgement.
A maioria das vinícolas congela o gargalo onde estão os sedimentos. Quando a tampa é aberta, esse material é expelido por pressão. Filipa prefere fazer o dégorgement de forma um pouco diferente. Com técnicos experientes, as garrafas são abertas sem o congelamento, rapidamente. Com o sedimento expulso, a garrafa é completada com líquido de uma outra garrafa da mesma safra e a rolha colocada por uma máquina. O processo, diz ela, garante a uniformidade da produção.
A nova área da empresa é recente e fica vizinha à casa de Luis Pato, com uma bela vista para o vale onde ficam os vinhedos.
A adega particular da família está ali, ainda com bom espaço para novos vinhos. No andar superior, a enorme cozinha onde Filipa e o marido, o chef de cozinha William Wouters, recebem visitantes. Uma visita guida pelos vinhedos, terminando com um almoço harmonizado, fica em 50 euros por pessoa.
Começamos a refeição com camarões grelhados, servidos no deck externo, juntamente com o icônico espumante 3B, um dos meus favoritos.
Depois, já na imensa messa na cozinha integrada, decorada em branco, com muitos livros, provamos uma salada com queijo fresco com ervas aromáticas, maçã verde, pepinos e cebolas. Foi servida com o excelente Nossa Calcário 2013, produzido com uvas da casta Bical.
Em seguida, uma sopa de espinafres, com o tinto Post-Quercus Baga 2015, do qual apenas 90 garrafas chegaram ao Brasil neste ano.
O prato principal foi um frango com creme branco, cenouras cozidas e batatas assadas com alecrim. Simples e saboroso!
Para acompanhar, um tinto Nossa Calcário 2011 da adega pessoal de Filipa, com vinhos da casta Baga, mostrando que a uva envelhece bem (essa safra está esgotata no mercado, mas no Brasil está disponível a safra 2013).
Com a sobremesa, batizada de Pera Bêbada, cozida em vinho e especiarias,acompanhada de sorvete de mel, que foi servida o fortificado Espírito de Baga 2013, vinho de boa acidez e bem diferente dos porto ou madeira. O primeiro lote foi adquirido pelo famoso chef Gordon Ramsay, o que garantiu notoriedade ao rótulo.
- A jornalista viajou a convite das importadoras Porto a Porto e Casa Flora
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