Mais um Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. A data marca também o Dia da Árvore e o começo da primavera e foi, justamente por ser uma época que transmite a ideia de renascimento, de renovação, escolhida para reforçar nossa luta por uma sociedade mais inclusiva.

Bom, faz tempo que não apareço por aqui, mas, sem querer passar em branco por essa data, gostaria de trazer uma reflexão que venho trabalhando em minhas aulas e palestras. Uma reflexão que surgiu a partir desses manuais e guias que circulam bastante pela internet e em eventos sobre deficiência – manuais e guias com as famosas “Dicas de Convivência”.

Pergunto: o que determina as suas relações com as pessoas? Quando você se aproxima de alguém é sempre para oferecer ajuda? Quando você conversa com alguém qual é o assunto? O que tem nas outras pessoas que desperta o seu interesse?

No caso das pessoas com deficiência, esses manuais e guias parecem querer determinar respostas para essas perguntas, contudo respostas com dicas prévias que mais reforçam falsas generalizações do que combatem mitos. Mais ainda, com dicas prévias que buscam pautar as relações com base naquilo que “falta” no outro.

Além disso, indo mais adiante, esses manuais e guias parecem querer evitar conflitos, gafes, constrangimentos, ruídos nas relações entre as pessoas sem e com deficiência. No entanto, me digam: isso tudo não pode acontecer em qualquer relação? Em qualquer convivência? E conflitos, gafes, constrangimentos e ruídos não fazem parte da vida e devem servir para o amadurecimento e crescimento de todos?

As falsas generalizações e a desumanização por meio da ênfase na “falta” só estabelecem e reforçam relações hierarquizadas e desigualdades naturalizadas. É claro que a deficiência não deve ser ignorada, esquecida, escondida, é óbvio que não! A questão é que ela não pode ser o que determina uma relação, um contato, uma aproximação, ainda mais carregada de estereótipos e preconceitos.

Acredito, cada vez mais, que um dos caminhos para combater o capacitismo é a abertura para relações horizontais, enriquecidas com os defeitos, as qualidades, as limitações, as potencialidades, com as variadas características de todas as pessoas, com e sem deficiência.

Que possamos construir relações verdadeiras, com suas trocas e conflitos. Que possamos determinar nossas convivências a partir de tudo o que o outro tem para nos oferecer e não a partir daquilo que “falta” nele. Que  possamos caminhar para um mundo com menos manuais e guias… essa é a dica!