Sonhei que eu era umas 10 pessoas ao mesmo tempo, 10 Robertas meio parecidas com o que eu imagino que sou, mas um pouquinho diferentes uma da outra. Dizendo assim agora, pode parecer um sonho angustiante, muita gente num corpo só. Mas na hora, pareceu a coisa mais confortável do mundo. A noite que acabou no sonho foi, pra dizer o mínimo, curiosa. Uma coisa meio Eduardo e Mônica: festa estranha com gente esquisita. Deitei perto das 4h da manhã e acordei às 8h na alegria de quem tinha dormido pelo menos umas 10 horas.

Lara, minha filha mais velha, fez aniversário na quinta-feira, 18 anos, e planejava receber os amigos em casa no sábado. Tínhamos combinado de encontrar cedo para comprar os enfeites da festa na 25 de Março (por isso a hora marcada pra levantar). Um convite desses não se nega, independente da noite, da semana, dos meses anteriores. Não se nega por causa dos anos anteriores. Sempre tive um gosto enorme por festa de aniversário, a decoração, os doces, o bolo, as lembrancinhas. E é de pequena isso, lembro de alguns dos meus aniversários de Garanhuns no detalhe. Não era nada de buffet, contratar especialista não. Como os das minhas filhas, era tudo em casa, tudo feito em casa.

Foi na pandemia que a Lalá pediu pela primeira vez pra eu me conter: “Bora só de bolo normal esse ano?”. Ela tinha razão. Era fim de março de 2020, somente ela, eu, a irmã, o pai e uma incerteza de futuro gigantesca em volta da mesa. De lá pra cá, o cenário mudou, mas não mudou o veto para os preparativos na 25. Sofi embarcou junto e eu imaginei que as festas enfeitadas tinham dado tchau a essa família.

Foi aí que recebi o convite do sábado. No caminho de casa até a ladeira Porto Geral, contei do sonho e da noite. Se tem uma pessoa que topa ouvir as minhas histórias, topa ouvir os sonhos quase que no quadro a quadro, que topa comentar, analisar e emitir opinião, essa pessoa é a Lalá. Quando ela quer, claro. Lalá não finge interesse. Ou se interessa ou não se interessa. E por isso mesmo é tão precioso conversar com ela, porque quando está no modo escuta, está a 100%.

“Essa coisa de se comemorar é um ensinamento que ficou, né mãe?”, ela me disse já no caminho da volta. Hoje, enquanto tomava banho pra começar a semana, lembrei da fala da Lalá. Eu pensei que o ensinamento era o de planejar a comemoração, mas talvez fosse o de se comemorar. Pensei nas muitas Robertas do sonho, no que sai da gente (em como o que se faz, ou se diz chega no outro). É parecido, mas não é a mesma coisa. A gente não percebe com tanta clareza, mas a multiplicidade de sentidos nos acompanha. Todo mundo é uma galera. Inclusive a Lara. Estar perto dessa galera é uma sorte que comemoro desde o 21 de março de 2006. Viva a minha filha que é muitas, todas a 100%, que escuta o que eu digo mais bonito do que o que eu digo. Boa semana, queridos.

@robertadalbuquerque