chuva triste
Chuva triste (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

Aqui no Sul, a gente sempre teve um jeito muito peculiar de encarar as chuvas. Elas vinham, lavavam a terra e a gente até agradecia. Afinal, sem elas, a vida por aqui seria bem mais difícil. Mas, ultimamente, parece que as coisas mudaram. Hoje elas chegam como um tsunami, como se o mundo estivesse acabando em água.

Queria encontrar algo de poético nas chuvas que têm castigado o Rio Grande do Sul nos últimos dias. Parece que o céu, cansado de carregar o peso de tantas nuvens, decidiu despejar uma enxurrada de reflexões sobre o nosso lugar no mundo.

O que antes era apenas um motivo para tirar o guarda-chuva do armário e reclamar do trânsito engarrafado, agora se transformou em algo muito mais profundo. As ruas alagadas não são apenas obstáculos para atravessar, mas metáforas de um planeta que parece estar se afogando em suas próprias mazelas.

Acompanhando as imagens pela tevê, queria acreditar que era só mais conto de Veríssimo, no qual a realidade se mistura à fantasia e o absurdo impera no cotidiano. As ruas se transformam em rios, os carros em barcos improvisados e a gente se pergunta se não seria mais fácil simplesmente nadar contra a corrente e desaparecer no horizonte.

As estações do ano perderam sua coreografia habitual, como dançarinos desencontrados em um salão de baile. O inverno chega tarde demais e vai embora antes do esperado, deixando as árvores confusas sobre quando devem se despir de suas folhas. O verão, por sua vez, parece sufocar até os mais apaixonados pelo calor.

É como se a Terra estivesse mandando sinais de socorro. E nós, meros inquilinos temporários dessa dança descompassada, continuamos a ignorar os sinais de alerta que a natureza envia.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e quer acreditar que depois da tempestade o arco-íris vai aparecer.