cronicas
Imagem ilustrativa (Pixabay)

Não tenho pretensão alguma em me tornar exemplo de ser humano evoluído e iluminado. Porém, acompanhando os “especialistas” em vida saudável da internet, cheguei à conclusão de que o jeito é fugir pras colinas e viver de luz. Como já profetizaram os antigos parceiros da música brasileira, Roberto e Erasmo Carlos, “tudo o que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda”.

Carboidratos, laticínios e carnes vermelhas inflamam o intestino. Café é um pontapé pra agitação, irritabilidade e pras noites insones. Beber um pouquinho de vinho todos os dias não é mais recomendado pela comunidade científica mundial. Ao contrário do que se pensava, o hábito pode desencadear problemas cardiovasculares e neurológicos. E de doido o mundo já está cheio!

Chocolate então! Apenas um quadradinho na ponta da língua, onde estão as papilas gustativas que vão mandar as mensagens pro cérebro interpretar o sabor doce e não exigir que você se empanturre com a barra toda! Ah tá, me conta quem se satisfaz apenas com uma lasquinha? Acho que nem é suficiente pra liberar serotonina pro restante do corpo.

Hoje já se sabe que ovo em excesso não é mais o culpado pelo colesterol ruim. Mas, apesar da boa fama entre os marombeiros por promover o ganho de massa muscular, ainda não inventaram galinhas capazes de produzir ovos à prova de “pums” cheirosos.

A alimentação, no entanto, está longe de ser o maior problema da humanidade. Mais tóxico que os componentes nutricionais de enlatados, processados e etílicos em geral está o jeito de ser e de comportar de uma parcela significativa de representantes da espécie.

São os narcisistas que não olham além do próprio nariz; os críticos do mundo e eternos insatisfeitos com a vida; os manipuladores da vontade alheia; os donos da verdade absoluta e professores de Deus; os egocêntricos que acham que o outro – seja quem for o outro – nasceu para servi-los; os indecisos que tentam sempre se manter em cima do muro pra não contrariar nem gregos e nem troianos; as vítimas das mazelas planetárias e ainda aqueles que acham que vieram ao mundo a passeio, eternamente buscando um patrocínio para sua passagem por esta vida.

Aqueles que não se permitem rir exageradamente porque não é elegante; que andam sempre na mesma paleta de cores sóbrias e em tons pasteis; que seguem todas as regras de etiqueta e são incapazes de construir relações verdadeiras até com o próprio espelho.

O ser humano anda tão pasteurizado que dá até pra comprar no supermercado. Porém, ao contrário dos alimentos industrializados, não vem com descritivo constando a “informação nutricional”. Ou seja, pense bem antes de consumir.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e anda seletiva com alimentos e pessoas.