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Da’Vine Joy Randolph usa um vestido Louis Vuitton no Oscar e dá aula de auto-estima (Fotos: Getty Images)
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Liza Koshy cai no Oscar por causa dos saltos altos e da cauda do vestido

“Eu sempre quis ser diferente e agora eu entendo que só tenho que ser eu mesma.” A frase da atriz Da’Vine Joy Randolph, no seu discurso durante o Oscar 2024, em que levou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante, por ‘Os Rejeitados’, ecoa na cabeça. No meio daquele desfile de grifes, de atrizes cada vez mais magras e mais jovens, a fala da décima artista negra a vencer na categoria, se juntando a outros 22 artistas negros que conquistaram uma estatueta de atuação em 96 edições de premiação, lembra que a diversidade e a inclusão estão longe de serem colocadas em prática, mas que dependem mais de uma revolução particular do que externa.

Oscars vão e vêm, artistas incríveis passam por aquele tapete vermelho, looks de sonho desfilam para as câmeras, mas não tenho vontade, hoje, de falar de roupa. Prefiro ir além dela, pensar nesses corpos tão variados, tão cobrados, nesses padrões tão inatingíveis a que somos submetidas, nessa conta que parece que nunca vai fechar. Sempre vamos dever. Pra quem? Não sei. Não importa. Não interessa. Me interesso pelo talento, pelo carisma, por essa mulher que descobre seu valor em uma sociedade que teima em nos nivelar por baixo.

Nos comentários sobre a matéria que trazia a fala de Da’Vine Joy Randolph, uma pessoa questionava o fato de ela alisar e pintar os cabelos e ainda dizer que se valorizava sendo ela mesma. O argumento é besta, mas é comum. Quantas vezes vamos ter de lembrar que somos o que quisermos ser? A briga vai longe, teremos sempre de ocupar nossos espaços – seja com graça, com pulso, com prêmio, com resistência ou com escolhas. Da’Vine estava linda, vitoriosa, mostrou a todos o quanto é talentosa e a nós resta comemorar com ela. E repetir seu feito. Cada uma na sua praia.

Em tempo: o mesmo Oscar que foi lindo só por isso teve duas imagens que me incomodaram. Uma foi Emma Stone, outra vencedora, reclamando do vestido desconjuntado nas costas, e a outra foi a atriz Liza Koshy, que caiu na frente dos fotógrafos por causa do salto muito alto. Foi-se o tempo do sacrifício para estarmos bonitas e para sermos aceitas. Certa estava Jamie Lee Curtis, com seu pretinho indefectível Dolce & Gabbana, seus cabelos brancos, divando e mostrando que talento e beleza não têm idade.