Programas que resgatam a antiga fórmula de juntar caras-metades na telinha – imortalizada por Silvio Santos em seu “Namoro na TV”, na década de 80 – pipocam na televisão e garantem audiência ainda hoje. O próprio SBT, mãe do formato original, ressuscitou a atração, agora sob o comando de Celso Portiolli e com o nome “Namoro na TV e Etc”. Na Record, Márcio Garcia incrementou o ibope de “O Melhor do Brasil” com o quadro Vai Dar Namoro, em que até famosos buscam um par. Na MTV, são dois programas do gênero: o polêmico “Beija Sapo”, apresentado por Daniella Cicarelli, e “A Fila Anda”, de Penélope Nova.

No SBT e na Record, o foco é o romance. Os casais se conhecem no palco, conversam e decidem se tentam ou não algo mais. Ninguém se beija. Já na MTV… O romance dá lugar à “ficada” sem pudores – e sem compromisso. Ciccarelli, apresentadora do “Beija Sapo”, se diverte. “Tem gente que nem olha para a cara do outro depois do beijo”, conta, rindo. A “beijação” acontece entre os participantes, entre a platéia, entre heterossexuais, entre gays .. A “pegação” é tamanha que até levou o Ministério da Justiça a rever a classificação etária do programa.

Penélope Nova, à frente de outra cria da MTV do gênero, “A Fila Anda” – em que os participantes beijam três pretendentes para decidir com qual ficar -, também assume o caráter romance-zero da atração. “Geralmente, a pessoa quer só aparecer na televisão, botar a foto com o apresentador no seu perfil do Orkut, fazer o seu marketing pessoal, sei lá. A última coisa que ela quer é namorar de verdade.” A apresentadora, entretanto, não descarta possíveis “engates”. “Os relacionamentos podem começar nas situações mais esdrúxulas.” Ou seja, entre uma gravação e outra, mulheres e homens contam com o improvável, algo como conhecer a cara-metade no corredor e, quem sabe, trocar com ela o número de telefone…

Beijo na terceira idade

Para Ciccarelli, as chances de a “ficada” virar namoro são maiores entre os mais velhos. “Quando as pessoas têm mais idade que a média do programa, a probabilidade de o romance engrenar é maior”, avalia a apresentadora, com olhar clínico depois de três anos de programa Segundo ela, os casais mais “maduros”, pelo menos, conversam nos bastidores. Esse bate-papo levou Renata Souza, de 25 anos, a conhecer o seu namorado, Aldo Almeida, de 27, há um ano e quatro meses, no palco do “Beija Sapo”.

A afinidade começou no programa. Depois, bastou ela tomar coragem para mandar uma mensagem por celular para haver um segundo encontro. “A gente se identificou bastante já no programa”, lembra ela. E não houve carta marcada, garante. “A gente só foi se conhecer de verdade depois de gravar. Não sabia que ele ia me escolher, mas fiquei superfeliz, claro.” Renata confessa: não esperava encontrar um namorado no “Beija Sapo”: “Só queria me divertir com os amigos”.

Considerada uma fada-madrinha pelo casal, Cicarelli reforça a crença de que a idade ajudou os dois. Por isso, no que depender da apresentadora, vai ter “Beija Sapo” até para terceira idade. “Muitos velhinhos me param na rua falando que, na minha idade, que eles julgam ser a mesma dos participantes, é fácil conseguir beijar tanto na boca.”

No palco das atrações que prezam pelo romance, Ana Paula Siqueira, de 29 anos, foi outra felizarda. Ela preferiu não contar apenas com a sorte para levar adiante a sua admiração quase platônica por um artista. Depois de assistir a uma entrevista de Sérgio Mallandro no “Superpop”, da Rede TV!, ela tomou coragem e decidiu concorrer ao posto de namorada de Mallandro, no quadro “Vai Dar Namoro”, da Record.

Desde o início do concurso, ela mostrou que queria compromisso. Foi escolhida. “Estamos juntos e muito bem”, garante. “Não sei porque as pessoas estranham tanto. Não tem armação, estou muito feliz.” Ana Paula e muita gente que conhece um parceiro na TV garantem: quando é coisa do destino, a câmera só ajuda.

Por amor ou por dinheiro?

Más línguas dizem que ganhar dinheiro faz parte do desejo de muitos dos aspirantes a namorados que procuram os programas de televisão. Há quem afirme que é oferecido cachê a participantes de similares do antigo “Namoro na TV”. E, muitas vezes, já foi mesmo.

Celso Portiolli, apresentador do “Namoro na TV e Etc.”, exibido pela emissora de Silvio Santos, herdou a “lenda” do original, além do Baile dos Casais e o bordão “é namoro ou amizade?”. E ele admite: nem tudo é lenda. De fato, no passado era da escolha dos participantes negar ou aceitar receber uma quantia em dinheiro mais polpuda para beijar com vontade o parceiro. O beijo cinematográfico custava R$ 250. Muitos topavam.

“No ‘Namoro’, as pessoas recebiam quando se beijavam, mas era no ar, para todo mundo ver. Acontece que muitos estavam se beijando pelo prêmio de R$ 250”, explica Portiolli. “Hoje, não tem mais dinheiro nem beijo, somente a resposta se é namoro ou amizade.” Prevalecem na versão atual, segundo o apresentador, a atração e o sentimento.

Márcio Garcia, que comanda o programa “O Melhor do Brasil”, também nega que seu programa pague cachê aos participantes. “Ninguém ganha nada, senão viraria trabalho.” Ele se orgulha da atração que, diz, resgatou o estilo cara a cara para o gênero. “Muitas emissoras vieram com o mesmo tema, mas nós demos essa coisa de olhar no olho que os outros programas não tinham.”

A temática tem funcionado tanto que, depois de Sérgio Mallandro, foi o cantor sertanejo Maicon quem buscou uma namorada no quadro Vai Dar Namoro. E choveram candidatas. Nenhuma delas, assim como os entrevistados pela reportagem, diz ter recebido qualquer quantia em dinheiro para participar das atrações. Das emissoras, eles juram: querem levar apenas um novo companheiro.

Eles deram certo e estão juntos há 25 anos

Década de 80, Silvio Santos em sua melhor forma. Mauro Roberto Pontes se inscreve no “Namoro na TV” e vira celebridade instantânea. Tudo porque conta o drama de infância: seu pai fugira com a empregada quando ele ainda era moleque. Mais de 3 mil moçoilas encantadas pelo rapaz, então com 19 anos, enviam cartas e mandam fotos. Mauro passa um ano e meio no ar, toda semana. Sempre à espera de uma companheira.

A carta de Silvia passa despercebida no meio de tantos apelos. A moça sequer tem esperanças de ser escolhida. Mas Mauro, então morador da Capital, decide passar aquele Carnaval de 1982 em Praia Grande, cidade natal de Silvia.

Reconhecido nas ruas, ele admite que já estava se tornando um mulherengo. Mas uma garota lhe chama a atenção no meio da folia. Silvia conta que o conhecia do programa do SBT e que tinha escrito uma carta apaixonada para ele. Mauro não titubeia e propõe: “Quer namorar comigo?”. Ela aceita na hora.

Parece coisa de cinema. Mas a história de amor, de fato, começou no clássico “Namoro da TV”, em 1982. Quando decidiram firmar o namoro, Mauro e Silvia precisaram pedir permissão à produção do programa. Mas como ela havia escrito para o galã, não houve objeção.

Em dezembro daquele ano, se casaram com a bênção de Silvio Santos. A cerimônia foi filmada pelo SBT e, anos depois, o patrão os chamou no extinto “Em Nome do Amor” para contar o conto de fadas contemporâneo. Hoje, Mauro considera que seu caso é a prova de que encontrar a alma gêmea na TV é possível, sem ganhar cachê nem fazer falcatrua. “Pelo menos no meu tempo era assim.” Nesse ano, o casal – que mora em Praia Grande – comemora 25 anos de casamento.