Ele me pede para acompanhá-lo até o bosque do condomínio pois quer me mostrar algo “sensacional”. Com os olhos escuros bem abertos vai alertando: “Mamãe, é bem perigoso, mas você vai ficar orgulhosa”. Começa a subir a árvore mais alta do bosque (alta mesmo, não é exagero de mãe). Sobe, sobe, sobe. Aí lá de cima, passa para outra árvore, se agarra num galho e desce escorregando. Claro que chega lá embaixo todo arranhado, mas muito feliz. Claro que elogio o feito, digo que foi muito corajoso, que é muito legal, mas também vou alertando dos perigos da aventura. Coisa de mãe. Imagina se cai lá de cima, bate a cabeça, as costas, quebra um braço, uma perna? Digo para não repetir a façanha. Tenho certeza que ele não vai obedecer, que vai ignorar o alerta, que vai  querer esfregar a coragem na cara dos amigos.
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Bem, vamos ao que interessa. Por que estou contando essa história? Porque a alegria de Bernardo ao escalar a árvore alta e depois descer, foi recompensadora. Sim, recompensadora. Vou dizer o motivo. Ele foi sempre incentivado a brincar muito.
A gente que é mãe sabe que brincar com os filhos é divertido, mas cansa. Pois bem, sempre exerci essa tarefa sem pestanejar. Brinquei muito de carrinho, joguei muito futebol, cansei de perder no Super Trunfo, jogos da memória e todos os tipos de jogos de tabuleiro. Fui vilão e mocinho. Fui cada um dos heróis da Marvel, revezei o papel de Woody e o de Buzz. Incorporei todos os alienígenas do Ben 10.
Em uma década, uma infinidade de brincadeiras. Descobrir o mundo do brincar não foi só exclusividade dele.
E sabe, brincar é muito legal. É muito importante reservar aquele tempo especialmente para o seu filho, entrar no mundo dele. Imaginar com ele que está em outro planeta, que o lençol é uma barraca no meio da floresta, que a casinha de madeira do parquinho é o esconderijo do Batman tudo isso cria uma cumplicidade que vale muito a pena.
Tudo isso também pesou na decisão de mudarmos para um condomínio fechado quando ele tinha dois anos. Nesse pequeno mundo ele e os amigos correm na rua até tarde, brincam de esconde-esconde, jogam bola, se arriscam no tal do bosque. Tudo isso faz parte do aprendizado da criançada. Enfrentar desafios, dividir os brinquedos com outras crianças, resolver os conflitos que surgem na hora da brincadeira. Aí vem aquele rosário que sempre ouvimos: as crianças de hoje não podem mais brincar na rua, é tudo perigoso, é tudo diferente de tempos atrás. E concordo plenamente. Mas acho que sempre tem uma solução. Vai para o parque, leva bola, bicicleta, faz um piquinique na grama de casa. Se for apartamento, também é possível brincar. Muita gente foi criada em apartamento e sempre brincou. Há que se admitir que é preciso esforço e criatividade. Mas repito, vale a pena.
No feriado fomos para a praia com a família. Fazia frio e chovia. Mesmo assim coloquei ele e a minha sobrinha Natália de dois anos no carro e me mandei para a beira mar. O combinado era que brincariam na areia, jogariam bola e molhariam no máximo os pés. Claro que eles ultrapassaram o limite do acordo. Entraram na água. A pequena de moletom e tudo. A alegria dos dois era para gente morrer de amor. Essa semana Natália me ligou e perguntou: “Quando vamos para a praia? Quero molhar a calça e a camiseta de novo.” De todos os dias do feriado, o que ela levou na pequena caixinha de memórias é a aventura de brincar e explorar  a imensidão do mar com o primo.
É fim de semana. Vamos arriscar umas brincadeiras com nossos filhos? A segunda-feira, garanto, vai começar mais animada.
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