Volta e meia chega na minha caixa de entrada de emails uma mensagem. Invariavelmente o interlocutor quer saber como fazer algo novo, testar uma ideia, arriscar. Papo vai, papo vem, chegamos ao ponto central: e se não der certo? E se as pessoas não gostarem?

Em geral respondo que arriscar é se abrir pra possibilidade de erro e da rejeição. O ser humano gosta de rotina, das coisas previsíveis. Mexer com isso é jogar com a sorte.

O problema é que tenho preguiça de emails longos. Mas o tema merece uma conversa mais elaborada.

Nós crescemos num mundo plastificado. Tal como parque da Disney, onde as coisas, como mágica, acontecem sempre direitinho, o susto na hora certa, a fila que anda organizada, o piso perfeito que leva aos lugares certos. Vivemos em casas planejadas, guiadas pelo dogma da organização. Camisas e roupas íntimas organizadas por cor dentro do armário feito sob medida.

Quão inadequados nós já nos sentimos por causa da mesa que não combina com as cadeiras. Porque o suco de laranja manchou o estofado branco. Ou o dinheiro só deu para parte do projeto. E a casa ficou pela metade. Uma promessa de um futuro idealizado.

Mas quem é feliz num ambiente tão previsível? O homem não nasceu para ser prisioneiro de um cenário feito a mdf e vidro colorido. A mente dele é rebelde. Quer testar como fica a sala com a poltrona roxa e as almofadas jogadas sobre o sofá.

É daí que vem esse comichão de querer inventar moda. Quando você menos espera está inventando de fazer pão em formato de arco íris e sai na rua se chamando de poeta.

Tudo isso porque mora um inconformado no coração de cada um. Esse mundo aí pode ser lindo, mas ele poderia ser melhor. É isso que nos provoca, nos empurra em direção ao perigo.

De repente nos dá na telha de querer fazer algo nosso. Mãos na massa, vem a decepção. Parece que nada que produzimos é digno do Instagram. Dá vontade de desistir, voltar pra vida de consumidor.

Mas se você insiste, uma hora vai sentir a alegria de dizer: fui eu que fiz. Uma ideia que tive tomou corpo e me fez feliz.

Uma ideia é como um filho. Tem seus defeitos, suas particularidades. Segue caminhos que nem sempre pudemos prever. Mas dá um orgulho danado vê-los andando com as próprias pernas.

Vai existir quem diga que não é assim. Vai insistir que é desperdício de tempo. E que tá bom do jeito que sempre fizemos.

Mas não desanime, não. Quem parece feliz no paraíso plastificado é porque tem medo de entrar naquele cômodo bagunçado, sabe? Não é problema seu.

O negócio é saber o que é importante. A vontade de mudar o mundo. Ou só mesmo o desejo de fazer que nos desafie. O resto a gente tira de letra. Confie.

Porque numa vida cheia de móveis planejados tudo é muito quadrado. Não é um ambiente feito para a vida, que tem que acontecer longe dali.

Então vão em frente, meus queridos. Não é preciso licença de ninguém para criar o seu caminho. Vai ser diferente do esperado, mas que é que já salvou o mundo sem perder o rebolado?